Dólar sobe 2,4%, para R$ 5,209, com tensão política no Brasil e força da moeda no exterior

Receio inflacionário também pesa, e Ibovespa cai 1,43%

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São Paulo

O mercado financeiro brasileiro segue pressionado pelos riscos políticos envolvendo a CPI da Covid e pelos riscos inflacionários, com a crise hídrica e a alta nos combustíveis.

Nesta terça-feira (6), o cenário negativo levou o dólar a subir 2,39%, a R$ 5,2090, segundo dados da CMA. Este é o maior patamar da divisa desde 31 de maio e a maior alta diária desde 18 de setembro de 2020 (2,77%).

Na máxima do pregão, a moeda foi a R$ 5,2130. O dólar turismo está a R$ 5,363.

Com a alta nesta sessão, a moeda americana praticamente se recuperou da forte queda de 4,81% em junho, já acumulando alta de 4,77% em julho e apagando a queda de 2021. Agora, o dólar sobe 0,4% no ano.

Cédulas de dólar
Dólar teve forte alta nesta terça (6) - Gabriel Cabral/Folhapress

"Os possíveis vilões [para o real] vão de temores inflacionários até possíveis desdobramentos da CPI da Covid que aparentemente está próxima demais de queimar as pontes entre o Planalto e o Centrão, uma vez que grandes nomes da aliança política do presidente (contando aí os militares) estão envolvidos no imbróglio dos últimos dias", afirma André Perfeito, economista-chefe da Necton.

O governo de Jair Bolsonaro está envolto em suspeitas referentes a compras de vacinas e, na semana passada, a ministra Rosa Weber, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou a abertura de inquérito para investigar suposto crime de prevaricação do presidente.

“As denúncias de corrupção envolvendo a compra de vacinas pelo governo federal, com novas acusações envolvendo a Davati Medical Supply, a retomada do caso do esquema de ‘rachadinha’ envolvendo Bolsonaro, assim como a perda de força do presidente nas últimas pesquisas, geraram uma tempestade perfeita para o governo”, diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.

Nesta terça, o real foi a moeda que mais se desvalorizou no mundo, segundo dados da Bloomberg, enquanto o dólar ganhou força ante seus principais pares globais.

"O comportamento dos ativos financeiros no Brasil continua refletindo o cenário político, em especial, o desenrolar da CPI da pandemia", explicaram em nota analistas da Genial Investimentos. "As denúncias de corrupção na compra de vacinas têm se constituído em um importante fator de incertezas."

Segundo Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, além dos fatores domésticos, o mercado local também foi influenciado pelo viés negativo dos mercados estrangeiros na sessão. "Isso tudo, combinado com o forte desempenho do real em junho, resulta nessa correção forte", afirma.

O Ibovespa caiu 1,43%, a 125.094,88 pontos, menor fechamento desde 27 de maio, puxado por uma queda de cerca de 4% da Petrobras, que acompanhou o recuo de aproximadamente 3% nos preços internacionais do petróleo.

Ao passo que a crise hídrica se agrava, e o preço da conta de luz sobe, a Petrobras anunciou reajustes nos preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha, que subirão 6,3%, 3,7% e 5,9%, respectivamente. De acordo com analistas, os aumentos nos custos devem gerar uma inflação maior, o que pode pressionar o Banco Central a subir mais a taxa básica de juros (Selic), o que é prejudicial a produtos de renda variável, como ações.

Investidores também estão receosos enquanto aguardam a divulgação da ata da última reunião do Fed (banco central americano) —na qual a autoridade antecipou para 2023 a projeção para um aumento dos juros nos EUA— na quarta (7) e uma resolução da Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados), que teve a sua última reunião cancelada por impasse entre os membros.

"Ano passado a Opep já se encontrou numa disputa com relação à produção e acabou gerando uma guerra de preços. Esse ainda não é o cenário base, mas o mercado já começa ficar receoso", diz Beyruti.

O barril de petróleo Brent (referência internacional) fechou em queda de 3,4%, a US$ 74,53, após atingir o pico de US$ 77,84 na sessão, a máxima desde outubro de 2018.

A Opep+ vive um impasse entre entre a Arábia Saudita, seu maior produtor, e os Emirados Árabes Unidos.

"O mercado está preocupado que os Emirados Árabes Unidos entrem e adicionem barris unilateralmente e outras pessoas na Opep façam o mesmo", disse Bob Yawger, diretor de futuros de energia da Mizuho.

Em Wall Street, o S&P 500 recuou 0,20% e o Dow Jones, 0,60%. Nasdaq teve leve alta de 0,17%, renovando seu recorde de fechamento.

A Bolsa de tecnologia foi impulsionada pela alta de 4,7% das ações da Amazon, que bateram novo recorde, no primeiro pregão após a saída de Jeff Bezos do comando. O fundador foi substituído por Andy Jassy como presidente-executivo.

Somando-se à cautela dos investidores, um aperto regulatório conduzido por Pequim levou a uma liquidação das ações de diversas empresas chinesas listadas nos EUA, incluindo a Didi Global, que chegou a cair mais de 25% na primeira sessão desde que os reguladores chineses ordenaram que o aplicativo fosse retirado do ar, dias depois de seu IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) de US$ 4,4 bilhões na Bolsa de Nova York. A Didi fechou em queda de 19,6%.

Outra preocupação dos mercados internacionais é a ata da última reunião de política monetária do Fed, que pode oferecer pistas sobre quando e como o banco central americano reduzirá seu estímulo e elevará os juros. Qualquer sinalização mais dura com a inflação pode beneficiar o dólar, dizem especialistas.

Além disso, analistas do Bradesco afirmaram em nota que preocupações com os impactos da variante Delta do coronavírus sobre o processo de reabertura da economia global pesam sobre os negócios.

A cepa Delta é altamente transmissível e tem elevado a cautela dos investidores nos últimos dias, principalmente devido à disparada de casos em países asiáticos. Ocorrências dessa variante já foram identificadas no Brasil.

Com o cenário negativo, as ações peferenciais (mais negociadas) da Petrobras caíram 4,09%. Nos poucos pregões de julho, a ação já acumula perda de quase 6%. No setor, PetroRio recuou 5,82%, após cinco altas seguidas, período em que acumulou elevação de 14,5%.

Vale subiu 0,53%, entre as poucas ações do Ibovespa que fecharam no azul, favorecida pelo avanço dos futuros do minério de ferro na China. No setor de mineração e siderurgia, contudo, o sinal negativo prevaleceu, com destaque para CSN, que perdeu 2,13%.

As aéreas Azul e Gol perderam 4,17% e 3,25%, respectivamente, em meio à forte alta do dólar contra o real, além de notícias sobre casos da variante Delta do Covid-19 no país. No setor de viagem, CVC fechou em baixa de 3,63%.

Já os papéis peferenciais do Bradesco recuaram 1,24%, ainda sob efeito dos receios sobre potenciais mudanças tributárias envolvendo cobrança de Imposto de Renda sobre dividendos, bem como viés vendedor na Bolsa como um todo. Itaú caiu 1,11%.

O pior desempenho entre os bancos do Ibovespa na sessão foi do BTG Pactual, que caiu 2,2%, tendo de pano de fundo acordo com a varejista online Privalia. O banco será investidor âncora em um eventual IPO (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês) da companhia.

A Privalia afirmou que a eventual oferta de ações está sendo avaliada pela "companhia e por seus acionistas, sendo que, até a presente data, não há aprovação formal" para a operação e tampouco sobre os termos do IPO. A empresa havia pedido registro para entrar na Bolsa em meados de fevereiro.

(Com Reuters)

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