A Eletrobras abre na semana que vem propostas para contratar o reinício das obras da usina nuclear Angra 3, paradas desde 2015. O contrato é parte de uma estratégia para agilizar o projeto enquanto o governo define o modelo para atração de parceiro privado.
Nesta fase, a empresa pretende avançar com obras civis e a montagem eletromecânica dos equipamentos. Para isso, foram separados R$ 3,5 bilhões, dos quais R$ 1 bilhão já foram adiantados à subsidiária Eletronuclear em 2020.
O prazo para entrada em operação da usina, que tem capacidade para gerar 1,4 mil MW (megawatts), é novembro de 2026. Atualmente, 65% das obras estão concluídas.
"Exatamente para não perder esse prazo é que optamos por acelerar o caminho crítico [das obras]" disse a diretora financeira da empresa, Elvira Presta, em entrevista nesta quinta-feira (13) para detalhar o lucro de R$ 1,6 bilhão registrado pela companhia no primeiro trimestre.
A terceira usina do complexo nuclear de Angra dos Reis, no litoral sul do Rio de Janeiro, já consumiu R$ 8,5 bilhões e ainda demanda outros R$ 18,5 bilhões. Para levantar os recursos, o governo estuda como atrair um sócio privado ao projeto.
Como a energia nuclear é monopólio estatal por lei, a ideia é atrair um sócio estratégico para a Eletronuclear. O modelo está sendo desenvolvido pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Em entrevista à rádio BandNews na quinta (12), o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou que a construção de usinas nucleares poderiam minimizar a crise provocada pela falta de chuvas sobre os reservatórios das hidrelétricas brasileiras.
"Se tivéssemos as usinas nucleares previstas, não estaríamos passando por isso", disse ele, relembrando plano de construção de seis novas centrais nucleares no Brasil, desenvolvido durante os governos petistas mas que nunca saiu do papel.
As obras de Angra 3 foram paralisadas após descoberta do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, que levou à prisão executivos da Eletronuclear, incluindo o almirante Othon Pinheiro da Silva, ex-presidente da companhia.
Usinas térmicas, como as nucleares, independem de condições climáticas e são usadas para poupar água nos reservatórios da hidrelétricas em períodos de poucas chuvas. No momento, toda a capacidade térmica do país está em uso, para tentar minimizar os estragos feitos pela estiagem do último verão, a pior da história.
O cenário levará à cobrança de taxas adicionais na conta de luz, por meio das bandeiras tarifárias, durante boa parte do ano, na avaliação de especialistas. Também deve provocar repiques nas tarifas no momento das revisões tarifárias das distribuidoras de energia.
A situação é tão crítica que executivos do setor avaliam que, não fosse a queda de demanda provocada pela pandemia, o país correria o risco de racionamento já em 2020. E alertam para o risco de que a oferta de energia se torne gargalo à retomada econômica caso a seca persista no próximo verão.
O presidente da Eletrobras, Rodrigo Limp, afirmou nesta quinta que a situação tem pouco impacto sobre as finanças da estatal, já que a maior parte de suas usinas opera sob o sistema de cotas e, por isso, não assume riscos hidrológicos.
Geradores hidráulicos com operações no mercado livre estão mais vulneráveis: quando são obrigados pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) a poupar água nos reservatórios, têm que comprar energia mais cara de outras empresas para honrar seus contratos de fornecimento.
Essa situação já levou a um processo de judicialização no setor, iniciado em 2015 e só agora sendo resolvido pelo governo, com negociações para estender o prazo de concessão das usinas mais afetadas.
O projeto de privatização da Eletrobras prevê que suas usinas passem a operar no mercado, em um processo conhecido como descotização. Assim, diz Limp, a empresa terá que procurar mecanismos de proteção contra períodos de pouca chuva.
Um deles é justamente a ampliação de sua capacidade térmica, que garante receita quando as hidrelétricas estiverem gerando menos. Os aportes na usina representam um terço do plano de investimentos da empresa para os próximos cinco anos.
Com melhor receita em seus ativos de transmissão após revisão tarifária em 2020, o lucro líquido da Eletrobras saltou 31% frente ao primeiro trimestre de 2020. A companhia somou receita operacional líquida de R$ 8,2 bilhões entre janeiro e março, alta de 8% em base anual.
Na entrevista, Limp disse que o desempenho é resultado de estratégia de redução de custos e venda de ativos iniciada pela gestão anterior, de Wilson Ferreira Lima, que começou a preparar a empresa para a privatização e decidiu aceitar convite da BR Distribuidora no início do ano.
A posse de Limp, na semana passada, se transformou em um ato em defesa do processo de capitalização da estatal, com o qual o governo Jair Bolsonaro (sem partido) espera arrecadar até R$ 100 bilhões. A ideia é emitir novas ações e vendê-las apenas a investidores privados, reduzindo a fatia estatal na companhia.
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