Joe Biden repreenderá Vladimir Putin pelo ataque de hackers à JBS, maior processadora mundial de carne bovina, quando os dois presidentes se reunirem, este mês, e os Estados Unidos não descartam uma retaliação contra o perpetrador, que as autoridades suspeitam seja uma gangue criminosa russa, declarou a Casa Branca nesta quarta-feira (2).
A companhia sediada em São Paulo sofreu um ataque de “ransomware” que forçou o fechamento de boa parte de suas operações na América do Norte e Austrália e interrompeu o trabalho de milhares de seus empregados nesta semana. O incidente despertou temores sobre a segurança do suprimento alimentar dos Estados Unidos.
De acordo com informações transmitidas a representantes da Casa Branca pela companhia, o ataque foi lançado por uma organização criminosa conhecida, provavelmente baseada na Rússia.
A JBS reiniciou nesta quarta a maior parte de suas operações na América do Norte, embora pelo menos um turno de trabalho em sua unidade principal de processamento de carne bovina, em Greeley, Colorado, tenha sido cancelado, de acordo com um representante sindical.
A Casa Branca informou que o presidente planeja mencionar suas preocupações quanto ao ataque durante a conferência de cúpula entre os dois líderes em Genebra, em 16 de junho.
“Antecipamos que essa seja uma das questões que o presidente vai discutir com o presidente na conferência”, disse Jen Psaki, a secretária de imprensa da Casa Branca, acrescentando que “países responsáveis não abrigam criminosos de ‘ransomware’”.
Perguntada se os Estados Unidos estavam considerando lançar um ataque cibernético contra aqueles que considera responsáveis pelo crime, Psaki disse que “abrigar entidades criminais que estão causando danos a infraestrutura crítica nos Estados Unidos não é aceitável. Vamos mencionar o assunto, e não excluímos qualquer opção de resposta”.
Alguns especialistas americanos em segurança cibernética instaram o governo Biden a ser mais agressivo no combate ao crescente número de ataques de “ransomware” contra empresas essenciais, como a operadora de oleodutos Colonial, que teve de paralisar suas operações temporariamente no mês passado por conta de um ataque de hackers que forçou a companhia a pagar um resgate de mais de US$ 4 milhões.
Chris Krebs, que foi diretor da Agência de Segurança Cibernética e de Infraestrutura dos Estados Unidos, disse ao Financial Times alguns meses atrás que as forças armadas americanas deveriam lançar ataques cibernéticos contra as gangues suspeitas de “ransomware”.
O Kremlin respondeu a acusações de envolvimento russo no ataque à JBS declarando não ter informações sobre quem pode estar por trás do ataque, e acrescentando que responderia a qualquer pedido oficial de assistência.
“Não sei coisa alguma sobre isso”, disse Dmitry Peskov, porta-voz de Putin, a jornalistas. “Certos contatos estão sendo mantidos pelos canais diplomáticos. Se os americanos trouxerem quaisquer acusações, elas certamente serão processadas com bastante rapidez”.
A JBS controla cerca de 20% do mercado de processamento de carne nos Estados Unidos. O ataque cibernético forçou a companhia a suspender as operações de sua fábrica em Greeley e de uma fábrica em Cactus, Texas. A empresa também cancelou turnos de trabalho em uma fábrica de processamento de carne em Brooks, na província de Alberta, Canadá, e em múltiplos locais na Austrália.
O setor de processamento de carne depende de software e sistemas computadorizados para traçar origens e separar animais, e também a fim de manter registros para fins regulatórios.
Tradução de Paulo Migliacci
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