Descrição de chapéu Financial Times

Americanos que ajudaram Carlos Ghosn a fugir do Japão são condenados à prisão

Michael e Peter Taylor facilitaram fuga dramática do ex-chefe da Nissan que estava livre sob fiança

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Kana Inagaki
Financial Times

O pai e filho americanos que orquestraram a complicada fuga de Carlos Ghosn do Japão dentro de uma caixa de equipamento de som a bordo de um jato executivo foram sentenciados a dois anos e a 20 meses de prisão por um tribunal de Tóquio, respectivamente.

A punição imposta a Michael Taylor, 60, ex-soldado das forças especiais americanas, e ao seu filho Peter, 28, aconteceu depois de eles terem sido extraditados pelos Estados Unidos este ano.

Os Taylor admitiram a culpa na primeira audiência diante de um painel de três juízes do tribunal distrital de Tóquio, no mês passado. Podiam ter sido sentenciados a até três anos de prisão, e em dado momento argumentaram que ajudar uma pessoa a violar os termos de sua liberdade sob fiança não era tecnicamente um crime, sob uma interpretação possível do código criminal japonês.

Os advogados de Michael também argumentaram que, no entendimento dos americanos, eles estavam ensaiando para um evento futuro, nos dias que conduziram à dramática fuga de Ghosn. Na prática, o que aconteceu foi que o ex-comandante da aliança Renault-Nissan tomou uma decisão de último minuto de escapar imediatamente.

Carlos Ghosn, ex-chefe da Nissan, durante entrevista em Beirute, no Líbano - Mohamed Azakir - 8.jan.20/Reuters

Hideo Nirei, o juiz que preside ao caso, disse que “os dois acusados executaram uma fuga sem precedentes para o exterior”.

“Com base na gravidade do caso e nos papéis desempenhados por ambos os indivíduos, não há como evitar uma sentença de prisão”, ele acrescentou.

Captura de vídeo divulgado pelo departamento de polícia de Istambul mostra Michael Taylor e George Antoine Zayek no controle de passaportes do aeroporto de Istambul - 17.jan.20/AFP

A sentença confirmou o previsto pelos especialistas em leis japoneses.Os Taylor terão o direito de recorrer da sentença dentro de suas semanas.

A pena dos acusados expande as ondas de choque que continuam a reverberar desde a detenção de Ghosn por acusações de delitos de conduta financeira, no final de 2018.

O antigo executivo automotivo estava vivendo em Tóquio, livre sob fiança, e deveria ter sido julgado em 2020. Mas ele fugiu para o Líbano em dezembro de 2019, o que fez de um dos mais carismáticos dos líderes empresariais do planeta um fugitivo internacional e resultou na detenção de diversas pessoas que ajudaram em sua fuga.

Nirei disse que Ghosn não tinha intenção de voltar ao Japão e que não havia perspectiva de o antigo executivo enfrentar julgamento em Tóquio. “As consequências do caso são muito sérias”, ele disse.

Os Taylor foram detidos nos Estados Unidos no ano passado e montaram uma campanha sustentada para evitar a extradição. Desde que chegaram a Tóquio, vinham aguardando julgamento no mesmo centro de detenção, em Kosuge, no subúrbio da capital japonesa, em que Ghosn passou os primeiros 108 dias depois de sua detenção.

Os Taylor passaram 10 meses presos nos Estados Unidos antes de sua extradição, mas Nirei determinou que esse período deveria ser tratado separadamente. O tribunal determinou que Michael desempenhou o “papel principal” no complô e que a participação de Peter foi “menor”, mas ainda assim “imperativa” para concretizar a fuga de Ghosn.

Michael declarou em depoimento prévio que sentiu “simpatia” por Ghosn ao ouvir como o executivo foi tratado pelas autoridades japonesas depois de sua detenção.

Peter disse ter participado porque sua madrinha é parente do ex-presidente da Nissan. Mas o juiz determinou que o relacionamento familiar era distante e concluiu que o principal motivo dos Taylor havia sido financeiro. Ghosn fez US$ 862,5 mil em transferências de dinheiro a uma companhia administrada por Peter; metade do valor foi usado para cobrir a locação dos aviões usados na fuga.

Ghosn continua no Líbano e afirma que sua ousada fuga foi uma tentativa de “escapar à injustiça”. O ex-executivo nega todas as acusações contra ele e é alvo de um mandado internacional de prisão emitido pelo Japão, quanto ao qual o Líbano até agora não agiu.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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