Descrição de chapéu indústria inflação

Inflação na indústria até julho supera alta registrada em todo o ano de 2020

IPP, calculado pelo IBGE, chegou a 21,39% nos sete primeiros meses de 2021

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Rio de Janeiro

A indústria brasileira voltou a registrar aumento nos custos, mostra o IPP (Índice de Preços ao Produtor). Em julho, os preços para os produtores do setor subiram 1,94%, a maior alta dos últimos três meses.

Com o resultado, o acumulado do ano, que está em dois dígitos, chegou a 21,39%. É o recorde da série histórica, iniciada em dezembro de 2014, para o período até julho.

Mais do que isso: a variação em sete meses já é maior do que a verificada em todo o ano de 2020 (19,38%). O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), responsável pela pesquisa, divulgou os resultados nesta sexta-feira (27).

No acumulado de 12 meses, a taxa alcançou 35,08% —está entre as quatro maiores da série.

O IPP mede a variação dos preços de produtos na “porta de entrada das fábricas”, sem efeito de impostos e fretes. Ou seja, capta os preços de mercadorias usadas nas linhas de produção.

No total, são avaliadas 24 atividades da indústria extrativa e da transformação. Do grupo, 20 tiveram variações positivas em julho.

No mês, a maior influência para a alta do IPP veio de alimentos. O aumento foi de 2,09%, gerando impacto de 0,49 ponto percentual na taxa de 1,94%. Em seguida, aparecem refino de petróleo e produtos de álcool (0,32 p.p.), indústrias extrativas (0,27 p.p.) e metalurgia (0,27 p.p.).

“Em linhas gerais o indicador de julho é muito influenciado pelas condições do comércio internacional devido às altas acumuladas e correntes das commodities minerais, agropecuárias e do petróleo, com impacto nos preços de venda e na estrutura de custos das atividades de maior influência no mês”, afirmou Felipe Câmara, analista do IPP.

“Um inverno mais rigoroso em 2021 e a entressafra de insumos importantes à fabricação de alimentos também contribuíram para deteriorar as condições de oferta de matéria-prima, pressionando as margens do produtor industrial desse setor”, acrescentou.

No acumulado do ano, o setor com maior influência na disparada de 21,39% foi refino de petróleo e produtos de álcool (impacto de 3,73 p.p.), seguido por indústrias extrativas (3,66 p.p.), alimentos (2,77 p.p.) e outros produtos químicos (2,69 p.p.).

Professor da Escola de Negócios da PUCRS, o economista Gustavo Inácio de Moraes ressalta que a alta da inflação na indústria também está associada ao câmbio. Com o real desvalorizado, o preço das commodities, em dólar, fica ainda maior, pressionando empresas que dependem de insumos importados.

“A variação tão alta é decorrente de fatores que se somam. A indústria, na comparação com as famílias, não tem tanta capacidade para substituir produtos. Muitas fábricas dependem de componentes importados”, ressalta Moraes.

Não bastasse a pressão cambial, a piora da crise hídrica também afeta a indústria, lembra o professor. É que a escassez de chuva força o acionamento de usinas térmicas, o que eleva os custos de geração de energia elétrica. O reflexo da seca é a luz mais cara para a indústria e os demais setores da economia.

O quadro, sublinha Moraes, tende a seguir pressionando os preços cobrados dos consumidores, especialmente os valores de produtos básicos, como alimentos. Em setores com demanda mais fragilizada, o repasse fica mais complicado, conclui o economista.

Em agosto, o indicador de confiança dos empresários industriais caiu 1,4 ponto no país. Com isso, recuou para 107 pontos, após quatro meses de altas consecutivas, informou nesta sexta-feira o FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas). O resultado integra o ICI (Índice de Confiança da Indústria).

Em nota, Claudia Perdigão, economista do FGV Ibre, salientou que, além da energia mais cara, a escassez de insumos ainda impacta as fábricas.

A dificuldade para obtenção de matérias-primas ganhou força com a desarticulação de cadeias produtivas globais na pandemia. Incertezas relacionadas à variante delta do coronavírus também “contribuem para uma desaceleração no processo de recuperação da indústria”, diz Claudia.

“A confiança da indústria recuou influenciada pela piora da situação atual e uma acomodação das expectativas das empresas em relação aos próximos meses.”

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