Startups oferecem apps para novo modelo de trabalho híbrido

Empresas americanas oferecem de reserva de mesas a 'telepresença'

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Clay Risen
São Francisco (Califórnia) | The New York Times

Antes da pandemia, a Envoy, uma startup de São Francisco, vendia software de registro de visitantes para empresas. O sistema registrava a entrada de convidados e rastreava quem estava chegando a um edifício.

Quando a Covid-19 estourou e forçou as pessoas a trabalharem de casa, a Envoy se adaptou. Começou a rastrear trabalhadores, em vez de visitantes, e passou a oferecer um sistema de verificação para que trabalhadores avaliassem potenciais sintomas do, e exposição ao, coronavírus.

Agora que as companhias começam a reabrir seus escritórios e a promover maior flexibilidade para seu pessoal, a Envoy está mudando de estratégia uma vez mais. Seu mais recente produto, o Envoy Desks, permite que trabalhadores reservem mesas de trabalho para os dias em que forem ao escritório, em uma aposta de que posições de trabalho fixas e jornadas semanais de trabalho de cinco dias já são coisa do passado.

A Envoy é parte de um grupo de startups que estão tentando tirar vantagem da transição dos Estados Unidos rumo a um regime de trabalho híbrido.

Três pessoas conversam sentadas
Reunião de funcionários na sede da Envoy, em San Francisco; produto da startup permite que reserva de mesas quando houver ida ao escritório - Lauren Segal - 6.jul21/The New York Times

Companhias estão vendendo layouts mais flexíveis para escritórios, novos softwares para comunicação por vídeo e recursos de comunicação digital entre integrantes de equipes —e tentando defender o argumento de que o que elas oferecem vai cobrir a distância que separa o trabalho remoto do trabalho em pessoa.

As startups estão disputando posição em um momento no qual número cada vez maior de empresas anuncia planos para regimes de trabalho híbridos, sob os quais os empregados terão de comparecer apenas alguns dias por semana e poderão trabalhar de casa no resto do tempo.

Em maio, uma pesquisa conduzida pela consultoria McKinsey com cem empresas constatou que 90% delas planejavam combinar o trabalho remoto e presencial mesmo depois que fosse seguro retornar ao escritório.

Oferecer recursos para trabalho remoto é potencialmente lucrativo. No ano passado, empresas gastaram US$ 317 bilhões em tecnologia da informação para trabalho remoto, de acordo com a Gartner, uma companhia de pesquisa de mercado. A estimativa da companhia para este ano é de que os gastos cresçam para US$ 333 bilhões.

O trabalho híbrido e remoto tem o potencial de beneficiar trabalhadores para quem o ambiente de escritório jamais foi um bom encaixe, disse Kate Lister, presidente da consultoria Global Workplace Analytics.

Pessoa mexe no celular
Funcionária da Envoy demonstra como funciona o aplicativo da startup para reserva de mesa para um dia de trabalho - Lauren Segal - 6.jul.21/The New York Times

Esse grupo inclui mulheres, minorias raciais, pessoas com responsabilidade por cuidar de parentes, e trabalhadores portadores de deficiências, além dos introvertidos e de pessoas que simplesmente preferem trabalhar em horários estranhos, ou sozinhas.

Mas ela e outros também alertam que a transição para o trabalho híbrido pode transformar os trabalhadores remotos em “cidadãos de segunda classe”.

Os trabalhadores que não compartilhem da camaradagem das reuniões presenciais ou das conversas espontâneas nos corredores da empresa podem terminar sendo preteridos nas promoções e nos aumentos salariais, ela disse. E é aí, argumentam os fundadores das startups, que seus produtos entram.

Rajiv Ayyangar, presidente-executivo e um dos fundadores da Tandem, comanda uma das diversas startups de software que criaram apps para computador que ajudam equipes de trabalho a colaborar melhor, e que recriam a sensação de estar no escritório.

Ele disse que o produto da Tandem envolvia tentar ajudar em termos de “presença” —a capacidade de saber o que os colegas de equipe estão fazendo, em tempo real, mesmo que os trabalhadores não estejam juntos em um mesmo escritório.

O programa da Tandem custa US$ 10 ao mês por usuário, e mostra aquilo em que os colegas estão trabalhando, de modo que os demais trabalhadores possam saber quando um companheiro está disponível para uma conversa de vídeo espontânea via app.

Uma lista de status dos participantes é atualizada automaticamente e informa aos demais trabalhadores se alguém está atendendo o telefone, escrevendo no Google Docs ou realizando alguma outra tarefa.

A Pragli e a Tribe, duas startups de software que existem desde 2019, oferecem produtos semelhantes. O produto da Pragli pode ser usado para criar conversas permanentes em áudio ou vídeo nas quais outros participantes podem ingressar. É um serviço gratuito, embora a empresa pretenda introduzir um produto pago.

O software da Tribe usa um indicador de status como “livre” ou “ocupado” para facilitar conversas em vídeo na plataforma; o app só está disponível para convidados, no momento.

A Owl Labs, uma startup fundada em 2017, também está tentando resolver o problema da “presença”. Ela oferece uma câmera de vídeo que registra imagens em 360 graus, e integra um microfone e alto-falante. O equipamento fica posicionado no centro de uma mesa de reunião, e focaliza instantaneamente a pessoa que esteja falando.

A companhia, que afirma que seu número de clientes quadruplicou, para mais de 75 mil organizações, durante a pandemia, disse que a câmera de US$ 999 era uma forma de os trabalhadores remotos participarem de reuniões no escritório, porque poderiam ver todos os presentes, em lugar da vista limitada oferecida pela câmera de um laptop.

Outras startups, como a Kumospace e a Mmhmm, informaram estar trabalhando na melhora das comunicações em vídeo para trabalho híbrido. A Kumospace, uma startup da área de vídeo, estrutura as chamadas de modo que os usuários possam entrar em uma sala virtual. Depois eles navegam pela sala usando setas direcionais e podem falar com as pessoas ao se “aproximarem” delas.

O design tem por objetivo replicar a socialização pessoal, e o fato de que pessoas podem caminhar por uma sala e se envolver em múltiplas conversas. Isso contrasta com um serviço como o Zoom, no qual todas as pessoas estão em uma mesma conversa, por padrão, assim que ingressam em uma reunião em vídeo.

A Mmhmm, criada por Phil Libin, o fundador do Evernote, um app de anotações e produtividade, oferece diversos backgrounds interativos para vídeos, recursos para compartilhar apresentações de slides e outros recursos para conversas ao vivo e apresentações assíncronas. O app oferece uma versão gratuita e uma versão paga, que custa US$ 8,33 por empregado/mês.

Algumas companhias disseram que seus produtos podem ajudar empresas a compreender seu uso de espaço agora que menos trabalhadores precisarão de mesas.

A Density, uma startup de San Francisco, tem um produto que usa sensores de profundidade especiais para medir quantas pessoas estão entrando em uma área, ou usando um espaço aberto. As companhias podem, com isso, analisar os dados e compreender que proporção de seu espaço de escritório está sendo de fato usada, e reduzi-lo quando necessário.

A Density também planeja oferecer outros recursos de trabalho híbrido. No mês passado, ela adquiriu uma startup de software que oferece um sistema para reserva de mesas e espaços de trabalho.

A Envoy informou que seu novo produto, o Desks, já tinha atraído 400 empresas como clientes, entre as quais o grupo de varejo de roupas Patagonia e a produtora de cinema Lionsgate.

Larry Gadea, executivo-chefe da Envoy, na sede da empresa em San Francisco - Lauren Segal - 6.jul.21/The New York Times

“As companhias que nos usam recebem dados muito mais precisos e padronizados em todos os seus escritórios, em qualquer lugar do planeta”, disse Larry Garcia, presidente-executivo da Envoy. “E aí podem usar esses dados para orientar seu planejamento de espaços, determinar se precisam de mais andares, mais salas de reuniões, mais mesas, ou mais mesas especificamente para uma equipe”.

A Lionsgate afirmou que usa os produtos da Envoy desde antes da pandemia. Quando o coronavírus chegou, ela recorreu ao software de acompanhamento de pessoal da Envoy para oferecer avaliações de saúde àqueles que iam aos escritórios.

Agora que mais trabalhadores estão voltando ao escritório, a companhia está usando a Envoy para administrar o posicionamento de cada empregado e para rastrear quem virá trabalhar em pessoa.

A Lionsgate disse que a informação pode determinar com que frequência as equipes precisarão ir ao escritório.

“Poderemos saber de quanto espaço precisamos realmente”, disse Heather Somaini, vice-presidente de administração da Lionsgate. “E acho que isso será realmente útil”.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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