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Morre Carlos Langoni, presidente do BC de 1980 a 1983, de Covid

Economista estava internado desde dezembro na UTI de hospital no Rio de Janeiro

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São Paulo

O ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni morreu na manhã deste domingo (13), aos 76 anos, em decorrência de complicações da Covid-19. O economista estava internado desde dezembro na UTI do hospital Copa Star, no Rio de Janeiro.

Langoni nasceu em 24 de julho de 1944, em Nova Friburgo (RJ). Próximo do ministro Paulo Guedes (Economia), ele foi o primeiro brasileiro a se formar em economia na Universidade de Chicago, em 1970.

Também é autor de um dos mais importantes estudos sobre a desigualdade de renda no Brasil, publicado em 1973, durante o governo Médici, em plena ditadura militar.

O economista foi presidente do Banco Central de 1980 a 1983, na presidência de João Figueiredo, última da ditadura. Recentemente, era diretor do Centro de Economia Mundial da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Da esq. para dir., ministro Paulo Guedes (apontando o dedo); Joaquim Levy; e o economista Carlos Langoni (centro)
Da esq. para dir., ministro Paulo Guedes (apontando o dedo); Joaquim Levy; e o economista Carlos Langoni (centro) - Ricardo Moraes/Reuters

Langoni apresentou a Guedes a ideia de um "choque de energia barata", que poderia diminuir o preço do gás à metade. Para isso, ele propunha reduzir a concentração do mercado, dominado pela Petrobras.

Em entrevista à Folha em abril de 2019, Langoni afirmou que a oferta da energia barata do gás natural poderia tornar as empresas brasileiras mais competitivas no mercado internacional e gerar uma nova revolução industrial no Brasil.

"A Petrobras praticamente controla a totalidade de oferta. Na distribuição, a Constituição vem sendo interpretada, na minha opinião de forma equivocada, e cria monopólios também na distribuição nos estados. O setor é um caso absurdamente clássico de sobreposição de monopólios, que precisa ser revisto", disse na entrevista.

Guedes lamentou a morte do colega.

“Carlos Langoni sempre foi um otimista, um brasileiro construtivo, um homem com espírito público. Foi o primeiro economista a estudar com seriedade a questão do capital humano, a mostrar como as desigualdades nas oportunidades educacionais se transformam em desigualdades econômicas e sociais, chamando a atenção para a importância de políticas públicas na área. Mais recentemente, foi essencial na formulação do novo marco legal do gás. Foi o autor intelectual do choque da energia barata, defendendo a importância da quebra de monopólios, oligopólios e cartéis para viabilizar a redução de preço na geração e distribuição da energia para fortalecer a indústria. É uma grande perda para o país. Meus sentimentos à família", afirmou o ministro.

Em nota, a diretoria do Banco Central destacou o trabalho de Langoni durante seu mandato à frente da instituição, no início de década de 1980.

“Durante sua gestão, ajudou a construir a estabilidade econômica do país e zelou pelo papel institucional que cabe aos bancos centrais de todas as economias. Sempre atualizado, Langoni manteve diálogo constante com as figuras mais proeminentes do cenário econômico brasileiro e global. Ele fez do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas um local de debate livre e vivo sobre os temas econômicos mais candentes da atualidade. O conhecimento de Langoni certamente fará falta no debate econômico”, disse o BC.

O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, afirmou em seu perfil do Twitter que Langoni foi um economista brilhante e uma "referência em estudos sobre capital humano, desigualdade e recentemente energia".

Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV, destacou que Langoni foi "pioneiro nos debates sobre capital humano e desigualdade". Bruno Ottoni, professor da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), escreveu: " Mais uma vítima da Covid-19. Uma pena".

Em nota, a FGV (Fundação Getulio Vargas) lembrou que Langoni interagiu com a Fundação desde a infância, tendo sido aluno do Colégio Nova Friburgo, pertencente à instituição, com nove anos de idade.

Na década de 1970, começou a lecionar na FGV EPGE (Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas). Em 1973, aos 29 anos, tornou-se diretor da unidade.

Em 1975, deu início ao primeiro programa de doutorado em Economia no país, criando condições para que a FGV tivesse, pela primeira vez, um grupo de professores em tempo integral, segundo a instituição.

Em 1985, foi designado para exercer as funções de Diretor de Centro de Estudos Econômicos Internacionais da Escola de Pós-Graduação em Economia.

“Em toda a sua trajetória como homem público, mesmo com algumas interrupções, nas quais foi atender ao interesse da Nação, Carlos Langoni sempre esteve ligado à FGV, tornando-se uma das referências da instituição”, diz a instituição.

O ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles destacou que Langoni publicou na década de 1970 um estudo pioneiro, que mostrava a relação entre educação, crescimento e a desigualdade no Brasil, e como presidente do BC, deu início ao sistema que geraria mais tarde a taxa Selic.

“Langoni era um bom amigo, que a pandemia me impediu de encontrar desde o ano passado. Lamento sua morte, em decorrência da covid-19. Meus sentimentos à sua família neste momento de dor.”

Em nota, os Ministérios da Economia e de Minas e Energia destacaram que o economista foi um pioneiro nos estudos sobre capital humano no Brasil e realizou pesquisas importantes sobre o impacto das desigualdades de oportunidades educacionais nas desigualdades de renda.

Também afirmaram que ele colaborou com a proposta para derrubar o custo da energia e com as mudanças no marco regulatório do gás natural.

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