Seca atinge o campo, e safra de grãos tem quebra de 10 milhões de toneladas

Queda no volume produzido não dá alívio ao bolso do consumidor e à taxa de inflação, principalmente nos produtos básicos

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São Paulo

Em uma semana em que os dados da inflação trouxeram preocupações, as notícias vindas do campo também não são animadoras. A grave crise hídrica vivida pelo país começa a refletir com mais intensidade nas lavouras, e a safra brasileira de grãos deverá registrar uma queda de 10 milhões de toneladas.

Estimada em até 272 milhões em março, a produção total de grãos recua, agora, para 262 milhões, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

Por ora, porque o produto que mais provocou essa queda, o milho, ainda gera incertezas com relação aos números finais de safra. O volume de milho a ser colhido neste ano será de 96 milhões de toneladas, abaixo da previsão de março de até 108 milhões.

A divulgação desta quinta-feira (10), feita pela Conab, está sobreavaliada em relação a números já divulgados por consultorias especializadas no setor. Para elas, a produção do cereal fica próxima de 90 milhões de toneladas.

Um dado preocupante é que as quedas provocam elevação de preços em produtos importantes na demanda interna e de difíceis importações.

É o caso do feijão. A segunda safra do produto em cores, devido à seca, deverá ter redução de 14%. O resultado será preços mais elevados e estoques finais nos menores patamares em cinco anos.

O milho, importante para a cadeia de proteínas, com a estimativa de queda de 12 milhões de toneladas, manterá os preços em patamares recordes, como os atuais.

Diante dessa quebra de safra do cereal, a Conab reduziu as expectativas de exportações para 29,5 milhões de toneladas e as de importações para 2,3 milhões. Em maio, o órgão esperava vendas externas de 35 milhões de toneladas e importações de 1 milhão.

Essa quebra na produção de milho pesa sobre os custos dos produtores de frango, de suínos e de bovinos, principalmente no segundo semestre. A conta vai chegar ao bolso do consumidor.

Há preocupação também com os preços do arroz. A produção deste ano é melhor do que a de 2020, mas os preços devem continuar elevados em relação aos patamares de anos anteriores. A produção sobe para 11,6 milhões de toneladas, acima dos 11,2 milhões do ano passado.

Os estoques de trigo melhoram, em relação aos de 2020, mas ainda estão bem abaixo dos da média dos anos anteriores.

Um dos alívios para os consumidores será o comportamento do dólar. Se houver uma valorização consistente da moeda brasileira, os produtos nacionais ficarão menos competitivos no mercado internacional. A queda do dólar facilita também as importações.

A demanda externa continua elevada, com grandes consumidores, como a China, remontando seus estoques e forçando uma alta nos preços internacionais.

Essa pressão externa inibe reduções significativas dos preços internos, mesmo com a ocorrência de safras melhores de alguns produtos, como é o caso da soja.

O arroz, apesar de não repetir os volumes de exportação do ano passado, deverá ter preços aquecidos internamente. As expectativas de exportações do cereal nesta safra foram reduzidas para 1 milhão de toneladas pela Conab, abaixo do 1,8 milhão da anterior.

Apesar da redução de exportações do milho e do arroz, o mercado internacional continua favorável para soja e algodão brasileiros, que terão crescimento de 5% no volume colocado no exterior. Segundo a Conab, o Brasil exportará 87 milhões de toneladas de soja e 2,2 milhões de algodão.

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