Incêndio em grande bateria da Tesla alimenta preocupações sobre riscos do lítio

Novo incidente surge em momento no qual as empresas de energia de todo o planeta passam a depender mais do lítio-íon para armazenar energia renovável

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Henry Sanderson
Londres | Financial Times

Um incêndio em uma das maiores instalações de baterias da Tesla no planeta atraiu atenção renovada para os riscos das baterias usadas para armazenar energia gerada por fontes renováveis para uso posterior nas redes elétricas.

Foram necessários três dias para apagar o incêndio iniciado em um contêiner de navegação que abrigava uma bateria de lítio-íon de 13 toneladas, em Moorabool, perto de Geelong, na Austrália; o incêndio atingiu um segundo conjunto de baterias.

O projeto “Victorian Big Battery”, que usa baterias Tesla Megapack, é o maior na Austrália, com 210 conjuntos de baterias capazes de armazenar até 450 megawatts/hora de energia para uso na rede elétrica.

Incêndio em uma das maiores instalações de baterias da Tesla em Moorabool, na Austrália - Handout/Fire Rescue Victoria/AFP

Propriedade da Neoen, uma empresa francesa de energia renovável que também opera o sistema, ele deveria entrar em operação antes do período de pico de demanda do verão, este ano. A Neoen disse que era cedo demais para dizer qual seria o efeito do incêndio, e os testes só poderão ser retomados quando as condições de segurança forem satisfeitas.

O incidente surge em um momento no qual as empresas de energia de todo o planeta, da Austrália à Califórnia, estão dependendo cada vez mais de baterias de lítio-íon para armazenar energia renovável solar e eólica. O mesmo tipo de bateria usado em carros elétricos pode ser usado para armazenar energia de uma maneira que permite que ela seja distribuída rapidamente para a rede elétrica.

A quantidade de equipamentos de armazenagem de energia colocada em uso no ano passado subiu em 62%, de acordo com a consultoria Wood Mackenzie, e o mercado deve crescer em 2.700% até o final da década.

Mas já aconteceram 38 grandes incêndios em baterias de lítio-íon desde 2018, de acordo com Paul Christensen, professor da Universidade de Newcastle.

Em Pequim, um incêndio em uma instalação de baterias de lítio-íon em abril matou dois bombeiros e 235 bombeiros foram necessários para controlá-lo. Em setembro, uma grande bateria de lítio-íon em Liverpool, propriedade da Orsted, uma empresa dinamarquesa de energia renovável, pegou fogo de madrugada.

As baterias de lítio-íon podem se incendiar depois de um processo conhecido como “descontrole térmico”, que resulta quando a bateria é sobrecarregada ou comprimida. Isso produz calor e uma mistura de gases, que depois são liberados em forma de uma nuvem de vapor e podem entrar em ignição ou causar uma explosão.

Em 2019, no Arizona, um grande incêndio em baterias de lítio resultou em uma explosão que lançou um bombeiro a mais de 20 metros do contêiner em que as baterias estavam localizadas, causando-lhe fratura nas costelas e uma lesão cerebral. O incêndio começou depois de um curto-circuito em uma célula de uma bateria de lítio-íon, de acordo com um relatório divulgado depois do incidente.

“Por conta da liberação de gases, não temos uma resposta definitiva sobre qual seria a melhor maneira de lidar com um incêndio em um EV [veículo elétrico] ou em uma instalação de armazenagem de energia”, disse Christensen.

“Elas [as baterias de lítio-íon] são essenciais para a descarbonização do planeta, mas sua penetração na sociedade avançou muito além de nosso nível atual de conhecimento sobre os riscos e perigos associados a seu uso”, ele disse.

Na Austrália, os bombeiros usaram aparato de respiração e trajes protetores completos ao tentar conter as chamas, de acordo com o Fire Rescue Victoria, o serviço estadual de bombeiros. “Drones” também foram utilizados.

Matt Deadman, o encarregado de combustíveis e sistemas de energia alternativos no Conselho Nacional de Chefes de Bombeiros do Reino Unido, disse que os incêndios em baterias de lítio-íon queimam por muito mais tempo do que incêndios convencionais, e que a água só reduz sua expansão.

“Para extinguir a chama é necessário esfriar a bateria, mas as baterias de lítio-íon produzem oxigênio sozinhas quando se rompem —o que vai levar a novos focos de incêndio; nós tiramos o máximo possível de calor delas”, ele disse.

“No momento, confiamos em métodos testados e efetivos de combate a incêndios, usando água, o que é efetivo mas não resolve completamente essas coisas, pelo menos não tão rápido quanto gostaríamos”, disse Deadman.

A Tesla anunciou no mês passado que a receita mensal de seu negócio de armazenagem e geração de energia, que inclui a venda de baterias Megapack, mais que dobrou no trimestre mais recente, para US$ 801 milhões.

Elon Musk, o presidente-executivo da empresa, disse que variantes mais seguras da tecnologia de lítio-íon, como as baterias de lítio-íon fosfato —que usam fosfato e ferro em lugar de níquel e cobalto— são adequadas para grandes instalações de baterias.

Gavin Harper, pesquisador na Universidade de Birmingham, disse que “é essencial que não sufoquemos as novas inovações, já que é imperativo que promovamos uma descarbonização rápida, mas ao mesmo tempo precisamos adotar uma abordagem cautelosa ao empregarmos tecnologias novas em larga escala”.

Tradução de Paulo Migliacci

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