Bolsa e dólar caem em dia de ruído fiscal, político e com expectativa de mais alta de juros

Dólar caiu 0,95%, na maior baixa em duas semanas, Ibovespa encerrou em queda de 0,66%

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São Paulo

​O noticiário político e fiscal no ambiente doméstico mais uma vez deu o tom das movimentações na Bolsa de Valores brasileira.

Investidores mantiveram no radar a possibilidade da votação da reforma tributária nesta quarta-feira (11), questões relacionadas à CPI da Covid-19 e falas do diretor de política monetária do Banco Central, Bruno Serra, sobre uma possível aceleração no ritmo de alta da taxa básica de juros para controlar a inflação.

Outro ponto também citado entre analistas foi o jabuti na PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos precatórios: um trecho inserido no texto autoriza o Executivo a descumprir a regra de ouro das contas públicas sem um aval específico do Congresso.

A regra de ouro impede que o governo se endivide para pagar despesas correntes (como salários e aposentadorias). Isso só pode ocorrer hoje quando o Congresso autorizar o endividamento para finalidades precisas, e após votação por maioria absoluta.

Funcionários trabalham na Bolsa de Valores de Nova York
Funcionários trabalham na Bolsa de Valores de Nova York - Wang Ying - 28.fev.2020/Xinhua

O Ibovespa, principal índice acionário do país, encerrou em queda de 0,66%, aos 122.202 pontos. No câmbio, os investidores também repercutiram a ata do Copom e o dólar caiu 0,95%, a R$ 5,1960, na maior queda em duas semanas.

No exterior, os índices em Wall Street voltaram a fechar em máximas recordes depois de o Senado dos EUA ter aprovado um pacote de infraestrutura de US$ 1 trilhão (R$ 5,2 trilhões). Dow Jones e S&P encerraram em altas de 0,46% e 0,10%, respectivamente, enquanto Nasdaq fechou em queda de 0,49%.

“O mercado voltou a ficar desconfortável com a reforma tributária, cuja versão final só vamos conhecer efetivamente quando o texto for mandado para [o plenário da] Câmara. Fora os debates que voltaram à tona sobre a CPI da Covid-19 e o desfile de carros da Marinha, que geraram bastante ruído e trouxeram bastante volatilidade para o mercado”, afirmou o diretor de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno.

Nesta terça-feira (10), o tenente-coronel da reserva Helcio Bruno de Almeida, amparado por um habeas corpus concedido pelo STF (Supremo Tribunal Federal), optou por não responder perguntas na CPI da Covid que pudessem incriminá-lo, principalmente aquelas referentes à disseminação de fake news e às tratativas para a venda de vacinas contra a Covid-19.

Também nesta terça, cerca de 40 veículos da Marinha entre blindados, caminhões e jipes, fizeram uma parada militar por Brasília. O desfile, patrocinado por Jair Bolsonaro (sem partido), foi interpretado como uma tentativa de demonstração da força do presidente e foi alvo de uma série de críticas do meio político.

Em nota divulgada na véspera, a Marinha afirmou que o desfile já havia sido planejado antes do anúncio da data da votação da PEC do voto impresso nesta terça e que não há nenhuma relação entre os dois acontecimentos ou com qualquer ato em curso nos Poderes da República.

“Outro ponto que tivemos durante a tarde foi uma fala do Bruno Serra, na qual comentava uma preocupação em relação aos preços. O Brasil ainda corre atrás da inflação, o que nos leva a crer em uma tendência de alta de juros. Nesse sentido, os mercados acabaram realizando [lucros], empurrando o Ibovespa para baixo”, disse Moliterno.

Serra afirmou nesta terça que a autoridade monetária fará o que for necessário para levar a inflação para a meta em 2022 e 2023 e não descartou acelerar ainda mais o ritmo de alta da taxa básica de juros (Selic) caso o cenário econômico piore.

Em ata divulgada nesta terça, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central também afirmou que o risco fiscal, quando há possibilidade de desajuste nas contas públicas, foi preponderante na decisão de acelerar o ciclo de alta da Selic.

Na última quarta-feira (4), o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC elevou a Selic em 1 ponto percentual, maior alta em 18 anos. Os juros foram para 5,25% ao ano. Para a próxima reunião, em setembro, o Comitê indicou que fará nova alta na mesma magnitude.

“O mercado também reagiu à divulgação da ata do Copom, que trouxe um posicionamento um pouco mais duro, dando indícios que o aumento de juros ainda pode acontecer e a intenção é trazer uma retração na inflação. O Ibovespa acaba caindo diante da percepção que o juros [mais altos] impactam negativamente o mercado de renda variável”, disse a analista de investimentos da Toro, Stefany Oliveira.

A temporada de balanços corporativos também continuou a influenciar na Bolsa brasileira. Nesta terça, Iguatemi foi a pior baixa do Ibovespa. A leitura do mercado, mesmo depois de o shopping ter reportado um salto de 502,8% no lucro do segundo trimestre, foi de que o resultado ainda está longe dos níveis pré-pandemia.

O aumento da receita com a gradual reabertura de shoppings da empresa também acabou sendo ofuscado, em parte com o efeito de descontos concedidos a lojistas.

Outros papéis do segmento de varejo, como Lojas Americanas e Ambev, também terminaram em quedas de 2,72% e 2,73%, respectivamente. As ações do setor financeiro, que tiveram um dia de realização após recentes altas, ficaram no vermelho. O destaque negativo foi o Banco do Brasil, que recuou 2,53%.

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