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Universitário e trabalhador no Brasil esperam sair da pandemia mais conectados, diz pesquisa

Estudo mostra que tempo diário de conexão no país saltou 3 horas após a Covid

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Brasília

Passar o crachá pela catraca e seguir rumo à sua mesa de trabalho. Ouvir o sinal que avisa o início da aula e se encaminhar para a sua sala na faculdade. Estes dois comportamentos tão comuns até o início da pandemia tendem a ser cada vez menos frequentes, especialmente no Brasil, mesmo em um cenário de Covid-19 sob controle.

Os estudantes universitários brasileiros acreditam que 80% do seu tempo de estudo será online, mesmo com o fim da pandemia. No mundo, esse percentual é menor, da ordem de 65%.

A expectativa de passar mais tempo conectado também é maior entre os trabalhadores: profissionais de operação (técnicos, representantes de vendas, teleatendentes etc.) no Brasil esperam que 55% do seu tempo seja online, frente à média global de 35%. Entre os executivos brasileiros, a previsão é dedicar metade do seu tempo ao trabalho remoto; no mundo, a média é 40%.

Estas são algumas das conclusões do estudo "The Future Urban Reality" (A Futura Realidade Urbana), da Ericsson, fornecedora do setor de telecomunicações. O levantamento envolveu 31 países, entre Brasil, Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul, Alemanha, Reino Unido, Índia e México. Realizada entre outubro de 2020 e janeiro de 2021, a pesquisa traçou um panorama das expectativas dos consumidores para 2025 e o papel das novas tecnologias no seu dia a dia.

“Os brasileiros já estavam entre os mais conectados do mundo antes da pandemia. Com a Covid-19, este comportamento acelerou e se deslocou dos demais países”, diz Vinicius Fiori, gerente de marketing da Ericsson no Brasil. Segundo ele, a partir da pandemia, os brasileiros passaram a ficar, em média, 9 horas e 10 minutos conectados por dia: um aumento de três horas em relação ao padrão antes da Covid.

O incremento da vida online foi maior do que nos Estados Unidos, por exemplo, onde os americanos passaram a ficar duas horas a mais conectados, chegando às atuais oito horas e sete minutos. Hoje, no mundo, a média de tempo gasta online é de 7 horas e 59 minutos ao dia.

“A pandemia deve deixar no Brasil uma herança de maior conectividade do que em outros países, pelo menos no tocante aos universitários e aos trabalhadores em geral”, diz Fiori. De acordo com a pesquisa, no Brasil, um terço dos trabalhadores que estão hoje em home office acreditam que vão se manter neste sistema de trabalho 100% do tempo. No mundo, este percentual está em 25%.

Curiosamente, entre os estudantes de ensino médio no Brasil, a expectativa é dedicar 61% do tempo às aulas online, um percentual menor em relação aos adolescentes de outros países, que pretendem passar 66% do seu tempo nas aulas remotas. “Isso mostra que os adolescentes brasileiros ainda buscam maior interação presencial com os colegas”, afirma o executivo.

No Brasil, as instituições de ensino superior já trabalham com a realidade de ensino híbrido, com prevalência para o online, independentemente da pandemia. “A Cruzeiro do Sul tem feito investimentos pesados em realidade virtual e mista e em aplicativos de gamificação, em parceria com startups, a fim de se preparar para esta nova fase da aprendizagem”, diz Regina Tavares Menezes, coordenadora do Núcleo de Inovação Acadêmica da Cruzeiro do Sul Virtual.

Hoje, 65% dos atuais 358 mil alunos da Cruzeiro do Sul Educacional estão no ensino a distância. Mas a instituição já prevê que o modelo híbrido será a regra de agora em diante. “O ensino remoto, que por conta das circunstâncias foi síncrono emergencial, se tornou síncrono intencional, por conta da mudança de comportamento dos estudantes”, diz Regina.

No ensino remoto emergencial, as aulas costumam ser ao vivo, com professores e estudantes online ao mesmo tempo. Já no Ensino a Distância (EAD), existem aulas ao vivo e gravadas, o que permite maior flexibilidade ao aluno. O novo modelo híbrido deve misturar aula online, gravada e momentos de interação presencial entre professores e alunos.

Neste modelo, diz Regina, é possível, por exemplo, mapear o domínio que o aluno tem sobre determinado conteúdo de aprendizagem, que pode ser trabalhado individualmente. “A tecnologia nos permite novas estratégias didáticas e abordagens em sala de aula”, afirma.

A interação entre colegas e professores não deve ficar perdida, diz ela, doutora em Comunicação e Semiótica. “Quando estávamos no presencial, por muitas vezes, a aula foi expositiva, sem incentivar a participação dos alunos”, diz. “Mas agora, com novos aplicativos e ferramentas, temos visto um maior engajamento com o conteúdo, por áudio, vídeo, chats”.

Jânyo Diniz, presidente do grupo Ser Educacional, concorda. “Havia muito preconceito com o ensino remoto, principalmente dos pais, que foram educados em um mundo analógico”, diz o executivo, formado em Engenharia Mecânica. “Para ser um estudante digital, o nível de disciplina é bem maior, porque o aluno costuma estudar para a prova, e não porque quer aprender”.

O próprio Jânyo conferiu em casa a realidade dos novos estudantes. “Um dia entrei no quarto da minha filha caçula, de 8 anos, que estava com o professor na tela do tablet, usando o celular para falar com a amiga, e projetando um vídeo do YouTube na tela da TV. Tudo relacionado à sua aula de matemática”, afirma o empresário. “Essa geração não volta para uma aula 100% presencial”.

De acordo com o presidente da Ser, o mercado também tinha alguma rejeição por estudantes formados por EAD. "Mas, desde março de 2020, essa barreira foi quebrada", afirma. Na Ser, dona de instituições como UNG, de Guarulhos (SP), e Uninassau (Nordeste, Norte e Distrito Federal), o aluno vai escolher entre assistir a aula presencial ou remotamente.

"Parte do conteúdo de alguns cursos, como Medicina, Enfermagem e Gastronomia, precisa ser presencial, mas as aulas teóricas podem ser 100% no modo remoto", diz Jânyo. Essa modalidade, inclusive, vem aumentando a frequência do estudante no curso. "Antes, se ele perdia a aula, não conseguia mais repor".

Para garantir a qualidade da aula remota, a Ser vem investindo em infraestrutura digital, como equipamentos de som e câmera que acompanha os movimentos do professor. "Todas as salas de aula estarão equipadas assim", diz.

Imagem de relógio e mulher trabalhando no laptop se misturam
Um terço dos profissionais que estão hoje em home office no Brasil pretendem continuam 100% online ao fim da pandemia; no mundo, percentual é de 25%, diz estudo da Ericsson - Getty Images/BBC News Brasil

Atento estuda manter administrativo 100% online

Na empresa de atendimento ao consumidor Atento, foi realizada uma verdadeira operação de guerra para transferir mais da metade do time para o trabalho remoto com o início da pandemia. Hoje, 37 mil dos 72 mil funcionários da empresa no país estão trabalhando a distância. Para os 37 mil, foram enviados notebooks e, principalmente, desktops (90% do total) a cada uma das residências, além dos headsets.

"A Atento fornece uma ajuda de custo para os colaboradores em home office, um valor mensal para pagamento de banda larga de internet e energia elétrica", diz Ana Marcia Lopes, vice-presidente de recursos humanos, responsabilidade social e ouvidoria da Atento Brasil. Não houve ajuda de custo para adaptação ergonômica, diz ela.

"Fizemos uma enquete entre os funcionários e 80% desejam o trabalho híbrido, comparecendo à empresa uma ou duas vezes por semana, para socializar e discutir projetos", diz Ana Marcia. "Estamos estudando otimizar o número de sites [endereços] próprios, para adaptar a esta nova realidade".

Parte dos funcionários trabalha alocada nos endereços dos clientes - empresas de tecnologia, varejo, finanças, aviação, saúde, entre outras. "Alguns dos nossos clientes, por questão de segurança das informações, quis manter as equipes dentro dos seus sites, com distanciamento", afirma.

Do total de funcionários trabalhando a distância atualmente, 3.000 são da área administrativa. "Para esses, estudamos manter o trabalho 100% online".

O estudo da Ericsson apontou que, como resultado do aumento das atividades online, os consumidores vão gastar, em média dez horas extras por semana em frente às telas, mesmo com o fim da pandemia.

"Os consumidores não vão só continuar gerenciando atividades de rotina - como trabalho remoto, estudo a distância, consultas remotas e compras online, mas vão adicionar uma média de 2,5 novos serviços ao que já fazem", diz Vinicius Fiori. "No Brasil, esse número sobe para 3,2 novos serviços", diz.

A tendência de mais internet deve ser incentivada com a chegada da tecnologia 5G, que promete uma revolução nas telecomunicações. De acordo com outro estudo da Ericsson, o "Mobility Report" (Relatório de Mobilidade), o crescimento das assinaturas 5G será mais rápido do que foi com o 4G. Segundo a pesquisa, as atuais 290 milhões de assinaturas do serviço no mundo vão disparar para 3,5 bilhões em 2026 - 34% delas na América Latina.

Depois de tanta tela, sobrará tempo para o lazer presencial? Conforme a Ericsson, sim. "No tempo de lazer, os consumidores vão priorizar viagens, a convivência com amigos e família e a prática de uma vida mais consciente", diz Fiori.

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