Falta de peças faz montadoras revisarem projeções para 2021

Estudo mostra que 3,6 milhões de veículos deixaram de ser produzidos globalmente no 1º semestre

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São Paulo

A Anfavea (associação das montadoras) revisou para baixo as previsões de produção e vendas para o mercado nacional em 2021. O principal motivo da mudança é a falta de peças para abastecer as linhas de montagem, com destaque para a escassez global de semicondutores.

A entidade prevê agora que 2,46 milhões de veículos leves e pesados serão fabricados neste ano, uma alta de 22% sobre 2020. Há seis meses, a associação calculava que haveria um crescimento de 25%, com 2,52 milhões de unidades.

Embora a demanda esteja aquecida, os problemas nas linhas de produção resultarão em vendas abaixo do esperado. A Anfavea prevê agora que 2,32 milhões de unidades serão emplacadas neste ano, uma alta de 13% sobre 2020.

Antes a expectativa era de 2,38 milhões de licenciamentos, o que representaria um crescimento de 15%.

A retração da indústria automotiva devido à falta de insumos é um fenômeno global. Segundo um estudo feito pela consultoria BCG e apresentado pela Anfavea, 3,6 milhões de veículos deixaram de ser produzidos no mundo no primeiro semestre.

O cenário pode piorar neste segundo semestre, principalmente devido ao aquecimento das vendas de produtos eletrônicos no fim do ano.

Fabricantes de eletrodomésticos, computadores e smartphones competem com as montadoras e seus fornecedores na disputa pelos semicondutores.

A BCG estima que até 7 milhões de veículos podem deixar de ser produzidos em 2021, e a melhora só deve vir no segundo trimestre de 2022.

Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, calcula que entre 120 mil e 140 mil veículos leves e pesados tiveram a produção comprometida pela falta de semicondutores. Como o problema afeta também os importados, o impacto nas vendas é ainda maior.

Alarico Assumpção Jr., presidente da Fenabrave (associação dos distribuidores), disse nesta sexta (2) que, embora houvesse demanda, 200 mil veículos deixaram de ser entregues no primeiro semestre devido à escassez de peças.

Instalações do da VW (Volkswagen Brasil), na fábrica de São Bernardo do Campo, em São Paulo
Instalações do da VW (Volkswagen Brasil), na fábrica de São Bernardo do Campo, em São Paulo - Eduardo Knapp - 28.mai.2015/Folhapress

Sem componentes, as montadoras seguem com paralisações totais ou parciais. Fábricas da General Motors, da Hyundai, da Nissan e da Volkswagen confirmaram interrupções entre os meses de maio e junho, mas todas as empresas têm sido afetadas.

O resultado aparece na queda da produção. Foram montados 166,9 mil veículos leves e pesados no último mês, uma queda de 13,4% na comparação com maio, segundo a Anfavea.

As exportações também foram prejudicadas: 33,5 mil unidades foram enviadas ao exterior no último mês, uma retração de 9,4% em relação a maio.

A comparação entre os primeiros semestres de 2020 e de 2021 mostra uma alta de 57,5% na fabricação. O número impressiona, mas a base comparativa é baixa: em abril do ano passado, por exemplo, somente 1.800 veículos leves e pesados foram montados.

Os estoques seguem baixos, suficientes para atender a 15 dias de vendas. As filas de espera por alguns modelos podem chegar a nove meses, como ocorre no segmento de caminhões.

As montadoras que produzem veículos pesados têm feito operações de guerra para tentar atender aos pedidos. Há modelos semiprontos parados nos pátios, à espera de semicondutores que podem vir em caríssimos voos fretados.

Os esforços para atender ao agronegócio e ao setor de entregas urbanas fizeram a produção de caminhões chegar a 14,6 mil unidades em junho, melhor resultado desde fevereiro de 2014. Na comparação com maio, houve crescimento de 5,3%.

As novas previsões feitas pela Anfavea consideram também os impactos positivos gerados pela alta do PIB e pelo avanço da vacinação, mas consideram também pontos negativos.

O encarecimento dos veículos gerado pela alta nos custos de produção– os reajustes do aço são os que mais têm impactado o setor– e pela desvalorização do real perante o dólar podem afetar a demanda por modelos zero-quilômetro.

Isso ocorre em um momento que as montadoras buscam aumentar a rentabilidade e lançam automóveis mais caros.

Os aumentos no preço dos combustíveis e a possibilidade de reajuste nas taxas de financiamento devido à elevação da taxa básica de juros também foram considerados nas contas da Anfavea.

O presidente da entidade voltou a cobrar mais atenção à indústria nacional. Moraes vê que os investimentos seguem pautados por commodities, enquanto o setor de transformação não tem recebido o devido cuidado por parte do governo federal.

“Além do plano Safra, eu queria ter o Plano Indústria no Brasil”, disse o executivo durante entrevista coletiva realizada nesta quarta (7).

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