Descrição de chapéu Financial Times

Irã proíbe mineração de bitcoin enquanto cortes de energia afetam país

Presidente Rowhani ordena repressão no momento em que boom da criptomoeda prejudica a produção de eletricidade

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Najmeh Bozorgmehr
Teerã | Financial Times

O Irã proibiu a mineração de criptomoedas por quatro meses, já que a atividade, que requer uso intensivo de energia, causou blecautes de eletricidade em todo o país.

Nas últimas semanas, indústrias e domicílios em todo o Irã passaram por blecautes de até seis horas por dia. As quedas recorrentes de energia levaram enxadristas iranianos a perderem partidas em um campeonato asiático disputado online.

“Todo mundo está encontrando um canto onde minerar bitcoins e criptomoedas”, declarou o presidente iraniano Hassan Rowhani.

“Quem fizer isso, a partir de hoje, estará realizando um trabalho ilegal. Mesmo aqueles que estavam autorizados [a minerar bitcoins] não têm mais autorização até que deixemos esse problema [de cortes de energia] para trás”, afirmou.

Representações de bitcoin em uma loja de criptomoeda - Ozan Kose - 24.set.20/AFP

A economia do Irã foi fortemente prejudicada pela decisão unilateral do presidente Donald Trump de retirar os Estados Unidos do acordo nuclear que Teerã assinou com as potências mundiais, e de impor sanções paralisantes ao país.

A demanda por moedas digitais cresceu no Irã nos últimos meses porque as pessoas estão tentando proteger suas economias contra uma inflação que chegou aos 46,9% anuais, contra a queda do mercado de ações e contra a estagnação nos preços das casas.

Rowhani ordenou na quarta-feira (26) que os ministérios da Indústria, Telecomunicações, Energia e Interior reprimam as criptomoedas. Ele disse que o consumo de eletricidade havia crescido em 20% no ano passado, ainda que não tenha esclarecido que proporção do aumento foi causada pelas criptomoedas. Essa é a segunda vez que o Irã busca reprimir as moedas digitais.

A mineração de criptomoedas decolou no Irã em parte por conta da disponibilidade de energia a preços fortemente subsidiados, para um setor que emprega energia intensivamente. Em teoria, é possível pagar por produtos importados com bitcoins. Mas as sanções americanas bloqueiam qualquer transação bancária com o Irã e a tecnologia blockchain registra os detalhes das transações, o que torna difícil para operadores iranianos usar a criptomoeda para escapar das sanções.

“Não fomos capazes de estabelecer conexões com operadores confiáveis de câmbio, por causa das sanções e de nossa falta de experiência”, disse um empreendedor próximo do regime iraniano.

Em 2018, o Departamento do Tesouro americano identificou dois endereços de moeda digital e os associou a dois indivíduos iranianos que supostamente ajudavam no câmbio de pagamentos de resgates em bitcoin para o rial iraniano. O Tesouro anunciou que “perseguiria ativamente o Irã e outros regimes renegados que tentam explorar as moedas digitais”.

A despeito disso, investidores internacionais, entre os quais a China, investiram na mineração de criptomoeda no Irã. Uma operação dirigida por chineses em Rafsanjan, no sul do Irã, é estimada como a maior do país.

Empresas polonesas, indianas e turcas também receberam permissão para minerar bitcoin no Irã, disse Majid-Reza Hariri, presidente da Câmara de Comércio Irã-China, a agências de notícias locais na terça-feira (25).

Os analistas estão divididos sobre se a mineração de bitcoin realmente pode ser culpada pelos cortes de eletricidade. A mineração de bitcoin, incluindo operações ilegais, responde por menos 10% do consumo de eletricidade no país. Eles também imputam a culpa pela escassez de eletricidade à severa seca deste ano.
Tampouco está claro se será fácil aplicar as restrições.

Na semana passada, o Ministério da Energia tentou fechar uma instalação de mineração de criptomoedas mas seu pessoal foi recebido a tiros. Enquanto isso, a demanda continua alta.

“Minha amiga vendeu seu apartamento no ano passado e comprou bitcoins, multiplicando seu dinheiro em um ano. Acho que eu deveria correr o mesmo risco”, disse Anousheh, 35, funcionária de uma editora.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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