Descrição de chapéu Financial Times

Jovens ganham aumento no banco Goldman Sachs após queixas de burnout

Analistas terão salário inicial de US$ 110 mil ao ano, em meio ao boom de fusões e aquisições alimentado pela pandemia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Stephen Morris Tabby Kinder Joshua Franklin
Londres, Hong Kong e Nova York | Financial Times

O Goldman Sachs se tornou o último dos grandes bancos de investimento dos Estados Unidos a aumentar os salários de seu pessoal júnior, em resposta a queixas sobre esgotamento de parte dos novos recrutas, apanhados pelo boom de transações surgido com a pandemia.

O salário básico dos analistas recém-contratados agora será de US$ 110 mil por ano, com aumento para US$ 125 mil ao fim do primeiro ano de trabalho, de acordo com pessoas informadas sobre a decisão. Os analistas da escala seguinte na hierarquia, a dos associados, receberão um aumento para US$ 150 mil ao ano.

O total não inclui as bonificações anuais, que podem ser diversas vezes mais altas que os salários, nos anos de bons resultados.

O Goldman Sachs se recusou a comentar.

Os aumentos significam que o banco agora terá um dos pacotes iniciais de remuneração mais generosos do setor, quando antes oferecia aos seus analistas salários mais baixos do que os pagos pelos rivais, de acordo com o Wall Street Oasis, um site que acompanha as remunerações do mercado financeiro.

David Solomon, presidente-executivo do Goldman Sachs, disse no mês passado que o banco “garantiria que nossos salários sejam competitivos”.

“Estamos atuando. E eu diria que você deve esperar nos ver pagar adequadamente durante nosso ciclo normal", disse Solomon.

Logo do banco Goldman Sachs
Logo do banco Goldman Sachs na bolsa de valores de Nova York (NYSE) - Brendan McDermid/Reuters

Até agora em 2021, os honorários recebidos pelos bancos de investimento subiram em 22% no ano, para US$ 84,4 bilhões, de acordo com dados da Refinitiv. A fatia do Goldman Sachs nos honorários totais subiu a 7,5%, ante 6,6% no mesmo momento do ano passado.

O dilúvio de fusões e aquisições e de ofertas públicas iniciais de ações que vem acontecendo no mercado aumentou a carga de trabalho dos financistas em cargos mais baixos.

Um debate interno acalorado sobre salários está em curso no Goldman Sachs. Alguns dos principais executivos do banco argumentaram que aumentar os salários do pessoal júnior, que são fixos e que não são fáceis de reduzir, poderia estabelecer um “precedente perigoso” e atrair “mercenários”, o Financial Times noticiou no mês passado. Mas o banco se viu forçado a agir pelos seus rivais, bem como pela preocupação de que poderia perder seu pessoal jovem mais promissor para grupos de capital privado ou de tecnologia, que oferecem remuneração comparável e um equilíbrio melhor entre vida e trabalho.

O Morgan Stanley informou a seus analistas recém-contratados, na semana passada, que eles ganhariam US$ 100 mil por ano, com aumento para US$ 105 mil depois do primeiro ano —ante salários anteriores de US$ 85 mil e US$ 90 mil, respectivamente. Isso se segue a aumentos entre US$ 15 mil e US$ 25 mil ao ano no JPMorgan Chase, Barclays, Citigroup, Bank of America e outros, que agora também pagam salário de entrada de US$ 100 mil para os recém-contratados.

O Credit Suisse e o Jefferies também oferecem aos empregados mais jovens benefícios como uma bonificação especial e extraordinária de “estilo de vida” e uma bicicleta ergométrica Peloton como presente.

“Em nossas discussões com participantes do setor, estamos ouvindo há cerca de dois trimestres que há pressão por aumento de salários em todos os níveis, dos executivos seniores às fileiras dos juniores”, disse Peter Torrente, que lidera o setor nacional de bancos e mercados de capitais na KPMG.

A questão do esgotamento entre os empregados mais jovens se tornou especialmente delicada no Goldman Sachs depois que um grupo de empregados em seu primeiro ano no banco se pronunciou sobre os efeitos das jornadas de trabalho intermináveis sobre sua saúde mental.

Em uma apresentação que circulou amplamente, eles afirmaram que estavam trabalhando 95 horas por semana e dormindo apenas cinco horas por noite, a partir das 3h. Em resposta, o banco prometeu contratar mais pessoal para dividir a carga e e garantir que os empregados mais jovens tenham pelo menos alguns finais de semana de folga, a menos que eles estejam trabalhando em uma transação urgente.

Desenho de um homem de terno ao lado de uma mulher com a cabeça explodindo
Excesso de trabalho pode levar a esgotamento físico e mental, conhecido como burnout - Catarina Pignato

O aumento de salários surge em um momento em que os bancos de Wall Street estão tentando convencer seu pessoal a voltar ao escritório. Solomon impôs uma linha dura no Goldman Sachs contra quaisquer arranjos flexíveis, quando os escritórios reabrem. Ele definiu trabalhar de casa como “uma aberração que corrigiremos assim que possível”.

James Gorman, presidente-executivo do Morgan Stanley, adotou uma posição igualmente severa, dizendo aos seus subordinados que “se você pode ir a um restaurante na cidade de Nova York, pode vir ao escritório”.

Em contraste, outros bancos, como o Citigroup e o UBS, vêm alardeando sua adoção de práticas híbridas como uma vantagem no recrutamento.

Os bancos de investimento historicamente conseguiram evitar inflação nos salários fixos de seu pessoal, que são mais difíceis de reduzir em períodos de baixa atividade. Em lugar disso, preferem recompensar os empregados com bonificações que podem variar dramaticamente de ano a ano, a depender do desempenho de cada indivíduo e do desempenho do banco como um todo.

Tradução de Paulo Migliacci

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.