Ex-Casino vai comandar Carrefour no Brasil com meta de acelerar estratégia digital

Francês Stéphane Maquaire assume o lugar do conterrâneo Noël Prioux, que fica até agosto

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São Paulo

​O francês Stéphane Maquaire, 47 anos, assume no próximo dia 1º de setembro o comando do Carrefour no Brasil com a meta de acelerar a presença da rede no mundo digital. Ele substitui o conterrâneo, Noël Prioux, 62, que estava há quatro anos no cargo.

Maquaire é relativamente novo na rede varejista: entrou em 2019 como presidente do Carrefour Argentina. Mas o seu know-how em negócios digitais, após ter liderado no país vizinho um plano de transformação com foco no cliente, foi decisivo para a sua escolha.

O executivo já atuou na concorrência do Carrefour. Em 2008, ingressou na rede Monoprix, do francês Casino –atual controlador do Pão de Açúcar, Assaí e Extra no Brasil. Foi contratado como diretor financeiro e de desenvolvimento da Monoprix, foi membro do comitê executivo e vice-presidente da varejista, até assumir o comando da companhia em 2013.

Saiu de lá em 2016, para comandar uma reestruturação na varejista francesa de moda e calçados Vivarte. Em 2017, passou a presidir a loja de departamentos suíça Manor, até a sua contratação pelo Carrefour. Engenheiro, Maquaire começou a sua carreira como auditor na Arthur Andersen.

A data da efetiva posse de Maquaire ainda está sujeita à concessão de visto de trabalho pelo Ministério da Justiça.

Carrinhos do Carrefour em loja da rede em São Paulo
Carrinhos do Carrefour em loja da rede em São Paulo - Paulo Whitaker - 26.dez.18/Reuters

O consultor Alberto Serrentino, da Varese Retail, lembra que é normal essa dança das cadeiras em grandes grupos globais. “O grupo conquistou a liderança, o Atacadão está ‘voando’, o negócio alimentar está revigorado, entregando resultados, e agora há uma agenda forte de aceleração digital”, diz. “O Noël já cumpriu sua missão”.

Em dois anos de Carrefour Argentina, Maquaire “elevou substancialmente o índice de satisfação dos clientes”, enquanto a empresa “consolidou sua posição de liderança no país, com significativo ganho de participação de mercado”, diz a varejista, em comunicado. “Stéphane também desempenhou papel-chave na a aceleração do ecommerce na Argentina”.

No texto, o Carrefour diz que o executivo chega ao Brasil em um importante período para a operação, com o fim da conversão das lojas Makro e o início do planejamento de integração do Grupo Big, que ainda está sujeita à aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

“Stéphane dará seguimento à agenda estratégica do Grupo Carrefour Brasil que inclui expansão, aceleração digital e de serviços financeiros, transformação do negócio como resultado das tendências de mercado e a intensificação da agenda ESG da companhia, incluindo o compromisso com a diversidade”.

A empresa destaca ainda que, nos próximos anos, está implementando o plano Carrefour 2022, que envolve “uma intensa mudança para a omnicanalidade, transformação digital e transição alimentar, para que seus clientes consumam ainda melhor, em qualquer lugar”.

O destino de Noël Prioux no Carrefour ainda não foi divulgado. Oficialmente, o atual presidente –que comandou o grupo na recente fusão com o Big, movimento que consolidou o grupo francês na liderança do varejo alimentar no país– continua como diretor executivo da América Latina até o final deste ano.

homem branco ao lado do rio Sena, em Paris
Stephane Maquaire, novo presidente do Carrefour no Brasil, traz o rival Casino no currículo - Divulgação

Sob o comando de Prioux, o Carrefour precisou enfrentar um dos momentos mais difíceis da sua história no país: o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, por um segurança da rede em 19 de novembro de 2020, véspera da comemoração do Dia da Consciência Negra no Brasil.

O episódio gerou fortes protestos em diferentes cidades do país, na esteira do movimento “Vidas negras importam”, desencadeado nos Estados Unidos depois que um homem negro, George Floyd, foi estrangulado e morto por um policial branco em maio do ano passado.

A empresa assumiu a responsabilidade e investiu pesado nas compensações. Só em ações em favor da igualdade racial devem ser aplicados R$ 115 milhões, em compromissos assumidos com autoridades públicas. A viúva de João Alberto, Milena Borges Alves, também recebeu uma indenização cujo valor não foi revelado, mas supera R$ 1 milhão.

O Carrefour tem sido pioneiro na contratação e treinamento dos próprios agentes de segurança –uma vez que, no varejo, a regra é terceirizar o serviço, o que já deu margem a diversos episódios de violência e discriminação, envolvendo diversas redes.

“Queremos profissionais que ajudem os clientes, não que os intimidem”, diz Prioux, em entrevista à Folha. Prioux está no Carrefour desde 1984. Já foi diretor de serviços financeiros na França e comandou negócios do grupo na Turquia, Colômbia, Sul da Ásia e Espanha.

O ponto forte na gestão de Prioux no Carrefour foi justamente a estratégia de “brasilizar” a rede francesa, a fim de fazer frente à tradição do Pão de Açúcar no país. Prioux buscou ampliar o mix de produtos regionais na rede, procurando atender as particularidades do consumidor local.

Na opinião do consultor em varejo Eugênio Foganholo, da Mixxer Desenvolvimento Empresarial, Prioux conseguiu avanços importantes: no Carrefour, o formato hipermercado estava em declínio e ganhou uma sobrevida. No Atacadão, deu impulso para a operação de atacarejo.

“Parte disso se deve à sua gestão, e parte às próprias circunstâncias do mercado”, diz ele, que destaca a compra do Big, antigo Walmart, em março, como o ponto alto do trabalho do francês no país. A rede foi adquirida por R$ 7,5 bilhões.

“No varejo alimentar, a aquisição é a forma mais apropriada de crescimento”, afirma. Em fevereiro de 2020, o Carrefour já havia anunciado a compra do atacadista Makro por R$ 1,95 bilhão.

A compra do Big criou um grupo com faturamento combinado de R$ 100 bilhões, 137 mil funcionários e 876 lojas, segundo dados de 2020. A operação do Brasil é a segunda maior do Carrefour no mundo, só atrás da França.

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