Descrição de chapéu CRISE ENERGÉTICA

Brasil já perdeu meia Itaipu com esvaziamento dos reservatórios

Menor nível de água reduz potência de hidrelétricas e retira 7 GW do sistema, diz consultoria

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Rio de Janeiro

O Brasil tem hoje 30 hidrelétricas já sofrendo perda de potência por causa dos baixos níveis dos reservatórios, estima a consultoria Volt Robotics. O impacto na geração de energia soma 7 GW (gigawatts), o equivalente à metade da capacidade de Itaipu, a segunda maior hidrelétrica do mundo.

Segundo a Volt, a perda de potência ocorre em usinas que hoje operam com menos de 25% de sua capacidade de armazenamento de água. Elas somam uma potência instalada de 23,5 GW, o equivalente a um quinto da capacidade hidrelétrica brasileira, e as perdas tendem a se acentuar na medida em que os rios continuem baixando.

No limite, podem até deixar de gerar energia, ou gerar com um número reduzido de turbinas. Nesta quinta-feira (26), o presidente Jair Bolsonaro admitiu esse risco. "Estamos no limite do limite. Algumas [hidrelétricas] vão deixar de funcionar se essa crise hidrológica continuar existindo", disse.

Segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), algumas dessas usinas podem chegar a novembro com menos de 10% de sua capacidade de armazenamento de energia, caso o país não consiga novas fontes de geração e não tenha sucesso no incentivo à economia de luz.

A possibilidade de perda de potência é uma das principais preocupações do setor elétrico brasileiro hoje, já que o país depende de toda a geração disponível para atender à demanda nos horários de maior consumo no fim do ano. Caso o balanço seja negativo, é grande a chance de apagões localizados.

O diretor-geral da Volt Robotics, Donato da Silva Filho, explica que a potência que uma hidrelétrica consegue entregar está relacionada ao tamanho da queda d'água. Na medida em que o reservatório baixa, portanto, o risco de perda de potência é maior.

Ele calcula que a perda começa a ocorrer quando o nível fica abaixo dos 25%. Entre as 15 usinas com maior perda de potência atualmente, 11 estão na bacia do rio Paraná, o mais importante polo de geração hidrelétrica do país.

"Por isso, a urgência de reduzir o consumo nos horários de ponta [quando a demanda é maior]", afirma. Este mês, o governo lançou um plano para incentivar grandes empresas a deslocar parte de sua produção para horários com menor consumo em troca de bonificação.

Na quarta (26), anunciou as bases para um programa semelhante voltado a consumidores de menor porte, como residência e pequenos comércios, com descontos na conta de luz para quem cumprir determinadas metas. Os detalhes, porém, ainda não foram divulgados.

Os dois programas são parte de um esforço para tentar chegar ao verão sem a necessidade de racionamento compulsório ou sem risco de apagões localizados por falta de potência. Em outras frentes, o governo vem tentando gerir os reservatórios para melhorar o atendimento.

Ainda assim, o ONS estima que o país precisa adicionar 5,5 GW médios à oferta de energia entre setembro e novembro. O volume equivale à geração atual da usina de Itaipu, a maior do país, que também vem sendo prejudicada pela seca.

Seu último relatório sobre o balanço energético traz duas projeções para os meses que restam do período seco, que normalmente se encerra em novembro. No primeiro cenário, sem a oferta adicional, o nível médio dos reservatórios do Sudeste e do Centro-Oeste chegará a 8% no fim de novembro.

Neste caso, quatro das usinas da bacia –Furnas, Mascarenhas de Moraes, Nova Ponte e Emborcação– chegariam ao final de novembro com apenas 3% da capacidade, bem abaixo dos níveis mínimos históricos, entre 6% e 11%.

No segundo cenário, com aumento da oferta, o nível médio no fim do período seria de 11,3%. Para a região Sul, que também vem sendo castigada por forte seca nas últimas semanas, a previsão é que o nível médio dos reservatórios chegue a novembro entre 6,7% e 10,1%, dependendo da disponibilidade de oferta adicional.

Mesmo no cenário de adição de nova capacidade de geração, o balanço de potência se manterá apertado no fim do período, passando de um superávit de 15,9 GW em setembro para apenas 144 MW (megawatts) em novembro. Sem ela, há risco de déficit.

"É imprescindível para o atendimento energético assegurar o aumento da oferta", resume o operador. O governo lançou chamadas para buscar térmicas sem contrato e viabilizar o aumento da importação de energia do Uruguai e da Argentina.

O ONS pede ainda a postergação de manutenções programadas em usinas, o aumento da oferta de gás natural para térmicas no Ceará e a solução de questões jurídicas que impedem o funcionamento de cinco térmicas hoje paradas, entre outras medidas.

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