Descrição de chapéu Financial Times juros inflação

Preços globais de alimentos têm maior aumento em uma década

Alta de 40% no custo das matérias-primas agrícolas desperta o fantasma da inflação acelerada

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Emiko Terazono Judith Evans
Londres | Financial Times

Os preços globais dos alimentos tiveram a maior margem de aumento em dez anos, enquanto um índice atentamente observado saltou 40% em maio, reforçando os temores de que a inflação inicialmente provocada pela disrupção da pandemia está se acelerando.

O aumento ano a ano do índice mensal da Organização para Alimentos e Agricultura (FAO) da ONU foi o mais forte desde 2011, com o salto dos preços das matérias-primas.

A inflação maior atingirá os países pobres que dependem de importações de bens básicos. Para os países mais ricos, o custo dos ingredientes crus representa apenas parte do preço pago pelos produtos nos supermercados e restaurantes. No entanto, o aumento dos preços das commodities foi tão acentuado que grandes companhias como Nestlé e Coca-Cola disseram que vão passar adiante qualquer aumento.

Economistas e analistas também advertiram que o retorno das refeições em restaurantes, com a suspensão dos lockdowns em todo o mundo, aumentará a pressão dos preços.

"O declínio das refeições fora de casa não foi totalmente compensado pelas refeições em casa, mas conforme as pessoas começam a ir a restaurantes novamente você verá os preços dos alimentos subirem", disse Abdolreza Abbassian, economista sênior da FAO.

O custo da mão de obra, do transporte e das remessas deverá empurrar os preços mais para cima nos próximos meses.

"O aumento do custo do transporte com os aumentos dos preços do petróleo e gargalos de suprimento —há muita pressão ascendente sobre os preços no sistema", disse Caroline Bain, da Capital Economics.

Nos Estados Unidos, as empresas de produtos de consumo tinham probabilidade de enfrentar uma alta de 6,1% nos custos dos insumos neste ano, comparada com 0,7% em 2020, segundo analistas da Bernstein. A Tyson Foods, uma importante processadora de carnes, disse que os preços da matéria-prima subiram mais de 15%, assim como aumentaram os custos em logística, embalagem e mão de obra.

Bruno Monteyne, analista na Bernstein, disse que o período de inflação aumentará a polarização nos mercados de consumo entre produtos "premium" destinados a consumidores mais ricos —muitos dos quais têm dinheiro sobrando para gastar depois de ficarem presos em casa na pandemia— e marcas mais baratas que visam compradores mais pressionados.

"Se você já está comprando produtos orgânicos, provavelmente não vai se preocupar muito com isso", disse ele, acrescentando que os custos maiores dos ingredientes atingirão marcas do mercado de massa.

Os consumidores sem dinheiro optarão por produtos de marcas menos conhecidas e, se a inflação se prolongar, mudarão para lojas mais baratas, acrescentou ele.

No Reino Unido e na Europa, a inflação alimentar esteve relativamente contida, mas o Consórcio Britânico do Varejo (BRC) advertiu nesta semana que os preços subirão no segundo semestre. Helen Dickinson, executiva-chefe do BRC, disse: "Enquanto os preços estão caindo atualmente, graças à forte concorrência entre os varejistas, há muitas pressões de custos logo à frente".

A inflação global de preços ao consumidor para alimentos já saltou 6,3% em 2020, contra 4,6% em 2019, segundo a FAO, quando a pandemia provocou o caos nas cadeias de suprimentos globais, afetando a produção e a distribuição de alimentos. A América do Sul, com 21% de inflação nos preços dos alimentos, África e Ásia meridional com 12% e Oceania com 8% foram das regiões mais afetadas.

O último aumento nos preços das commodities alimentares, refletido no crescente apetite da China por cereais e soja, se acrescenta à pressão ascendente dos preços, juntamente com uma severa seca no Brasil e a crescente demanda por óleo vegetal para biodiesel, segundo analistas.

O clima adverso no Brasil, grande exportador de milho e soja, e a demanda crescente por óleo de soja para o biodiesel empurraram os preços para cima, eles acrescentaram.

"A China continuou comprando, mas com a seca no Brasil mais severa do que se esperava todo mundo tem de rezar para que o clima nos Estados Unidos seja bom", disse Abbassian.

Os aumentos impactarão severamente os países que dependem de produtores no exterior para seus produtos básicos. Na África ocidental, o preço dos alimentos subiu 40% em uma média de cinco anos, com países como Nigéria experimentando inflação alimentar de 23%, o nível mais alto em 15 anos, segundo o Programa Mundial de Alimentos (WFP na sigla em inglês) da ONU.

O WFP também advertiu sobre países vulneráveis que enfrentam preços em alta, incluindo o Líbano, onde a inflação alimentar subiu 400% no ano passado devido à crise monetária, à pandemia e aos efeitos da explosão no porto de Beirute. A inflação dos preços dos alimentos no Líbano ainda é de mais de 200%. Países como Síria e Sudão também enfrentam dificuldades com a inflação alimentar superior a 200%, disse o WFP.

Colaborou Chloe Comish, de Beirute

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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