Descrição de chapéu The New York Times

Startups também entram na corrida espacial

Avanços na tecnologia e novos meios de financiamento atraem investidores

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Erin Woo
The New York Times

Quando Lisa Reich realizou uma chamada com investidores em março para levantar dinheiro para a Aurvandil Acquisition, companhia que compra startups focadas na tecnologia espacial, seu objetivo era captar vários milhões de dólares.

Rich, que é membro do conselho da Aurvandil, quase alcançou seu objetivo em uma hora.

"Isso simplesmente não acontece", disse ela, rindo.

Richard Branson voou ao espaço no domingo (11), em uma nave construída por sua companhia, a Virgin Galactic. Jeff Bezos, que deixou de ser o executivo-chefe da Amazon fez um voo espacial nesta terça (20) em uma espaçonave construída por sua companhia, a Blue Origin. E a SpaceX, de Elon Musk, tem um acordo com a agência espacial americana, Nasa, para levar americanos à lua.

Mas os magnatas estão longe de ser os únicos com o olhar voltado para o céu.

Fábrica da Astra no estado da Califórnia, nos Estados Unidos - Cayce Clifford - 25.jun.21/The New York Times

Investidores estão aplicando mais dinheiro que nunca na tecnologia espacial. Startups espaciais levantaram mais de US$ 7 bilhões em 2020, o dobro da quantia de dois anos antes, segundo a firma de analítica do espaço BryceTech. Essa tendência está continuando neste ano, segundo Carissa Christensen, executiva-chefe da BryceTech.

Os maiores acordos são com empresas que lançam foguetes ao espaço, como a SpaceX e a Relativity Space, que anunciou US$ 650 milhões em dinheiro novo no mês passado, um dia depois de Bezos declarar que voaria ao espaço.

Mas as startups em cada setor da indústria espacial —incluindo lançamento e comunicações via satélite, suporte à vida humana, cadeias de suprimentos e energia— chamam a atenção dos investidores.

A Astranis, companhia de satélites de internet, fechou um acordo de US$ 280 milhões em abril. A Axiom Space, que pretende construir a primeira estação espacial comercial, levantou US$ 130 milhões em fevereiro.

"Nunca vi um mercado como este, nunca", disse Gabe Dominocielo, cofundador da Umbra, startup que desenvolve satélites destinados a tirar fotos independentemente das condições de luz ou do clima.

Chris Kemp, presidente-executivo da Astra, nos túneis de teste da antiga Naval Air Station Alameda; materiais foram reaproveitados por sua empresa - Cayce Clifford - 25.jun.21/The New York Times

"Desde o ano passado, a quantidade de telefonemas que recebi —como startup, geralmente é ela quem faz a ligação para o investidor. Hoje é completamente o contrário."

O sucesso, segundo muitos executivos, analistas e investidores, é alimentado em parte por avanços que tornaram acessível para companhias privadas —não apenas países— desenvolver tecnologia espacial e lançar produtos ao espaço.

Graças à tecnologia desenvolvida para telefones celulares, por exemplo, startups como a Planet podem fabricar e mobilizar satélites capazes de fazer imagens da Terra inteira todos os dias. E as capacidades analíticas permitidas por aprendizagem mecânica, inteligência artificial e computação em nuvem aumentaram a demanda pelos dados que esses satélites produzem.

"Você pode fazer muito mais com um satélite menor e lançar muitos mais deles", disse Mike Safyan, vice-presidente da Planet, "o que acaba permitindo novos tipos de missões que você não poderia fazer se estivesse só construindo um satélite do tamanho de um ônibus escolar, com tecnologia espacial específica, muito cara."

As empresas de satélites também podem hoje pagar para que sua tecnologia pegue carona num foguete, reduzindo em muito as barreiras econômicas. Por exemplo, se um foguete tem uma capacidade de 500 quilos e a carga principal é de 300 kg, outra companhia pode usar 200 kg.

A Astra, startup fundada em 2016, quer tornar ainda mais fácil ir ao espaço, oferecendo lançamentos menores e mais frequentes —posicionando-se como um bloco de construção da indústria espacial semelhante ao papel da computação em nuvem para as startups de internet.

A companhia está competindo no mercado de pequenos lançamentos com outras startups mais estabelecidas, como Rocket Lab, mas espera se destacar visando lançamentos ainda menores e mais baratos.

A Astra agendou seu primeiro lançamento com carga paga para este verão e tem 50 lançamentos contratados, incluindo para a Planet e a Nasa.

"A Astra está aí preenchendo essa lacuna no mercado onde há centenas dessas companhias, todas com novas tecnologias que estão desenvolvendo, e você não quer esperar até o ano que vem quando a SpaceX puder levá-lo para lá", disse Chris Kemp, executivo-chefe da Astra. "Mesmo que seja grátis, mesmo que a SpaceX me pagasse para esperar um ano, o valor de poder ir ao espaço no mês que vem é incrivelmente alto para uma startup que está queimando milhões de dólares por mês."

Chris Kemp, da Astra, diz que poder chegar ao espaço no próximo mês é valioso - Cayce Clifford - 25.jun.21/The New York Times

A SpaceX também está trabalhando em outro marco diferencial: foguetes como o Falcon 9, que tem um lançador reutilizável, e a Starship, desenhada para ser totalmente reutilizável. Em maio, a SpaceX lançou com sucesso e pousou pela primeira vez seu último protótipo da Spaceship.

"A capacidade de reutilizar algo e torná-lo consistente e confiável é transformadora na indústria espacial", disse Rich, que também é fundador da Hemisphere Ventures, que investiu em companhias espaciais desde 2014, e um fundador e executivo-chefe da Xplore, empresa que projeta missões orbitais.

A última onda de acordos também foi conduzida em parte por uma série de companhias de propósito especial de aquisição, como a Aurvandil de Rich. O único propósito dessas companhias de fachada negociadas em bolsa, conhecidas como Spacs, é comprar uma ou mais companhias privadas. Elas são uma das tendências financeiras mais quentes do mundo no último ano.

Da perspectiva das startups, fundir-se com uma Spac é uma maneira eficiente de levantar grandes quantias em uma fase inicial. E também muda o cálculo para os investidores.

Alguns investidores evitaram as startups espaciais no passado porque a tecnologia muitas vezes demora muito mais que o software, como um serviço de rede social ou um app, para ser desenvolvida e gerar receita.

"Se você está numa companhia de software e produz um app que não funciona, você simplesmente produz outro app. Esse fracasso pode custar um ou dois meses de tempo", disse Dominocielo, da Umbra. "Se você tem um satélite, gasta milhões de dólares, e se o satélite falhar você perdeu anos."

Mas as Spacs permitem que as companhias abram seu capital mais cedo que uma oferta pública inicial tradicional, dando aos investidores a oportunidade de captar dinheiro muito antes. O valor da companhia de capital aberto muitas vezes se baseia parcialmente em projeções de crescimento, mais que na receita real.

Peter Forbes, que trabalha na fábrica da Astra no estado da Califórnia, nos Estados Unidos - Cayce Clifford - 25.jun.21/The New York Times)

Dez empresas da indústria espacial anunciaram planos de fusão com Spacs, incluindo seis em 2021. A Astra é uma delas. A fusão com a Holicity dará à Astra cerca de US$ 489 milhões em dinheiro, permitindo que ela se expanda rápido o suficiente para acompanhar o que Kemp chama de demanda "absolutamente insaciável".

"Quando você chega ao ponto em que precisa de meio bilhão de dólares de capital para construir uma fábrica de foguetes, precisa abrir o capital porque está além da etapa de financiamento de risco", disse ele. "É onde as Spacs realmente funcionam."

A Astra começou o processo de fusão em dezembro e abriu o capital na Nasdaq na semana passada.
Ao todo, ela levantou US$ 3,9 bilhões em novos acordos de Spac, e as companhias têm um valor combinado de US$ 20 bilhões, segundo Christensen, da BryceTech.

Fábrica da Astra no estado da Califórnia; estruturas são capazes de segurar foguetes - Cayce Clifford - 25.jun21/The New York Times

Investidores, fundadores e analistas esperam que a indústria espacial continue se expandindo rapidamente. O Morgan Stanley avaliou que o espaço será uma indústria de US$ 1 trilhão até 2040, contra US$ 350 bilhões em 2020.

Christensen disse que os contratos maiores do governo, tanto para missões de pesquisa como para o programa lunar Artemis da Nasa e para objetivos de defesa nacional e militares como o Space Force, deverão continuar puxando o desenvolvimento do setor. Outros veem as viagens espaciais comerciais como a "ferrovia" que vai catalisar o acesso maciço à última fronteira.

"Todo mundo está meio esperando para ver # se Elon consegue disparar a Starship", disse Rick Tumlinson, sócio fundador da firma de capital de risco SpaceFund. "E então haverá uma defasagem quando ele realmente começar a voar, quando as pessoas conseguirem negócios e as coisas que elas querem enviar e o capital, então haverá esse tropeço que ocorre em, eu diria, três anos.

"Para nós, é como a semana antes da internet", disse ele.

Traduzido originalmente do inglês por Luiz Roberto M. Gonçalves

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