A Previ, bilionário fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, anunciou nesta terça-feira (25) a renúncia de seu presidente, José Maurício Pereira Coelho. O mandato do executivo venceria em maio de 2022, mas ele ficará no cargo apenas até 14 de junho.
A decisão foi anunciada pouco menos de dois meses após a posse de Fausto Ribeiro no comando do banco estatal, em processo visto pelo mercado como interferência do presidente Jair Bolsonaro, que culminou com a renúncia de dois membros do conselho de seu administração.
Na Previ, a avaliação é que José Maurício, como o executivo é conhecido, vinha sendo pressionado a deixar o cargo para abrir vaga para acomodar aliados do governo. Ele ficou três anos à frente da Previ e tinha ainda um ano de mandato pela frente.
A conturbada troca de comando no BB já havia provocado duas baixas na cúpula do banco, com as renúncias de Carlos da Costa André e Mauro Ribeiro Neto, que ocupavam, respectivamente, as vice-presidências de Finanças e Relações com Investidores e Corporativa.
O presidente anterior, André Brandão, renunciou no dia 18 de março, sob pressão do governo após anunciar o fechamento de 112 agências e um programa de desligamento de 5 mil funcionários.
Logo ao assumir, Ribeiro tentou acalmar os críticos da interferência do governo ao afirmar, em carta, ter o compromisso de oferecer retornos adequados aos acionistas. No texto frisou ainda que atuará de forma alinhada às diretrizes do governo federal.
Na cúpula da Previ, há o receio de que a vaga de José Maurício seja usada para agraciar algum partido aliado do governo no Congresso. A fundação gere três planos de aposentadoria, com cerca de 196 mil associados e patrimônio de R$ 252 bilhões.
O estatuto da fundação, porém, impõe limites às nomeações: o presidente, por exemplo, precisa ser filiado ao fundo por dez anos, no mínimo. Além disso, garante aos pensionistas metade das vagas na diretoria e nos conselhos internos que apoiam a gestão.
As regras de governança da Previ ajudaram a fundação a passar com menos perdas pelo período de intervenção petista nos fundos de pensão, que provocou perdas bilionárias nas fundações que gerem a aposentadoria dos funcionários da Caixa Econômica Federal, da Petrobras e dos Correios.
No final de 2018, seis meses após sua chegada, José Maurício conseguiu reverter o déficit do ano anterior. Nos anos seguintes, os resultados foram superavitários, especialmente no principal plano de aposentadoria, que conta com R$ 230 bilhões aplicados.
Houve ganhos mesmo durante a pandemia. Pelas projeções, este ano a Previ deve ampliar o resultado positivo, fechando com superávit de R$ 20 bilhões, melhor desempenho desde 2013, quando os fundos de pensão de estatais mergulharam em uma crise de má alocação de recursos que culminou no envolvimento deles em operações da Polícia Federal.
Em comunicado sobre a renúncia, a Previ elogiou a gestão do executivo. "Nos quase três anos à frente da Entidade, José Maurício conduziu a Previ com segurança por cenários desafiadores, com resultados positivos durante toda a sua gestão."
José Maurício ocupava a presidência da BB Seguridade antes de assumir o comando da Previ. Sua renúncia se soma a uma série de mudanças em estatais em movimentos classificados pelo mercado como interferências indevidas do governo.
Além do Banco do Brasil, a Petrobras passou também por um conturbado processo de troca de comando em março, quando Bolsonaro decidiu substituir Roberto Castello Branco pelo general Joaquim Silva e Luna na presidência da companhia.
Castello Branco ganhou a antipatia do presidente da República após dizer que a insatisfação dos caminhoneiros com o elevado preço do diesel não era um problema da empresa. A maneira como a troca foi anunciada derrubou o valor de mercado da estatal e é hoje investigada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
Na Eletrobras, a troca de comando também gerou insatisfação em investidores pela nomeação do ex-secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Rodrigo Limp, desconsiderando sugestões de consultoria contratada para buscar um novo nome no mercado.
Limp substituiu Wilson Ferreira Junior, que estava na empresa desde o governo Michel Temer e decidiu aceitar proposta para comandar a BR Distribuidora. Reclamando de problemas de governança, o investidor Mauro Cunha, um dos conselheiros da estatal, decidiu renunciar ao cargo.
Em maio, a Caixa Econômica Federal decidiu intervir na Funcef, o fundo de pensão do banco, pedindo a troca de três diretores, inclusive o presidente do conselho da fundação, que administra R$ 80 bilhões em aplicações para garantir as aposentadorias privadas dos funcionários.
Na Funcef desde 2016, Renato Villela presidia a fundação desde fevereiro de 2019. Ele será substituído pelo atual vice-presidente de Riscos da Caixa, Gilson Costa de Santana, funcionário desde 2007 e que foi gerente de previdência da Funcef.
RAIO-X DA PREVI
Plano 1
Voltado para funcionários do Banco do Brasil empossados até 23 de dezembro de 1997, tem patrimônio de R$ 230 bilhões, e 110 mil associados
Plano Futuro
Com patrimônio de R$ 22 bilhões, tem 84 mil associados, entre funcionários do BB empossados após 1997 e o quadro de pessoal da Previ
Plano família
Criado por José Maurício, é voltado a associados da Previ e seus familiares, com 1,8 mil associados e reservas de R$ 70 milhões
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