Brasil cria 120,9 mil vagas com carteira em abril, mês de agravamento da Covid

Apesar de resultado positivo, mercado de trabalho segue desaquecendo

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Brasília

Foram criadas 120.935 vagas com carteira assinada no país em abril, apesar do agravamento da pandemia e implementação de medidas de restrição a algumas atividades econômicas no mês.

O saldo é resultado de 1,381 milhão de contratações e 1,260 milhão de desligamentos, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) que foram divulgados nesta quarta (26) pelo Ministério da Economia.

Apesar da abertura de vagas no mês, os números mostram um desaquecimento do mercado de trabalho, pois em janeiro foram criados 261,4 mil novos contratos e em fevereiro, 398,2 mil. Desde março, com o aumento no número de casos e de mortes de Covid-19, o resultado foi menor, com abertura de 177,3 postos de trabalho em março e 120,9 mil, em abril.

"É evidente que o ritmo de criação de empregos no mês de abril foi mais lento. Foi o mês em que atingimos o pico de mortes e maior impacto dessa segunda onda da Covid-19", disse o ministro Paulo Guedes (Economia), ao comentar os dados do Caged.

No acumulado de janeiro a abril, o saldo no mercado de trabalho formal brasileiro é positivo, com 957,8 mil novas vagas num período de crise provocada pela pandemia.

País cria 120,9 mil vagas com carteira assinada em abril - Gabriel Cabral - 22.jul.19/Folhapress

No mesmo período do ano passado, haviam sido fechados 763,2 mil empregos com carteira assinada, pois, em março e abril de 2020, o impacto da chegada do novo coronavírus resultou no encerramento de mais de 1 milhão contratos de trabalho formais.

Guedes destacou essa diferença no comportamento nos dados do mercado formal. Segundo ele, isso é resultado da resiliência da economia, dos efeitos dos programas de combate à crise lançados pelo governo e também da vacinação contra o coronavírus.

Para tentar evitar demissões em massa diante da crise, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) editou medidas provisórias para que regras trabalhistas sejam flexibilizadas novamente diante do agravamento da pandemia.

Com isso, foi recriado o programa que permite o corte de jornada e salários de trabalhadores da iniciativa privada, além da suspensão temporária de contratos.

O saldo de abril (criação de 120,9 mil vagas) reflete o desempenho positivo em todos os cinco grandes setores da economia brasileira. O resultado foi puxado pelo setor de serviços, que abriu 57,6 mil vagas de emprego no mês.

Em seguida figuram construção (22,2 mil), indústria (19,9 mil novos postos), agropecuária (11,1 mil vagas abertas) e, por último, comércio (10,1 mil).

Numa análise mais detalhada, apenas algumas atividades econômicas apresentaram encerramento de contratos em abril, como alojamento e alimentação (- 22,9 mil) e artes, esporte e recreação ( - 1,6 mil).

Com isso, as empresas de alojamento e alimentação que vinham se recuperando em 2021 passaram a apresentar corte de vagas no acumulado de janeiro a março. São quase 31,5 mil a menos.

Entre os estados, 23 das 27 unidades da federação registraram abertura de trabalho formal. São Paulo, mais uma vez, foi o estado que mais gerou vagas, com 30,2 mil em abril.

Para Renan Pieri, professor de economia da FGV, a diferença entre o Caged de abril de 2021 e do ano passado se deve à decisão de empresas que já estavam numa situação difícil antes da pandemia e, com a chegada da crise, não conseguiram sobreviver ao impacto e demitiram funcionários ou fecharam as portas.

Mas o desempenho do mercado formal de trabalho, segundo ele, dependerá do comportamento da pandemia. “A geração de emprego neste ano vai estar diretamente ligada ao controle da doença. Se o controle for perdido e forem necessárias novas medidas [de combate ao coronavírus], a gente vai ter mais dificuldade para criar vagas e podemos até mesmo perder empregos no ano”.

A abertura de 120,9 mil contratos de trabalho com carteira assinada em abril ficou abaixo da expectativa do economista da XP, Rodolfo Margato. As projeções apontavam para um saldo positivo perto de 155 mil vagas no mês.

“O agravamento da pandemia a partir de fevereiro --e subsequente aperto das restrições de mobilidade-- é a principal razão por trás do arrefecimento dos resultados do Caged nos últimos dois meses”, avalia Margato.

Para ele, a perspectiva é que, em função da reabertura da economia e do programa de manutenção de empregos, a criação de vagas se acelere nos próximos meses. A projeção do economista da XP é que, em 2021, seja registrado saldo positivo de 1,75 milhão de novos contratos com carteira assinada no país.

Pieri e outros especialistas, porém, alertam que os dados do Caged precisam ser analisados com ressalvas desde o ano passado, quando houve mudança na metodologia.

Desde janeiro do ano passado, as informações vêm do eSocial, sistema de escrituração que unificou diversas obrigações dos empregadores. Além de reunir mais informações na mesma base de dados, o novo Caged tornou obrigatório informar a admissão e demissão de empregados temporários. Antes, essa comunicação era facultativa.

“Na prática, os dados bons levam os críticos a buscarem desqualificar os meios, e não os resultados”, afirmou o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco.

Em abril, o salário médio de admissão formal foi de R$ 1.855,52. Portanto, acima do patamar de março (R$ 1.809,50), mas menor que o de abril do ano passado (R$ 1.952,37). Os dados foram corrigidos pela inflação (IPCA).

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