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Importador brasileiro teme alta de preços com suspensão de carne argentina

Exportadores devem ganhar pouco com decisão sobre exportação de carne e soja

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São Paulo

Os efeitos para o exportador brasileiro da suspensão de vendas de carne e soja da Argentina devem ser limitados, segundo analistas ouvidos pela Folha. Por outro lado, os mais preocupados com a decisão são os importadores que dependem da carne argentina para abastecer restaurantes nacionais com o produto.

Na segunda-feira (17), o governo argentino anunciou que suspendeu as vendas de carne bovina ao exterior por 30 dias, enquanto define medidas para frear o aumento de preços no mercado interno. Em resposta à decisão, os produtores de carne anunciaram uma interrupção da comercialização por uma semana.

Ao mesmo tempo, as exportações de grãos foram paralisadas, devido a uma greve de trabalhadores portuários para exigir a inclusão da equipe como grupo prioritário para vacinação contra a Covid-19.

Peça de carne argentina em frigorífico de importadora
Peça de carne argentina, que deve subir de preço - Luiz Servadio/Divulgação

Para importadores brasileiros, a decisão argentina é motivo de preocupação. De acordo com Luiz Servadio, gerente comercial da importadora Três Passos Alimentos, já havia um cheiro no ar de que teria alguma mudança no mercado de carnes argentino desde a semana passada, mas a decisão pegou os importadores de surpresa.

Em contato com fornecedores, a empresa descobriu que os contratos que tinha feito antes do dia 14 estavam liberados. A importadora tinha três cargas já contratadas, que devem chegar ao Brasil na semana que vem. Ele teme, porém, um aumento de preços na carne importada tipo angus, já que a demanda pelo produto aumentou com a reabertura dos restaurantes após a flexibilização das medidas de distanciamento no Brasil.

"Se faltarem cortes argentinos, tememos que alguns produtos nacionais também subam. Podemos substituir parte das importações por carne uruguaia, mas não duvido que o produto de lá aumente de preço, com a maior procura", diz Servadio.

Segundo outra importadora ouvida pela reportagem, vai ser preciso rever a estratégia de vendas, agora que a carne argentina foi retirada do portfólio. Uma das saídas também deve ser procurar por cortes no Uruguai, ainda que leve tempo para habilitar a importação de frigoríficos estrangeiros –e diversos clientes são fiéis aos produtos argentinos.

Nas importadoras, o quilo do bife de chorizo argentino (contrafilé) custa hoje cerca de R$ 70, enquanto o uruguaio sai por R$ 65. As empresas terão de se reprogramar e temem prejuízos, em uma época do ano em que a venda de carnes de fora costuma ser melhor. Segundo dados oficiais, o Brasil comprou pouco mais US$ 19 milhões em carne bovina argentina desossada este ano.

Por outro lado, para os exportadores brasileiros, os efeitos da decisão do governo argentino devem ser limitados. Na avaliação do ex-secretário nacional de Comércio Exterior Welber Barral, a suspensão das exportações argentinas até pode beneficiar as vendas da carne brasileira ao exterior, mas o ganho tende a ser marginal.

"A depender do mercado, as empresas ainda precisam de certificação sanitária prévia", disse.

No caso de países árabes, segundo Barral, é necessária uma certificação específica, para cumprir os preceitos do produto halal (preparado de acordo com o ritual islâmico). O especialista complementa que para alguns frigoríficos pode haver um incremento nas exportações, mas é preciso considerar que o Brasil já exporta oito vezes mais carne que a Argentina.

O presidente da AEB (Associação do Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, também diz acreditar que não haverá ganhos relevantes para os exportadores brasileiros de carne. "Não existe grande disponibilidade de carne no mercado, e a quantidade exportada pela Argentina é de um tipo diferente e de preço mais alto que a brasileira."

Também é cedo para descartar um aumento da quantidade de carne brasileira vendida para a China, o que faria o preço da carne no Brasil subir.

"Poderá haver um direcionamento para as compras de carnes brasileiras e consequentemente uma valorização de preços, no curto e médio prazos", avalia o pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) Thiago de Carvalho.

No caso, da soja, Castro também avalia que não haverá impacto para os produtores brasileiros e que o volume de grãos vendidos pela Argentina é pequeno, quando comparado ao Brasil e aos Estados Unidos.

"Além disso, a soja brasileira para embarque em 2021 já está vendida, só falta ser embarcada. Não haverá impacto positivo ou negativo", avalia.

Barral concorda que os efeitos sobre o estoque de soja brasileira também devem ser limitados.

De acordo com dados da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), as exportações de carne bovina somaram US$ 2,5 bilhões de janeiro a abril. Já a partir de dados da Secretaria Especial de Comércio Exterior, do Ministério da Economia, as de soja somaram US$ 13,4 bilhões no período.​

Procurada, a Abiec não quis se pronunciar sobre a suspensão das exportações de carnes argentinas e a Aprosoja não havia se pronunciado.

Em comunicado, a Marfrig disse que suas operações na Argentina representaram 3,2% da receita líquida da empresa no primeiro trimestre. "No mercado doméstico, a Marfrig detém as marcas Paty e Vienissima que lideram o segmento de hambúrguer e salsicha. O impacto direto se limita a 1,3% da receita representada pelas exportações argentinas no período."

Segundo a Minerva, a empresa aguarda detalhes das medidas propostas pelas autoridades argentinas e a operação no país representa cerca de 10% da receita consolidada. "Mesmo com a suspensão, a Minerva Foods seguirá atendendo aos clientes internacionais por meio de suas operações no Uruguai, Paraguai, Brasil e Colômbia", disse, em comunicado.

Já a JBS (dona da Friboi, entre outras) informou que não iria se pronunciar sobre o assunto.

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