Crédito precisa ser mais acessível pós-Covid, diz Nobel da Paz

Yunus defende que exigência de garantia por bancos seja derrubada

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São Paulo

O economista e vencedor do Nobel da Paz Muhammad Yunus criticou a forma como o sistema bancário atua e afirmou que é preciso muitas mudanças no setor para que o planeta consiga se adaptar à nova realidade trazida pela pandemia do coronavírus.

“Muitas pessoas perderam os empregos e a capacidade de gerar renda e nós precisamos de muitas mudanças no sistema bancário para nos adaptarmos [a essa nova realidade]. Não só para atender aos novos riscos, mas atender as pessoas de maneira que todas possam se tornar empreendedoras”, afirmou Yunus, que também é conhecido como “pai do microcrédito”, em um evento promovido pelo Santander nesta quarta-feira (7).

Nobel da Paz e economista Muhammad Yunus, cofundador da empresa social Yunus Social Business Global Initiatives
Nobel da Paz e economista Muhammad Yunus, cofundador da empresa social Yunus Social Business Global Initiatives - Divulgação

“O dinheiro é o oxigênio do empreendedorismo. E nós criamos um mundo em que nenhuma instituição financeira dá esse oxigênio e o aporte inicial que é necessários [aos empreendedores]”, completou Yunus.

O economista, que já vem propondo uma reforma no sistema econômico e social para o mundo pós-Covid desde o ano passado, também afirmou que parte da barreira de entrada dessas pessoas no sistema financeiro eram as exigências para o crédito.

“O mais importante é desconsiderarmos a questão da garantia. Essa é a barreira que impede as pessoas de acessarem o sistema bancário, é uma muralha que o sistema constrói. E a não ser que nós derrubemos essa muralha, não vai funcionar”, disse.

Yunus ficou conhecido como “pai do microcrédito” depois de criar, em 1976, uma instituição financeira dedicada a emprestar recursos a empreendedores de baixa renda, o Grameen Bank.

Segundo o economista, além de facilitar a tomada de dinheiro por parte dos micro e pequenos empreendedores, o banco também tem outro formato, que foge do proposto pelas instituições tradicionais.

“Enquanto o sistema empresta para os mais ricos, nós emprestamos para os mais pobres. Enquanto os bancos tradicionais procuram os homens, nós procuramos as mulheres”, disse.

Segundo ele, atualmente, dos 9 milhões de tomadores de recursos que o Grameen Bank tem em Bangladesh, 97% são mulheres. Nos Estados Unidos, onde a instituição atua em 15 cidades e tem mais de 150 mil tomadores, todas são mulheres.

Para ele, apesar dos desastres e das mortes, a pandemia também traz uma oportunidade para que o sistema econômico tradicional mude e se amplie para os mais pobres.

“Não queremos voltar para o caminho suicida que [o sistema econômico tradicional] estava nos levando. Queremos sair desse trem e encontrar outro, para irmos em uma direção diferente. Para acharmos novos destinos, precisamos construir novas estradas e a pandemia nos dá essa oportunidade”, afirmou.

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