Descrição de chapéu Mercado imobiliário

Estúdios dão lugar a imóveis com espaço para escritório e área para entregas

Construtoras já começam a adaptar produtos para o novo gosto do consumidor, que passa mais tempo em casa

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São Paulo

O isolamento social imposto para combater a pandemia de Covid-19 aumentou o interesse do brasileiro por imóveis maiores. Os sinais da mudança estão pelo mercado.

Na imobiliária Lopes, a procura por casas no site da empresa cresceu 189% entre os meses de março de 2020 e deste ano. Na imobiliária AoCubo, as vendas de apartamentos de dois e três quartos em São Paulo cresceram 120% de janeiro a abril deste ano, o dobro da alta registrada pelos imóveis tradicionalmente mais procurados por investidores, de até R$ 300 mil e próximos do metrô.

A tendência também foi registrada pela plataforma QuintoAndar, na qual a procura por apartamentos do tipo estúdio caiu 37% no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2020. O filtro de procura "perto do metrô ou trem" teve redução de 56%.

O ciclo da construção de novos empreendimentos leva alguns anos, então a oferta disponível hoje em São Paulo ainda segue os parâmetros e gostos de antes da pandemia. Em 2020, por exemplo, 77% dos imóveis lançados na capital tinham até 45 m² (metros quadrados) de área útil, sendo 24% com até 30 m², de acordo com o Secovi. Mas as construtoras já buscam se adaptar.

A incorporadora Trisul ampliou a área dos empreendimentos destinada ao delivery, com a inclusão de armários. Os salões de festa também estão mudando, para permitir uso mais intensivo.

"Começamos a projetar essas áreas de forma a serem mais versáteis, podem funcionar como coworking nos dias de semana, dando apoio maior aos apartamentos", diz Lucas Araújo, superintendente de marketing da construtora.

Em apartamentos com mais espaço, uma área de trabalho se tornou indispensável e já aparece nos apartamentos decorados da construtora.

O mesmo fez a Gafisa, que adotou espaço de coworking, área própria para armazenar entregas, e passou a trabalhar com imóveis maiores, com sugestão de escritório na planta.

"Quando a pandemia começou, olhamos para todos os nossos projetos pensando no comportamento das pessoas, e fizemos adaptações naqueles em que era possível", diz Guilherme Benevides, vice-presidente de operações.

A analista de logística Laís Cabral, 29, e o consultor de BI (business inteligence) Fernando dos Reis, 34, fazem parte do grupo de pessoas que perceberam, com a pandemia, que seus imóveis não atendiam mais às suas necessidades.

Eles dividiam com um amigo um apartamento alugado, de cerca de 50 m², na Vila Madalena. Reis já trabalhava de casa, mas Cabral e o outro morador passavam o dia fora. Quando todos começaram a trabalhar de casa, ficou apertado.

"Não havia lugar para trabalhar. A convivência intensa dos três começou a ser um fator de estresse", diz Cabral.

Eles começaram a buscar outro imóvel no mesmo bairro em setembro passado, mas viram que o valor seria alto demais. A saída foi procurar no entorno da linha verde do metrô, já que o trabalho de Cabral, na região da av. Paulista, deve voltar a ser presencial.

Mulher em varanda segurando computador, sentada, e home em pé, em janela que dá para a varanda, também com computador
Laís Cabral e Fernando dos Reis no apartamento na Vila Prudente para onde se mudaram em busca de mais espaço - Karime Xavier/Folhapress

O casal queria um imóvel maior, com dois quartos, para montar um escritório, e também com varanda.

"O outro apartamento era escuro e pouco arejado, queríamos algo mais aberto, para ter ar circulando", diz Reis.

Em fevereiro, eles se mudaram para um imóvel de 70 m², dois quartos e varanda espaçosa, na Vila Prudente, zona leste da capital.

A varanda, que eles buscavam, é um dos itens que passou a ser mais valorizado com a pandemia. Como explica José Augusto Viana Neto, presidente do Creci-SP (conselho dos corretores de imóveis), essa já era uma característica da planta dos apartamentos que vinha sendo muito utilizada pela construção civil, porque sua metragem não conta como área construída, o que barateia os custos.

"Para os moradores, dá para fechar a área com vidro e ganhar um cômodo", afirma.​

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