Com tensão política e depois de cair abaixo de R$ 5, dólar tem maior alta semanal desde março

Após três pregões em queda, Bolsa sobe com melhora no mercado de trabalho americano

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São Paulo

Com o risco político em torno da CPI da Covid e após cair abaixo de R$ 5, o dólar teve a maior alta semanal desde março na semana encerrada nesta sexta-feira (2). No período, o real foi a terceira moeda global que mais se desvalorizou, atrás apenas do dólar do Suriname e da nova libra sudanesa, segundo dados da Bloomberg.

O mercado vinha minimizando potenciais impactos vindos das discussões na CPI da Covid-19 instalada no Senado, mas nesta semana os preços sentiram o baque conforme aumentou a pressão sobre o governo diante de denúncias de corrupção na compra de vacinas.

"A tendência é que, com novos depoimentos marcados para a semana que vem, o período turbulento se arraste", disse a XP em nota.

Há receio no Ministério da Economia de que o ambiente prejudique o avanço da agenda econômica no Congresso.

Cédula de um dólar
Dólar encerrou a semana a R$ 5,0540, acumulando ganhos de 2,39% - Gabriel Cabral/Folhapress

Assessores do ministro Paulo Guedes já calculam o risco de o cenário atual de escândalos afetar não só o andamento das reformas tidas como estruturais, como o formato final dos textos em discussão em Brasília.

Mesmo o noticiário sobre reformas desagradou nos últimos dias, com o mercado ainda digerindo o texto da segunda fase da reforma tributária apresentado uma semana atrás, que causou muito mal-estar entre agentes financeiros. O dólar chegou a subir 1,40% no dia da publicação do texto.

Nesta sexta, a moeda americana subiu pelo quarto pregão seguido, indo a uma máxima em duas semanas, a R$ 5,054, leve alta de 0,17%, de acordo com dados da CMA. Após romper a barreira psicológica de R$ 5, é natural que o mercado inverta a tendência e volte a apostar na alta da divisa.

Na semana, a moeda acumulou valorização de 2,4%, a maior alta semanal desde a semana encerrada em 26 de março (4,65%). Naquela época, a valorização da moeda refletia a piora na pandemia de Covid-19 no Brasil e na Europa e a consequente deterioração das expectativas para a economia brasileira e para as contas públicas, com discussões em torno da extensão do auxílio emergencial.

Nas quatro altas consecutivas desta semana, a cotação acumulou ganho de 2,51%. O dólar não registrava essa série positiva desde as também quatro altas vistas entre 24 e 29 de março.

Em duas sessões de julho, a moeda ganha 1,53%, reduzindo a desvalorização no ano para 2,68%.

O tom mais cauteloso no ambiente doméstico ofuscou no Brasil o clima favorável a risco no exterior, após dados de emprego nos Estados Unidos terem vindo melhor do que o esperado.

A folha de pagamento não agrícola dos EUA mostrou criação de 850 mil vagas de trabalho em junho. Apesar da criação de postos de trabalho acima do esperado, a relativa acomodação nos rendimentos e a alta na taxa de desemprego favorecem expectativas de que o Fed (banco central americano) não precisará adotar nenhum movimento brusco em relação aos juros, o que poderia afetar ativos de renda variável.

Em Nova York, o S&P 500 renovou máximas históricas, com alta de 0,75%. Dow Jones ganhou 0,44% e Nasdaq, 0,80%.

Impulsionado pelos dados americanos, o Ibovespa se recuperou de três pregões de queda e subiu 1,55% nesta sexta, a 127.621,65 pontos. Na semana, o índice acumulou ganhos de 0,3%

Embora abaixo do esperado, o avanço de 1,4% na produção industrial em maio, segundo o IBGE, retomando o nível pré-pandemia, endossou o sinal positivo do Ibovespa.

"A atividade no setor de serviços está se recuperando mais claramente no Brasil, ao mesmo tempo em que a atividade no setor de bens segue bem sustentada e se expandindo na margem. Isto deve produzir uma aceleração do crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] no terceiro trimestre de 2021", avaliaram economistas do Itaú Unibanco.

A Bolsa também se beneficia da vinda dos investidores estrangeiros. Nos seis primeiros meses de 2021, houve entrada líquida de R$ 65,6 bilhões, considerando IPOs (ofertas primárias de ações) e follow-ons (ofertas secundárias de ações). Sem levar em conta estas ofertas, o aporte é de R$ 48 bilhões, recorde para um primeiro semestre.

Após a oferta de ações da BR Distribuidora pela Petrobras, que foi precificada na última quarta (30) e cujos papéis passaram a ser negociados nesta sexta, a distribuidora fechou em alta de 2,76%. O follow-on (oferta subsequente de ações) movimentou R$ 11,36 bilhões. Petrobras subiu 0,41%.

Já o BTG Pactual fechou em alta de 4,34%, após concluir a venda de sua participação de 49% na Credpago para a Loft, estimando ganho de aproximadamente R$ 1,4 bilhão com o negócio. No setor, Bradesco avançou 2,39% e Itaú Unibanco subiu 1,08%.

Vale ganhou 2,07%, diante da alta dos futuros do minério de ferro na China.

Ultrapar valorizou-se 4,24%, em sessão de recuperação, após fechar na véspera na mínima desde o começo de março.

Magazine Luiza avançou 4,59%, reagindo após duas sessões consecutivas de queda, quando acumulou declínio de 4,5%. No setor, B2W subiu 1,79% e Via Varejo fechou com acréscimo de 0,91%.

Tegma, que não está no Ibovespa, disparou 12,9%, segunda maior alta do Small Caps, após a JSL anunciar proposta de aquisição pela rival. A transação em dinheiro e ações inclui o pagamento de R$ 989 milhões aos acionistas da Tegma, bem como 49,4 milhões de novas ações da JSL, que avançou 5,97%.

(Com Reuters)

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