'Temos que passar a faca no Sistema S', diz secretário de Guedes sobre bolsa para jovens

Sachsida afirma que geração de baixa renda não pode ser sacrificada por lobby; CNI rebate

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Brasília

O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, defendeu “passar a faca” no Sistema S com o objetivo de se obter recursos para o pagamento de bolsas para a qualificação de jovens carentes.

A intenção do governo é usar recursos do Sistema S para o financiamento de um novo programa voltado ao treinamento profissional de jovens carentes. Mas os dirigentes das entidades resistem à mudança.

“Temos que passar a faca no Sistema S para passar para o jovem carente”, afirmou em live promovida pelo jornal Valor Econômico nesta sexta-feira (23). “Não podemos deixar uma geração inteira de jovens pobres ser sacrificada porque algum lobby não quer dar uma contribuição mais do que justa neste momento”, afirmou.

Homem de paletó olhando para câmera
Adolfo Sachsida, secretário de Política Econômica do Ministério da Economia - Mateus Bonomi-24.jul.2020/Folhapress

Segundo ele, o desenho do programa prevê um pagamento de R$ 550 ao jovem que não tem condições de voltar aos estudos. Metade seria paga pelo Sistema S e a outra metade pela empresa para a qual o indivíduo trabalha.

No exemplo do secretário, o jovem poderia trabalhar pela manhã e à tarde passar por um treinamento profissional de duas ou três horas.

Segundo Sachsida, a previsão é que o programa demande R$ 6 bilhões em recursos do Sistema S –menos de um terço dos cerca de R$ 20 bilhões arrecadados pelo Sistema S.

“Está na hora de o Sistema S ajudar. Temos um sistema que tem bilhões em caixa e em imóveis. Tem dirigentes que ganham R$ 60 mil por mês. É inaceitável esse sistema não aceitar contribuir com um programa de qualificação de jovens carentes”, afirmou.

A fala de Sachsida resgata uma frase de 2018 do ministro Paulo Guedes (Economia). "Como é que você pode cortar isso, cortar aquilo e não cortar o Sistema S? Tem que meter a faca no sistema S também", afirmou Guedes em dezembro de 2018.

Mais de dois anos depois, no entanto, o governo não colocou em prática mudanças permanentes nas regras do Sistema –que reúne entidades como Sesc, Sebrae e Sesi. As empresas pagam contribuições às instituições do Sistema S com base em alíquotas que chegam a 2,5% sobre a folha de pagamentos.

As entidades não são integrantes da administração pública –embora recebam recursos arrecadados por ela (por meio de repasses da Receita Federal). Por causa dessa dualidade, são pessoas jurídicas de direito privado chamadas de "paraestatais".

Depois das declarações, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) criticou o secretário.

“Querer desestruturar o trabalho já realizado pelo Sesi e pelo Senai por meio de uma ‘facada’, na tentativa de enfraquecer duas das principais instituições com capacidade para contribuir com os esforços de reduzir a informalidade e o desemprego no país, isso sim, é condenar uma parcela da população à pobreza”, afirmou em nota Robson Andrade, presidente da CNI.

A CNI afirma ainda que o Senai é a principal instituição de ensino técnico e profissional do país e que já formou mais de 80 milhões de pessoas em oito décadas. A entidade diz que, embora Sachsida "demonstre não saber", o Senai executa três programas criados em 2020 para inclusão de jovens e que as entidades estavam negociando com o Ministério a participação em novos programas via oferta de vagas gratuitas de qualificação.

Durante a live, Sachsida não descartou um impacto nas projeções do PIB (Produto Interno Bruto) decorrente da pandemia e da crise energética vivida pelo país.

"Certamente, a questão da pandemia é a que mais preocupa. Você vê o surgimento de uma nova cepa, existe risco de surgimento de novas cepas e esses riscos têm que ser monitorados de perto", afirmou.

"Sobre a crise hídrica, até o momento estamos trabalhando com projeção de crescimento de 5,3% [para o PIB] neste ano e 2,5% no ano que vem. Se for necessário, teremos que revisar", disse.

Ele afirmou que a crise hídrica é a maior em mais de 90 anos e a grande preocupação é o efeito dela na inflação, que costuma afetar com mais força a população mais carente. Segundo ele, a elevação dos preços deve arrefecer até dezembro e chegar ao fim do ano ao redor de 5%.

O governo elevou a estimativa de inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) neste ano de 5,05% para 5,9%. O valor supera o teto da meta a ser perseguida pelo Banco Central em 2021, de 5,25%.

O IPCA acumula alta de 8,35% em 12 meses terminados em junho. Entre os fatores que pressionam os números, está o aumento do preço dos alimentos, dos combustíveis e da energia elétrica (decorrente das alterações nas bandeiras tarifárias).

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