Big techs apostam em segurança e privacidade para conquistar usuário

Comunicar melhor como as informações são usadas é desafio para empresas do setor

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São Paulo

Acompanhando as pressões regulatórias, as grandes empresas de tecnologia têm investido na tentativa de deixar mais amigáveis informações como as políticas de privacidade e configurações de anúncios. Com isso, a privacidade passa a ser central para empresas, passando a ser um ativo para atrair clientes.

Em uma propaganda deste ano da Apple, um jovem de 30 anos vai a uma cafeteria, ao banco e a uma farmácia. A cada lugar novo, passa a ser acompanhado por milhares de pessoas que sabem tudo sobre sua vida, desde sua data de nascimento até seus gastos mensais.

O comercial mostra ao fim como o usuário pode pedir que não seja rastreado por um app ou site. Quando o personagem central clica em um botão, seus seguidores somem.

"O caso da Apple tem um pano de fundo", diz Bruno Bioni, diretor e cofundador do Data Privacy Brasil.

"Uma das disputas que levam a empresa a fazer essa campanha é a 'third party tracker' [rastreador de terceiros, quando sites usam informações do usuário para fins comerciais ou não]. A mensagem final é: ao utilizar meus serviços, eu, por padrão, posso bloquear quem te rastreia."

Além da propaganda para reforçar como o usuário pode gerir como são usados seus dados, a Apple disponibiliza em seu canal no YouTube vídeos sobre como controlar ajustes de privacidade. A reportagem procurou a empresa, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Um desafio que as big techs enfrentam com as regulamentações exigidas por União Europeia, EUA, Brasil, entre outros países, é como comunicar melhor como as informações são usadas. Para isso, apostam no "privacy by design", uma forma de melhorar a visualização das políticas para os usuários.

Bioni afirma que nem sempre as plataformas que têm interface mais amigáveis são aquelas que têm os melhores padrões e controles dos dados. "Às vezes você surfa pelas informações, mas não sabe qual é seu poder de escolha. Não é só a apresentação, é como empoderar, como dar ao usuário o poder de escolher o quer e o que não quer", diz.

Para manter uma boa relação entre plataformas e usuários, Bioni diz que também é necessária a atuação do governo para incentivar boas práticas. "O Estado deve criar mecanismos para estimular boas políticas públicas, não só punir", afirma Bioni.

"Não basta ter uma LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), tem que ter uma agência regulatória atuante."

Comunicar de uma forma amigável talvez seja a mais importante e a mais difícil tarefa em um contexto de LGPD, pois coletar dados acaba sendo uma informação muito abstrata, diz Bárbara Simão, coordenadora de privacidade do InternetLab.

"Primeiro, as empresas precisam ser transparentes em suas práticas. Para que estão utilizando, qual a finalidade? Estão compartilhando? E por quanto tempo? Se o usuário excluir a conta, isso vai ficar armazenado? Por quanto tempo?."

Nos últimos três anos, Google, Facebook, Instagram e Twitter tiveram tempo para se debruçar em como melhorar a comunicação com o usuário. Apostaram no design para mostrar como configurar preferências de anúncios e como acessar as informações que estão sendo usadas pelas plataformas.

Isabela Cardoso, especialista de privacidade do Google Brasil, afirma que a empresa tem evoluído quanto aos termos de controle de anúncios.

"Acreditamos que os usuários estão ficando mais preocupados com seus dados, e precisamos pensar em maneiras de proporcionar alta performance de anúncios e olhar para privacidade deles", afirma Cardoso.

O Facebook e o Instagram também tornaram mais fácil a visualização, além de colocar lembretes para os usuários verificarem as configurações de privacidade.

Em "Configurações e privacidade", é possível acessar informações, controlar atividades recentes, entender como as informações pessoais são usadas e controlar anúncios.

Em nota, o Facebook afirma que a proteção da privacidade é prioridade e, por isso, desenvolvem ferramentas para melhorar o controle sobre informações.

“Por meio delas, é possível definir quem pode ver o que elas compartilham e como podem ser encontradas nas nossas plataformas por outros usuários. Além disso, as pessoas podem escolher quais informações são usadas para que vejam anúncios publicitários nas nossas plataformas".

O Twitter também segue o mesmo caminho das duas plataformas, passando as informações sobre privacidade com textos curtos e menos burocráticos.

Na central de "Configurações e privacidade", o usuário pode ajustar preferências de anúncios, se quer ou não compartilhar dados com parceiros comerciais e gerenciar como as informações são usadas.

“Com o objetivo de aumentar o conhecimento e o uso das ferramentas de privacidade, em janeiro passado todos os usuários do Twitter Brasil tiveram que revisar suas configurações”, diz Renato Monteiro, líder do conselho de proteção de dados do Twitter para América Latina.

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