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Folha ESG sustentabilidade

Mercados confiáveis são chave para superar o desafio do clima

Próxima grande tarefa mundial requer cooperação sustentada entre governos, empresas e indivíduos

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Michael Syn
Caixin

Enquanto países de todo o mundo buscam deixar para trás a crise da Covid-19, o desafio do clima ganha vulto cada vez maior como próxima grande tarefa mundial. Ainda que a prioridade de todas as grandes economias seja a recuperação e reparo, é animador perceber que o ímpeto da transição para um futuro de emissões limitadas de carbono foi sustentado.

O percurso da transição exige soluções para um imenso problema de ação coletiva, repleto de compensações complicadas e requerendo grande confiança mútua. Internacionalmente, a urgência imediata (e solidariedade de consequências) ao longo dos últimos 12 meses resultou em ações coletivas sem precedentes para deter a difusão da Covid-19. De forma semelhante, o compromisso para com o desafio do clima requer cooperação sustentada entre governos, empresas e indivíduos. E a confiança mútua será a chave para destravarmos nossa disposição coletiva de desenvolver soluções sustentáveis e produzir resultados ambientais sustentáveis.

Ao buscar combinar ações determinadas a resultados necessários por meio de financiamento via mercados de capitais, os desafios são complexos, quando se trata de uma revelação significativa de externalidades positivas e negativas. E aí reside o poder do mecanismo de mercado para coordenar recursos e sindicar a mudança em escala mundial. Nesse contexto, a harmonização e comparabilidade de dados na prestação de contas sobre questões ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês), se tornou preocupação, e companhias usam critérios diferentes a fim de reportar sobre questões materiais a investidores e outras partes interessadas. Isso solapa a confiança na utilidade da criação de padrões de ESG.

Trata-se de uma preocupação reconhecida, e há progresso em curso em termos de consolidação dos padrões de prestação de contas de ESG. Encontrar um consenso requererá tempo; o setor de contabilidade precisou de décadas para alinhar seus padrões de prestação de contas. A fundação International Financial Reporting Standards, com apoio de organizações mundiais importantes como a Iosco, recentemente acelerou seus esforços para tratar dessa questão, e estabeleceu um conselho de padrões de sustentabilidade.

Fica claro que a mudança perceptível nas políticas ambientais é sinal de que os governos compreendem que é urgente agir. O presidente chinês Xi Jinping anunciou, em setembro passado, uma meta nacional de atingir neutralidade nas emissões de carbono até 2060, o que torna a China a primeira grande economia fora da União Europeia a estabelecer uma data-limite para um objetivo assim ambicioso. Os Estados Unidos também anunciaram uma meta de emissões líquidas zero de carbono até 2050, posteriormente. Japão, Coreia do Sul e Singapura todos assumiram compromissos para com emissões líquidas zero.

Toda jornada em direção à sustentabilidade precisa incluir acordos e uma busca de equilíbrio entre os interesses, e soluções de longo prazo baseadas em ação coletiva só poderão ser sustentadas por meio de confiança. Há compensações inerentes mesmo dentro das metas de desenvolvimento sustentável da ONU, já que a busca por melhorias nas condições básicas de vida às vezes pode acarretar destruição ambiental.

No Sudeste Asiático, onde os 10 países da Organização de Nações do Sudeste Asiático (Asean) formam, coletivamente, a quinta maior economia do planeta, existe constante calibragem para procurar equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e o impacto ambiental. Singapura, uma nação desprovida de recursos naturais, enfrenta um desafio único em termos de segurança alimentar e energética. O país estabeleceu um objetivo de produzir 30% de suas necessidades de nutrição localmente até 2030 –um resultado que também poderia levar a um aumento nas emissões de poluentes. A sustentabilidade no mundo real é formada como resultado de um cálculo complexo.

Até 2050, o planeta precisará satisfazer as necessidades e desejos de mais de nove bilhões de pessoas, das quais mais de cinco bilhões provavelmente residirão na Ásia. Construir uma economia mundial adequada ao século 21 é um desafio significativo e redefinir esse futuro sustentável requer adesão política e social generalizada.

Esse é o contexto no qual um operador de mercado especializado pode fazer a diferença. À medida que empresas trazem mais inovação e criatividade para a solução de problemas, um mecanismo de mercado de qualidade permite que o capital que apoiará essas ideias flua, criando impacto. Um mercado específico pode servir como pioneiro para percursos que permitam cumprir compromissos de sustentabilidade e atrair a adesão da cidadania ativa por meio de produtos, plataformas e tecnologia. Recorrendo às suas funções regulatórias e de desenvolvimento estabelecidas, um mercado e bolsa confiável trabalha para obter recursos de maneira otimizada, diante das compensações recíprocas e metas estabelecidas –tanto o “ágio verde” [o excedente de custo incorrido ao fazer uma opção ecológica] quanto o “desconto marrom” [o oposto] são sinais valiosos para coordenar sinais na ação da “mão invisível”.

Porque há questões cruciais em jogo, Singapura precisa desempenhar seu papel a serviço do desafio da descarbonização na Ásia. Como uma jurisdição internacionalmente reconhecida e confiável, Singapura reconhece a importância de ter em ação a estrutura certa, e de trabalhar com os parceiros certos. Estamos construindo um polo de serviços e operações de carbono, criando pacotes de financiamento verde, e oferecendo consultoria de sustentabilidade, verificação, comércio de créditos e gestão de risco.

A Bolsa de Singapura, o DBS Bank, o Standard Chartered e a Temasek estão lançando juntos o Climate Impact X (CIX), um mercado internacional guiado pelos princípios centrais da redução das emissões de carbono, e promovendo maior transparência, integridade e qualidade nos contratos de créditos de emissão. Num momento em que empresas buscam reduzir suas emissões de poluentes, o uso de créditos de emissões de alta qualidade e em larga escala desempenha papel central na neutralização e compensação das emissões que as companhias são incapazes de eliminar totalmente.

Os mercados precisam ser parte da solução para a mudança no clima, por meio de produtos vinculados à sustentabilidade e de soluções de gestão de risco e retornos. Um mercado confiável permitirá que as companhias tenham acesso a financiamento e a apoio aos seus esforços de transição. Reforçar a construção de capacidade no ecossistema financeiro mais amplo também é vital para catalisar mudanças e gerar crescimento de modo sustentável.

Como uma pequena cidade-Estado costeira, Singapura está entre os países ilhéus suscetíveis à alta do nível do mar nas próximas décadas. Talvez essa vulnerabilidade tenha apurado nossa crença em que crescimento econômico e sustentabilidade não são mutuamente excludentes, mas sim interdependentes, e se reforçam e beneficiam mutuamente.

Para encontrar o equilíbrio entre o crescimento e a construção de um espaço de vida de alta qualidade, o governo de Singapura está redobrando seus esforços para tornar o país um dos grandes centros de financiamento verde, na Ásia e em todo o mundo. O governo apoia a resiliência do setor financeiro diante de riscos ambientais, o desenvolvimento de soluções e mercados de financiamento verdes, a construção de conhecimento e capacidades, e a alavancagem da inovação e tecnologia. E por meio de um mercado público organizado, podemos reforçar ainda mais os esforços da comunidade internacional para lidar com o impacto da mudança no clima.

Tradução de Paulo Migliacci

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