Descrição de chapéu Financial Times

Ex-chefe da Danone diz que disputa pelo poder causou sua queda

Emmanuel Faber aponta para líderes do passado em busca de mais influência

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Leila Abboud Billy Nauman
Paris e Nova York | Financial Times

Emmanuel Faber, ex-presidente executivo da Danone, disse que uma disputa pelo poder no conselho da companhia levou à sua demissão, em março, e não uma campanha conduzida por fundos de hedge ativistas ou sua defesa ferrenha de que as empresas precisam agir com relação a questões ambientais e sociais.

Em sua primeira entrevista à imprensa internacional desde que deixou o cargo, Faber, 57, descreveu meses de disputas internas, sobre assuntos como seu plano para reorganizar a companhia francesa de bens de consumo em linhas mais geográficas do que de produtos, e demitir duas mil pessoas.

Com a piora nos resultados financeiros da Danone por causa da pandemia, alguns conselheiros se opunham à estratégia e queriam a saída de Faber, haviam dito pessoas informadas sobre o assunto ao Financial Times, em conversas anteriores.

Os oponentes de Faber usaram seu ativismo quanto a questões sociais, ambientais e de governança como uma arma conveniente, mas a disputa na verdade não girava em torno disso, disse Faber.

Homem de terno sorrindo
Emmanuel Faber, ex-presidente executivo da Danone - Geoffroy Van der Hassaelt/AFP

“As questões ambientais, sociais e de governança foram a desculpa que algumas pessoas encontraram para jogar esse jogo”, ele disse.

“O fato é que os ativistas não tinham plano e, sem apoio dentro do conselho, não iriam a lugar algum. Os investidores ativistas foram autorizados a agir por razões relacionadas a uma situação na qual o conselho não estava funcionando propriamente”.

Embora Faber não o tenha mencionado diretamente, ele descreveu uma disputa pelo poder com Franck Riboud, ex-presidente executivo e do conselho da Danone, que selecionou Faber para sucedê-lo em 2014.

Ainda que o título oficial de Riboud seja o de “presidente honorário” do conselho, sua influência sobre a empresa é imensa, já que ele é filho do fundador espiritual da Danone, Antoine Riboud. O pai dele não só fez da Danone uma potência mundial mas também estabeleceu a cultura distintiva da companhia, em um discurso de 1972 no qual ele argumentava que as empresas têm a responsabilidade de promover o progresso social “para além do portão da fábrica ou da porta do escritório”.

“Fica bem claro que líderes anteriores desejavam reconquistar uma influência maior”, disse Faber. “Os motivos [para sua derrubada] pouco tiveram a ver com questões reais de desempenho”.

Riboud não foi localizado para comentar, e a Danone preferiu não fazê-lo.

As tensões surgiram no final do ano passado quando Faber anunciou um plano de reestruturação chamado “Local First”, o que veio seguido pela saída inesperada de Cécile Cabanis, por muito tempo a vice-presidente de finanças da companhia, na mais recente de uma série de demissões de executivos importantes.

A crise veio a público em janeiro quando o fundo de investimento ativista Blue Bell Capital adquiriu uma pequena participação acionária na empresa e começou a apelar publicamente por mudanças, entre as quais a saída de Faber. A campanha mais tarde recebeu a adesão do fundo Artisan Partners, dos Estados Unidos.

O conselho, liderado pelo seu novo presidente Gilles Schnepp, ex-presidente do grupo industrial Legrand, agora está em busca de um novo presidente-executivo. Mas Schnepp prometeu que manteria o plano “Local First” de Faber, e por isso o novo líder terá espaço limitado para determinar um novo rumo.

A Danone também precisa honrar as obrigações que assumiu a fim de garantir sua classificação legal como “entreprise à mission”, ou companhia com propósitos sociais, uma das primeiras empresas na França a fazê-lo. Faber defendeu essa mudança como essencial para criar uma nova forma de governança que permita que a Danone sirva a um grupo de interessados mais amplo, tais como agricultores, clientes e empregados, e não apenas aos interesses dos acionistas.

Fachada de fábrica com logo da Danone
Fábrica da Danone em Chekhov, na região de Moscou, na Rússia - Yuri Kadobnov/AFP

A mudança recebeu aprovação esmagadora em uma votação pelos acionistas em junho de 2020. Faber declarou, na época, que “derrubamos a estátua de Milton Friedman, hoje”, em referência ao renomado economista americano defensor do livre mercado.

Mas embora os acionistas ativistas tenham criticado Friedman por não gerar resultados para os investidores, ele não vê sua sua derrubada como sinal de que as ideias de Friedman venceram.

Em lugar disso, acredita que a Danone continuará seu trabalho em áreas como a saúde do solo e a redução nas emissões de poluentes, e que mais empresas incorporarão aos seus objetivos de gestão valores vinculados aos seus propósitos sociais.

“Veremos que a ‘entreprise à mission’ veio para ficar. Estou absolutamente convicto disso”, ele disse, acrescentando que o sistema na verdade pode representar uma força estabilizadora para as companhias.

Outros presidentes-executivos não devem temer reações adversas de investidores ativistas caso decidam privilegiar os propósitos sociais, ao lado do lucro, ele disse. “Basta garantir que o conselho os acompanhe”.

Tradução de Paulo Migliacci

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