Dois tuítes publicados no perfil de um diretor da empresa dona da marca de arroz Prato Fino, do Rio Grande do Sul, com críticas ao SUS (Sistema Único de Saúde) e a uma das vacinas contra o novo coronavírus, levantaram pedidos de boicote à marca nas redes sociais.
As publicações que apareceram no perfil de Fábio Rigo, no Twitter, diziam que depois de ter reações como náusea, vômito e problemas estomacais por três semanas, após a segunda aplicação da vacina AstraZeneca, ele só voltaria a se vacinar quando pudesse comprar “o que tiver de melhor à venda”.
No início do texto, quem escreve ressalta: “eu não sou de politizar a vacina”.
No segundo tuíte, o texto sobe o tom: “E pau no cu do SUS. Quero é que seja vendido. Quem pode mais chora menos. Lei da selva. Tive Covid e não me fez cócegas. Prefiro o Covid do que essa merda de vacina”.
A reportagem procurou a Pirahy Alimentos, empresa dona da marca Prato Fino, pelo telefone comercial. Dois funcionários confirmaram que o perfil, agora desativado quando pesquisado na plataforma, pertence de fato a Rigo, que é diretor na companhia.
Um funcionário identificado como do setor de marketing, mas que não quis divulgar o nome, afirmou que a posição da empresa estava "amplamente divulgada" nas suas redes sociais.
Ele disse ainda que a empresa não tem nenhum tipo de posicionamento autorizado a ser publicado na Folha ou outro meio de comunicação.
Na nota, publicada em seus perfis na quinta-feira (26), a Pirahy Alimentos afirma: "A Pirahy Alimentos informa sobre o ataque hacker ocorrido nas redes sociais de um de seus diretores e alerta a população que atente-se para golpes, geração e multiplicação de informações falsas".
Os comentários nas publicações da nota nos perfis da marca, tanto no Facebook, como no Instagram, apareciam como limitados no fim da tarde desta sexta-feira (27).
Em outras publicações no perfil da Prato Fino, internautas comentaram cobrando sobre os comentários publicados no perfil do diretor, citando marcas concorrentes, e com hashtags como "#boicotepratofino," VivaoSUS e "#pratofinonuncamais".
"Arroz prato fino a gente ignora na prateleira do mercado, valeu?", escreveu um deles.
“O público está exigente, está muito atento a esse tipo de reação com qualquer marca, qualquer empresa, qualquer pessoa da marca. Não interessa se é só o líder, uma pessoa de alta posição da empresa, o que interessa é quando se manifesta contra algo que não está conciliando com a opinião pública”, avalia professor da ESPM Fábio Mariano Borges, especialista em tendências e comportamento de consumidor.
O especialista pontua ainda que para lidar com crises do tipo, as empresas devem aceitar a pena imposta pelo público e buscar se posicionar para a cidadania.
“Liderança é paga para ter responsabilidade. Como lida com a crise? Respondendo, assumindo a crise, assumindo o erro”, diz Borges.
Para Diego Wander, professor da Escola de Comunicação, Artes e Design - Famecos, da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), as cobranças mais frequentes se devem a fatores como a potência de reverberação das mídias sociais e a crescente expectativa da sociedade de que as organizações sejam protagonistas no enfrentamento de problemas sociais.
“Cada vez mais, as pessoas correlacionam seus comportamentos de consumo a um ato de convicção. Então, eu compro se aquela marca demonstra alguma afinidade ideológica comigo, se expressa valores com os quais eu me identifico, senão, eu deixo de comprar. Esse é um comportamento crescente e que acaba, inclusive, gerando boicotes”, explica ele.
No gerenciamento de crises, diz ele, caso a organização não consiga prevenir certas situações, a recomendação é dialogar com o público nas redes sociais e apresentar narrativas claras e argumentos consistentes.
“Geralmente, [críticas] são expressões de grupos bastante vigilantes e que conseguem ter uma força enquanto grupo. O que a gente percebe do ponto de vista de venda, de consumo, é que são eventos um pouco transitórios, porque acabam durando um período de tempo e depois a marca consegue recuperar”, aponta.
No ranking do Irga (Instituto Rio Grandense do Arroz) de arrecadação das principais indústrias beneficiadoras e de exportação de arroz no Rio Grande do Sul, em 2020, a Pirahy Alimentos ficou na terceira posição.
O ranking tem por base dados divulgados pela Secretaria Estadual da Fazenda, que arrecada a Taxa de Cooperação e Defesa da Orizicultura (CDO). Em seu site, o Irga informa que o levantamento considera a arrecadação total do tributo, não apenas pelo beneficiamento do arroz, com o percentual de participação da empresa.
A Pirahy, de acordo com informações no site da empresa, atua em todos os estados das regiões Sul e Sudeste, além de Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Bahia e Ceará. Criada em 1975, a empresa tem sede em São Borja, na fronteira com a Argentina.
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