Empresário tetraplégico lança shopping virtual para pessoas com deficiência

Hamilton Oliveira mantém blog sobre moradia adaptada há nove anos

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São Paulo

O empresário Hamilton Oliveira, 33, usou a pandemia para lançar a partir de sua casa, em Santo Antônio de Jesus (BA), um site que conecta vendedores e compradores de produtos para pessoas com deficiência.

Evitando sair desde março do ano passado, por causa da pandemia, Oliveira, que é tetraplégico, conduz o negócio sozinho a partir de sua cama, adaptada com uma mesinha e uma almofada para que ele escreva no teclado usando o dedo polegar,.

Entre as principais atividades do empresário neste início de negócio estão fazer contato com centenas de lojistas, incluir produtos e fotos com descrições para quem não enxerga e cuidar da divulgação nas redes sociais. "Tenho cem itens na fila para adicionar no site", afirma.

Hamilton Oliveira, criador do site Mercado Adaptado, marketplace para produtos destinados a pessoas com deficiência - Hamilton Oliveira/Arquivo Pessoal

O empresário vem participando desde o ano passado de uma série de programas para aperfeiçoar suas ideias. Participou do JA É (Jornada de Apoio a Empreendedores), da aceleradora de negócios sociais Artemisia, e passou pela aceleradora carioca Sai do Papel. Na última sexta (20), se preparava para fazer atividade de gestão financeira com mentor da Anjos do Brasil, associação de investidores em startups.

O plano é, depois de ter números que indiquem que o modelo de negócios de sua startup funciona, levantar recursos com investidores em breve para formar uma equipe que possa dividir o trabalho, diz Oliveira.

"Acordo às 6h e vou até às 22h. Para fazer tudo o que faço hoje. É cansativo, não vou conseguir manter esse ritmo para sempre", diz Oliveira, que conta sentir dores nas costas quando o trabalho é excessivo.

Oliveira diz que a ideia do site surgiu após nove anos de trabalho em seu blog Casa adaptada. A página começou como um diário sobre ajustes que o empresário fazia em seu lar para poder voltar a viver sozinho após o acidente de carro que limitou seus movimentos.

Entre as adaptações estão a instalação de grandes portas de correr no banheiro para facilitar a passagem, instalação de espelhos inclinados para que ele possa se ver melhor e o posicionamento de um frigobar ao lado de sua cama, conta.

Com o tempo, Oliveira foi incluindo colaboradores e novos conteúdos em seu site, como notícias, quadrinhos, dicas de finanças pessoais e contos eróticos. Mesmo assim, a atividade não gera lucro, conta.

Sua ideia com o novo projeto aproveita os contatos que fez durante esses anos de produção de conteúdo, que o levaram a acumular mais de 50 mil seguidores no Instagram, para fomentar um mercado que Oliveira considera incipiente.

De um lado, empresas que vendem para pessoas com deficiência têm pouca visibilidade para seu consumidor e, de outro, o comprador ainda tem dificuldade para conhecer produtos e comparar preços, afirma.

"Compro muito do Mercado livre, da Amazon. Tudo meu é delivery. Queria ter um lugar nosso, feito pela gente e para a gente", diz.

Para pagar suas despesas e financiar seus projetos, Oliveira conta com uma aposentadoria do Banco do Brasil, onde trabalhava como escrevente até sofrer o acidente que limitou seus movimentos há 11 anos. Complementa sua renda com atividades pela internet: Oliveira diz que já vendeu milhas aéreas, investiu em criptomoedas, revendeu cosméticos e até caiu em pirâmides financeiras.

"A vida do tetra é muito custosa. Tem remédios, sonda, cuidadora, muito material. Só o salário não dá", diz.

Oliveira diz que o Mercado Adaptado tem 30 lojas cadastradas, 8 delas já com seus produtos online.

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