Carlos Zarlenga surpreende mercado e deixa presidência da GM América do Sul

Montadora vem perdendo posições no ranking brasileiro de vendas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Carlos Zarlenga não é mais o presidente da General Motors na América do Sul. A notícia divulgada nesta quarta (25) surpreendeu o mercado automotivo e ocorreu no momento em que a montadora vem perdendo posições no ranking nacional de vendas.

Em nota, a fabricante afirma que Zarlenga decidiu deixar a GM para buscar outras oportunidades.

“A empresa nomeará um sucessor para liderar a região em breve. Nesse ínterim, o diretor financeiro da GM América do Sul, Roberto Martin, conduzirá os negócios temporariamente”, diz o comunicado.

Zarlenga já chegou em tempos de crise. O executivo de 48 anos assumiu a montadora no Brasil em setembro de 2016, ano de forte queda nos emplacamentos de veículos. Antes ele havia sido presidente da empresa em seu país de nascimento, a Argentina.

A partir de abril de 2019, Zarlenga acumulou a presidência da montadora na América do Sul com a missão de conduzir a retomada –que foi interrompida pelo novo coronavírus.

Um pedido de demissão como esse é um fato raro entre as montadoras americanas que, por tradição, conduzem seus processos sucessórios de forma sigilosa e organizada. Quando um alto executivo deixa o comando, já há outro pronto para assumir o posto imediatamente.

O agora ex-presidente viu a montadora passar por momentos difíceis em meio à pandemia. Os carros da marca Chevrolet foram os mais afetados pela escassez de semicondutores, que interrompeu a produção do compacto Onix por cerca de seis meses.

Os problemas começaram em fevereiro, com interrupções pontuais. Houve retomada em abril, mas a linha de montagem localizada em Gravataí (RS) parou novamente em maio. O retorno em um turno só ocorreu no dia 16 de agosto.

Em nota divulgada no início do mês, Zarlenga disse que a montadora iria começar a atender os milhares de clientes que aguardam pelos carros, produzidos em versões hatch e sedã.

Para contornar a crise, a GM anunciou uma série de lançamentos ainda em 2021, além de confirmar uma nova geração da picape Montana para 2022. Contudo nenhum modelo será capaz de cobrir o buraco deixado pelo Onix nos últimos meses.

Zarlenga evitou dar entrevistas neste ano, apesar de ser um dos executivos com menos “papas na língua” do setor automotivo.

Em maio de 2020, quando a pandemia de Covid-19 fazia o Brasil mergulhar em mais uma crise, o executivo criticou o apagão da indústria nacional e a desvalorização do real.

“A localização é uma questão crítica para reduzir a exposição ao câmbio, temos focado nisso já há algum tempo. Mas, claramente, os níveis atuais ainda deixam uma grande parte do nosso negócio exposta, o real tem sido uma das moedas com pior desempenho de todos os mercados emergentes”, disse à Folha.

“Isso afeta drasticamente a lucratividade da indústria e da GM. A maioria das empresas de automóveis está perdendo dinheiro, e o colapso extraordinário do real faz esse cenário ficar insustentável.”

Essa não foi a primeira vez que Zarlenga considerou o cenário insustentável. Em janeiro de 2019, primeiro mês do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), o executivo assinou um memorando que foi enviado a funcionários expondo a situação complicada da empresa no Brasil.

O texto dizia que, após incorrer em fortes perdas nos últimos três anos, a operação da GM no país havia atingido um momento crítico que exigia sacrifícios de todos.

O memorando mencionava uma fala da presidente global da montadora, Mary Barra.

“Barra deu sinais de que a GM está considerando sair da América do Sul. O Brasil e a Argentina, os maiores mercados sul-americanos da GM, continuam sendo desafiadores.”

A situação mudou desde então. A montadora passou a se dedicar a modelos de maior valor agregado e confirmou um investimento de R$ 10 bilhões entre 2019 e 2024.

As últimas ações públicas de Zarlenga à frente da montadora foram os anúncios dos novos produtos.

Apesar das dificuldades, a empresa tem obtido bons resultados comerciais com a picape S10 e faz o possível para atender os pedidos pelo Chevrolet Tracker, que também enfrenta problemas de produção em São Caetano do Sul (Grande São Paulo).

No comunicado divulgado pela montadora, o presidente da GM Internacional, Steve Kiefer, agradeceu a liderança de Zarlenga na região desde 2013.

“Carlos levou a marca Chevrolet à liderança de mercado no Brasil e manteve-a na América do Sul”, disse Kiefer.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.