Johnson & Johnson vai parar de vender opioides nos Estados Unidos

Grupo farmacêutico é um dos acusados de alimentar a crise de substância que provocou milhares de mortes no país

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Washington | AFP

O grupo farmacêutico Johnson & Johnson, um dos laboratórios acusados de alimentar a crise de opioides que provocou milhares de mortes nos Estados Unidos, vai parar de produzir e vender estas substâncias após um acordo de US$ 230 milhões (R$ 1,1 bilhão) com o estado de Nova York.

A procuradora-geral do estado, Letitia James, anunciou em um comunicado que o acordo permite a Johnson & Johnson resolver os litígios por "seu papel em ajudar a abastecer a epidemia de opioides". A empresa vai dividir o pagamento ao longo de nove anos.

Também pode pagar US$ 30 milhões (R$ 147,6 milhões) adicionais no primeiro ano caso o estado aprove uma lei para criar um fundo contra os opioides.

A empresa afirmou em outro comunicado que o acordo "não constitui uma admissão de responsabilidade ou de infração por parte da empresa", e que permite evitar um julgamento que estava previsto para começar na segunda-feira (28).

Prédio da Johnson & Johnson no estado da Califórnia, nos Estados Unidos
Prédio da Johnson & Johnson no estado da Califórnia, nos Estados Unidos - Mark Ralston - 28.aug.19/AFP

Mas o laboratório ainda enfrenta outros processos judiciais no país, incluindo um julgamento em curso na Califórnia.

"A epidemia de opioides tem provocado estragos em muitas comunidades do estado de Nova York e do restante do país, deixando milhões de pessoas ainda viciadas nos perigosos e fatais opioides", afirmou James no comunicado.

"A Johnson & Johnson ajudou a alimentar este incêndio, mas se compromete a deixar o negócio de opioides —não apenas em Nova York, mas em todo o país", acrescentou.

Isto inclui tanto a fabricação como a venda de opioides, segundo o comunicado.

Os US$ 230 milhões (R$ 1,1 bilhão) serão destinados aos esforços de prevenção, tratamento e conscientização sobre os perigos das substâncias no estado de Nova York.

Johnson & Johnson, Purdue e outras farmacêuticas e distribuidoras são acusadas de estimular os médicos a receitar opioides —inicialmente reservados para pacientes com casos graves de câncer—, mesmo sabendo que eram muito viciantes.

Desde 1999, esta dependência tem levado muitos consumidores dos medicamentos a doses cada vez maiores e a adquirir substâncias ilícitas como a heroína ou o fentanil, um opiáceo sintético extremamente potente com alto risco de overdose fatal.

Quase 500 mil pessoas morreram por overdose de drogas nos Estados Unidos desde então.

Os Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças, a principal agência de saúde pública do país, consideram que 90 mil pessoas morreram por overdoses de drogas em 2020, a maioria delas por opioides.

O Departamento de Saúde dos Estados Unidos calcula que a crise foi responsável por quatro anos de queda na expectativa de vida, em 2014, 2015, 2016 e 2017. A crise disparou a ponto do ex-presidente Donald Trump ter declarado "emergência nacional de saúde pública" em outubro de 2017.

Os CDC avaliaram em 2019 que a "carga econômica" da crise, incluindo os custos de atendimento médico, a perda de produtividade e os custos do sistema de justiça penal alcançava US$ 78,5 bilhões (R$ 386,2 bilhões) por ano.

Um estudo publicado pela Sociedade Americana de Atuários calculou o custo para o período 2015-2018 em US$ 631 bilhões (R$ 3,1 trilhões).

Em fevereiro, a consultoria McKinsey anunciou que aceitou pagar US$ 573 milhões (R$ 2,8 bilhões) para resolver os processos iniciados por quase 40 estados americanos, que acusavam a empresa de ter contribuído para a crise dos opioides por sua assessoria a grupos farmacêuticos, entre eles a Purdue Pharma, fabricante do Oxycontin.

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