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Renda fixa tradicional ainda perde para a inflação mesmo com alta na Selic

Apenas poupança velha e debêntures incentivadas superam a previsão para o IPCA de 2021

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São Paulo

Apesar da alta de 0,75 ponto percentual na Selic (taxa básica de juros), a renda fixa continua a perder para a inflação.

O juro a 4,25% ao ano, definido nesta quarta-feira (16) pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, é inferior à projeção de inflação do mercado. Segundo o boletim Focus, que reúne projeções de diversos economistas, o IPCA deve terminar 2021 a 5,82%.

De acordo com levantamento do buscador de investimentos Yubb, que considera a média de rentabilidade dos produtos de renda fixa no mercado, apenas debêntures incentivadas (isentas de Imposto de Renda) e a poupança antiga superam o aumento de preços projetado.

Isso porque a rentabilidade média destas debêntures é 6,27% ao ano e depósitos na poupança até maio de 2012 rendem 6,167780% ao ano mais TR (taxa referencial), que hoje está zerada.

Já aplicações após esta data rendem 70% da Selic mais TR, o equivalente a 2,98% com a Selic a 4,25%. Para a poupança superar o IPCA projetado, a Selic teria que estar acima de 8,31%.

Cédulas de real
Rentabilidade da renda fixa fica abaixo da inflação projetada para 2021 - Gabriel Cabral/Folhapress

"Enquanto o Copom não adotar uma postura ainda mais contundente no controle inflacionário, veremos títulos de renda fixa com rentabilidade real negativa", diz Bernardo Pascowitch, presidente do Yubb.

Para bater a inflação, especialistas apontam que o segredo é diversificar. "O investidor precisará assumir mais riscos em renda variável", diz Pascowitch.

Ele cita ações brasileiras, ETFs (fundos de índices), BDRs (recibos de ações listadas no exterior) e fundos imobiliários como boas opções de diversificação.

Outro produto recomendado por especialistas para escapar da inflação são os ativos atrelados ao IPCA, que garantem um ganho acima deste índice.

Sandra Blanco, estrategista-chefe da Órama, recomenda produtos atrelados ao índice inflacionário, mas alerta para os seus riscos, já que os preços dos títulos do Tesouro Direto variam de acordo com o mercado.

“Quando há ciclo de alta nos juros, a renda fixa pós-fixada fica mais atrativa, pois acompanha a alta da Selic. Com juro mais alto, a renda fixa rende mais, mas o não pode ficar no investimento arroz com feijão porque corre risco de perder o poder de compra”, diz Blanco.

Ela recomenda, além dos títulos do Tesouro, investimento em LCI, LCA e fundos de créditos privados. Segundo Sandra, apesar de invetimentos prefixados ficarem mentos atrativos em um ciclo de alta de juros, há produtos com juros elevados, na casa dos 10%, que podem ser uma boa alternaitiva no curto prazo.

“A atual alta de juros só muda alguma coisa para o investidor de curto prazo. Se você tem uma alocação de longo prazo na renda fixa como colchão de liquidez, pouco muda”, diz Sigrid Guimarães, sócia e presidente da Alocc Gestão Patrimonial.

Apesar da projeção de juros a 6,25% ao final do ano, ela ainda vê boas oportunidades na renda variável.

Analistas apontam que ações do setor financeiro, que beneficiam com ma Selic mais alta, e de empresas ligadas a commodities são boas opções no momento.

“Ações têm se mostrado ao longo do tempo como uma excelente proteção contra a inflação. Além disso, vemos valor no momento em aplicações ligadas ao dólar como uma maneira de proteção estrutural para as incertezas que o Brasil enfrenta, como a situação fiscal, contexto político e velocidade da vacinação”, diz Thiago Nemezio, diretor de alocação da Blue3.

Com o dólar em um patamar baixo, a R$ 5,06, especialistas veem uma boa oportunidade de compra.

Antes de investir, contudo, é preciso lembrar da reserva de emergência para gastos fixos, como aluguel e conta de luz, alocados em um produto de renda fixa com liquidez diária (que pode ser sacado a qualquer momento). Recomenda-se guardar o equivalente a gastos de seis meses a um ano. O Tesouro Selic e produtos atrelados ao CDI, como CDBs, são boas opções para isso.

VEJA OUTRAS OPÇÕES DE INVESTIMENTO:

Renda fixa
Títulos pós-fixados e atrelados a Selic ficam mais vantajosos com a alta nos juros, pois acompanham as mudanças na taxa.

Fundos de renda fixa que tenham debêntures na composição também são uma alternativa. Por serem mais arriscados, têm um retorno maior. Especialistas indicam que o investimento em dívidas privadas seja feito por meio de fundos, para reduzir o risco.

Poupança
Com a Selic em 4,25% ao ano, a poupança nova tem um rendimento anual de 2,98%.

Segundo cálculos da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade), fundos de renda fixa vão ter um rendimento superior à poupança nova apenas quando taxas de administração forem até 1% ao ano em resgates acima de um ano, dada a incidência de Imposto de Renda nestes investimentos, enquanto a poupança é isenta.

Ações
Além da renda fixa, ações de bancos e seguradoras também podem se beneficiar de juros mais altos. Por outro lado, empresas de varejo e construção civil podem ter queda no faturamento. Companhias com uma dívida elevada também podem ser impactadas negativamente por uma Selic maior.

No momento, empresas que produzem matérias-primas também são vistas como boas oportunidades por especialistas, já que os preços das commodities estão aquecidos.

A escolha a dedo de ações por quem não tem formação profissional, porém, não é indicada. Para deixar o aporte em ações na mão dos especialistas, o investidor também pode comprar cotas de fundos de ações ou multimercados de gestão ativa. O portfólio destes fundos está em constante mudança, de modo a ampliar os ganhos dos cotistas.

Exterior
Especialistas também recomendam a presença de ativos ligados a outras economias na carteira para fugir do chamado “risco Brasil", como dólar, euro e ações no exterior, via BDRs (recibo depositário de ações, na sigla em inglês) ou ETFs (fundo de índice). O ouro também é apontado como ativo de segurança.

Independente do cenário, é imprescindível que investidores diversifiquem a carteira, de modo a reduzir os riscos.

COMO SABER SEU PERFIL DE INVESTIDOR

Antes de investir, é necessário descobrir qual o seu perfil, para determinar que riscos está disposto a correr –e, a partir daí, definir os ativos de sua carteira.

O perfil é obtido por questionários e avaliação financeira de bancos, corretoras e casas de análise. Para ter uma boa parte da carteira em ações, como no perfil arriscado, por exemplo, é preciso ter sangue frio para lidar com eventuais desvalorizações do mercado.

Conservador
Preza estabilidade do investimento. Quer saber o rendimento ao fim do mês, sem arriscar perder dinheiro ou ter surpresas no meio do caminho. No passado, mantinha toda a carteira em renda fixa, mas, com a queda da rentabilidade, analistas recomendam uma pequena alocação em fundos multimercado.

Moderado
Aceita mais oscilações nos investimentos, especialmente a longo prazo, mas também preza a garantia do retorno. Sua carteira tem mais espaço para a renda variável.

Arrojado
Está mais disposto a correr risco em nome do retorno maior. Tem mais tranquilidade para lidar com oscilações bruscas na renda variável, que ocupa boa parte da carteira.

Agressivo
Não tem medo de perder em algumas aplicações para ganhar em outras. Tem sangue frio para aguentar o tranco de uma queda brusca de ações.

COMO DIVERSIFICAR INVESTIMENTOS

A diversificação depende do apetite ao risco. Conservadores devem ter a menor parte da carteira em ações, por exemplo. Veja diferentes tipos de investimento:

Pós-fixados
Acompanham a taxa de juros. Se ela sobe, a rentabilidade aumenta; se cai, o ganho diminui. São os investimentos mais seguros, e mesmo os mais arrojados têm uma parte do dinheiro nesses produtos.
Opções: poupança, CDBs, LCA e LCI, Tesouro Selic e fundos DI. A aplicação é de longo prazo, e o dinheiro fica parado até o vencimento.

Prefixados
Têm uma taxa de juros combinada no momento da aplicação, que não muda mesmo que a Selic seja alterada. Há risco em caso de venda antecipada e é o primeiro patamar de diversificação.
Opções: Tesouro prefixado e CDBs de bancos pequenos

Inflação
São investimentos que pagam uma taxa de juros fixa mais a variação da inflação. Como mudam de preço todo dia, o investidor precisa mantê-los até o vencimento para evitar risco de perdas.
Opções: Tesouro IPCA+ e CDBs de bancos pequenos

Fundos multimercados
Investem em mais de um tipo de ativo. Geralmente combinam aplicações conservadoras, como títulos públicos, com ativos mais arriscados, que podem ser dívidas de empresas (no Brasil ou no exterior) e ações. Para saber no que um fundo investe, é preciso ler o informativo.

Ações
Ações são a menor fração de capital de uma empresa, podendo ser negociada em Bolsa. Esse tipo de investimento é indicado para pessoas de perfil arrojado. É possível escolher papéis individualmente ou investir por meio de fundos de ações ou que acompanham um índice (ETFs).

GLOSSÁRIO

CDBs, LCAs e LCIs
Os principais investimentos de renda fixa de bancos. Quanto maior o banco, menor a remuneração, porque o risco de calote é menor. As letras de crédito são isentas de IR. Em caso de calote, há cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) até R$ 250 mil por CPF e instituição financeira.

Debêntures
Títulos de dívida emitidos por empresas para financiar investimentos. Quem compra uma debênture corre o risco de calote da empresa, já que não há garantia do FGC. Quando o dinheiro é destinado a obras de infraestrutura, há isenção de Imposto de Renda.

Prefixado
Investimento cujo rendimento é conhecido na hora da aplicação. É vantajoso quando há expectativa de queda de juros. Como os títulos mais longos consideram que as taxas vão subir mais do que a expectativa do mercado, há chances de rendimento maior em outros tipos de renda fixa.

Tesouro IPCA+
Título público emitido pelo Tesouro Nacional que paga uma taxa de juros fixa mais a variação da inflação. Garante o poder de compra do dinheiro em aplicações de longo prazo, mas pode sofrer oscilações de preços e gerar perdas em caso de resgate antes do vencimento.

CDI
Taxa de juro que acompanha a Selic e costuma ser referência para remuneração de investimentos de renda fixa emitidos por bancos

ETFs

São fundos que replicam um índice de ações, como o Ibovespa. O ganho será, ao final de um período, o mesmo registrado pela média das ações que compõem o índice. Como é um fundo passivo (não há um gestor tomando decisões de investimento), tem taxas mais baixas.

Confira a explicação de mais termos do mercado financeiro neste link

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