Descrição de chapéu The New York Times

Dois americanos admitem que orquestraram a espetacular fuga de Ghosn do Japão

Micheal Taylor, ex-integrante das forças especiais do exército americano, e seu filho ajudaram a elaborar plano para o antigo presidente da Nissan ir para o Líbano

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The New York Times

Dois americanos, pai e filho, se admitiram culpados em um tribunal de Tóquio na segunda-feira (14) por ajudar Carlos Ghosn, ex-presidente da Nissan, a fugir do Japão, onde ele enfrentava acusações por delito financeiro.

Michael Taylor, 60, ex-integrante das forças especiais do exército americano, e seu filho Peter Maxwell Taylor, 28, se apresentaram diante do mesmo tribunal em Tóquio no qual Ghosn deveria ser julgado antes de sua ousada fuga para o Líbano em dezembro de 2019.

Ao deixar o Japão, Ghosn escapou de um sistema de justiça que ele afirmou estar determinado a destruí-lo. No tribunal, segunda-feira, enquanto um procurador de justiça relatava o papel que eles desempenharam na fuga, cuja trama lembra a de um filme de Hollywood, os dois acusados afirmaram não ter objeções às acusações contra eles, de acordo com a mídia local.

Os Taylor enfrentam a possibilidade de sentenças de prisão de até três anos, mas podem ter descontado das sentenças o tempo que passaram aprisionados nos Estados Unidos. As autoridades japonesas indiciaram os Taylor por seu papel em orquestrar a fuga. Ghosn escapou da prisão domiciliar em Tóquio e fugiu para a cidade de Osaka, no oeste do país. Lá, foi contrabandeado dentro de uma caixa de alto-falante para um avião privado, e voou primeiro para a Turquia e depois para Beirute.

Os Taylor não conseguiram escapar ao longo braço da Justiça japonesa. Foram detidos pelas autoridades americanas em Massachusetts, no segundo trimestre de 2020, e passaram meses combatendo uma ordem de extradição, antes de serem entregues à custódia do Japão em março.

Os dois estão presos no mesmo centro de detenção, no subúrbio de Tóquio, em que Ghosn ficou encarcerado. Lá, foram interrogados pelos procuradores da Justiça japonesa. Michael Taylor, que fazia trabalhos privados de segurança, ajudou em outras fugas internacionais, e trabalhou para o The New York Times quando um dos repórteres da publicação foi sequestrado pelo Taleban.

Depois de ajudar Ghosn a fugir, Taylor relatou a história dele à imprensa. Os advogados americanos dos Taylor, ao combater a ordem de extradição, argumentaram que as ações deles não constituíam crime sob as leis japonesas. Os advogados também afirmaram que eles enfrentariam condições semelhantes à tortura durante sua detenção no Japão.

As preocupações expressadas ecoam acusações feitas por Ghosn de que as autoridades japonesas o sujeitaram a condições severas de encarceramento, com a intenção de fazê-lo se confessar culpado das acusações movidas contra ele, das quais o ex-executivo se declara inocente.

Durante seus meses de prisão, Ghosn ficou em confinamento solitário e foi sujeitado a repetidos interrogatórios pelas autoridades sem a presença de seu advogado, uma prática comum no Japão que já foi condenada tanto no país quanto no exterior por fazer dos acusados “reféns da Justiça”.

Depois de sua detenção, em novembro de 2018, Ghosn estava convicto de que não teria um julgamento justo e começou a tramar sua fuga. Ele passou por repetidas detenções e terminou recebendo quatro acusações formais por delitos financeiros, entre os quais ocultar sua remuneração real e usar fundos da companhia para ganho pessoal.

O esforço para libertá-lo exigiu meses de planejamento e envolveu pelo menos 15 pessoas de todo o mundo. Foram estudadas diversas rotas para tirar o ex-executivo do Japão, onde ele estava livre sob fiança e aguardando julgamento em sua residência em um bairro luxuoso do centro de Tóquio.

No período que precedeu a fuga, de acordo com a procuradoria japonesa e documentos judiciais submetidos nos Estados Unidos, Peter Taylor viajou três vezes ao Japão em 2019 e se reuniu com Ghosn pelo menos sete vezes, uma das quais no dia anterior à fuga.

No dia seguinte, 30 de dezembro, Ghosn foi registrado pelas câmeras de segurança instaladas diante de sua casa ao sair para um encontro com Michael Taylor e um segundo homem, George Antoine Zayek, que o levaram para Osaka em uma viagem de trem de alta velocidade.

Ao chegar lá, ele foi colocado em uma grande caixa que tinha fendas para respiração perfuradas no fundo. A caixa foi contrabandeada para um terminal de jatos executivos em um aeroporto próximo e embarcada em um voo destinado à Turquia. Ao chegar lá, Ghosn tomou outro avião para Beirute.

Em fevereiro, um tribunal turco sentenciou três homens a prisão por ajudarem na fuga. Eles disseram não saber que Ghosn estava embarcado no voo. A procuradora pública japonesa também pediu a prisão de Zayek e da mulher de Ghosn, Carole, por, segundo os japoneses, terem feito declarações falsas sobre o caso de Ghosn.

Zayek continua foragido. Carole Ghosn está morando em Beirute com o marido, que tem cidadania francesa, libanesa e brasileira. O Líbano não tem tratado de extradição com o Japão. O julgamento dos Taylor é apenas um dos diversos processos civis e criminais que se relacionam à detenção e fuga de Ghosn.

Outro antigo executivo da Nissan, o americano Greg Kelly, também está sendo julgado em Tóquio, pela acusação de ajudar Ghosn a ocultar sua remuneração. Kelly se declara inocente. O julgamento dele começou em setembro e deve demorar meses.

The New York Times, tradução de Paulo Migliacci

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