Microsoft, Alphabet e outras big techs evitam prestação de contas sobre ações ESG

Segundo as empresas, incluir as informações em relatórios anuais traz potenciais riscos judiciais

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Patrick Temple-West Billy Nauman
Nova York | Financial Times

A Microsoft e a Alphabet estão reagindo contra os apelos pela inclusão de informações sobre questões ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês), em sua prestação de contas às autoridades dos Estados Unidos, o que as coloca em curso de colisão com algumas das maiores empresas de administração de ativos.

As companhias de tecnologia disseram à principal agência regulatória do mercado financeiro americano que informações de ESG não deveriam fazer parte de uma prestação de contas conhecida como 10k, que a maior parte das companhias de capital aberto precisa submeter uma vez por ano. Microsoft e Alphabet disseram que incluir informações sobre ESG nessa prestação de contas as exporia a potenciais riscos judiciais, porque esse tipo de dados está sujeito a mais incerteza do que as revelações financeiras e sobre risco detalhadas que o 10k requer atualmente.

Documentos apresentados pelas duas empresas à Securities and Exchange Commission (SEC), agência federal que regulamenta os mercados de valores mobiliários dos Estados Unidos, as colocam em rota de colisão com a Pimco, Invesco e outras grandes administradoras de investimentos que desejam que informações sobre ESG sejam incluídas no formulário 10k. A SEC planeja tornar essas informações compulsórias, e está considerando de que maneira deveriam ser apresentadas.

Josh Zinner, presidente-executivo do Interfaith Center on Corporate Responsibility, uma organização de investidores que inclui entidades religiosas e outros investidores preocupados com questões de ESG, disse que esse tipo de prestação de contas criaria “um campo de jogo mais nivelado e colocaria em destaque a posição de liderança dessas companhias”.

Os relatórios anuais 10k devem ser assinados pelo presidente-executivo e pelos executivos financeiros das empresas declarantes, e são revisados pela equipe da SEC, o que os torna uma das formas de prestação de contas mais importantes, para as companhias de capital aberto.

A Microsoft e a Alphabet, disse Zinner, “se posicionam como líderes de sustentabilidade e deveriam certamente apoiar a declaração compulsória de informações de ESG, o que inclui suas prestações de contas às autoridades regulatórias, e as tornaria judicialmente responsáveis pelas informações”.

A batalha entre os administradores de ativos e as companhias quanto à prestação de contas sobre ESG deve se intensificar nos próximos meses. Com o aquecimento global e os direitos humanos criando novos riscos para as companhias, a SEC iniciou uma expansão sem precedentes de suas regras de prestação de contas sobre questões ESG.

Em 2021, quase um terço dos influxos globais de capital se dirigiram a fundos ESG, de acordo com um relatório publicado pelo Bank of America em 1º de junho. Os ativos administrados por fundos de ESG chegaram ao recorde de US$ 1,4 trilhão em abril, mais que o dobro do valor que detinham um ano atrás, e estão crescendo em ritmo quase três vezes maior que o dos ativos investidos em fundos não ESG, o banco informou.

Microsoft e Alphabet se beneficiaram dessa alta. As ações da Microsoft são o papel mais comum em fundos de ESG americanos, segundo o Bank of America. A Alphabet está entre os 10 mais, e quase metade dos fundos de ESG americanos detém ações da companhia.

Placa com o logotipo do Google afixada na parede de loja
Placa na entrada da loja do Google, empresa controlada pela Alphabet, em Nova York - Shannon Stapleton/Reuters

A Alphabet se uniu a outras empresas de tecnologia em uma carta enviada à SEC na semana passada que recomendava que a prestação de contas sobre ESG “seja oferecida à SEC por meio de documentação separada relacionada ao clima”.

“Porque as revelações com relação ao clima dependem, de estimativas e suposições que envolvem incerteza inerente, é importante não sujeitar as empresas a responsabilidades indevidas, o que inclui responsabilidades para com contrapartes de capital fechado”, disseram as empresas.

Se as empresas estiverem preocupadas com a possibilidade de processos, isso vai prejudicar o objetivo da SEC de oferecer mais informações ao mercado, disse Patrick Flynn, vice-presidente de sustentabilidade da Salesforce, uma das signatárias da carta. “É um processo novo para as empresas, e elas terão de estabelecer novos procedimentos. Oferecer alguma proteção contra responsabilidade judicial permite que elas sigam em frente com o processo deliberadamente e não façam o simples mínimo.”

A Microsoft afirmou que sua carta à SEC não pretendia criar a impressão de que excluiria completamente as informações sobre questões relacionadas ao clima da prestação de contas à agência. A companhia afirmou que seu ciclo de compilação e verificação de informações referentes ao clima pode não se alinhar ao ciclo das declarações financeiras de fim de exercício.

Embora deva continuar prestando contas sobre questões de ESG, a Microsoft não o fará na documentação que submete à SEC, e afirma que “acreditamos que revelações sobre questões relativas ao clima em documentos oficiais encaminhados à SEC devem ficar limitadas a informações relevantes quanto a investimentos ou decisões de voto referentes à companhia”.

A Alphabet se recusou a comentar.

“Embora seja ótimo ver os líderes de ESG nas empresas advogando que a SEC adote padrões de prestação de contas sobre questões climáticas, discordamos de sua afirmação de que todas essas revelações deveriam ficar de fora da prestação de contas atual à SEC”, disse Molly Betournay, diretora de questões de acionistas na Clean Yield Asset Management. “O fornecimento de informações padronizadas sobre questões climáticas deveria ser incluído na prestação de contas regular à SEC”.


Tradução de Paulo Migliacci

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