Juros do crédito imobiliário podem chegar a 9% até 2023, afirmam especialistas

Movimento acompanha altas da Selic e da inflação e afeta linhas pré e pós-fixadas

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São Paulo

Os juros do crédito imobiliário podem chegar a 9% ao ano em 2022 e 2023, afirmam especialistas.

O movimento de alta das taxas, que já pode ser visto em alguns bancos, tende a acompanhar o aumento da Selic e da inflação ao longo deste ano e não apenas influencia novos contratos, como também pode pesar no bolso dos consumidores que optaram por linhas pós-fixadas –atreladas à inflação ou à poupança.

Em julho, dois grandes bancos já haviam anunciado um aumento nas suas taxas de crédito imobiliário.

O Santander passou de 6,99% a.a. (ao ano) + TR (taxa referencial, atualmente zerada) para 7,99% a.a. + TR.

No Bradesco, as taxas passaram a começar entre 6,9% a.a. e 7,3% a.a., a depender do relacionamento do cliente com o banco –antes, variavam entre 6,7% a.a. e 6,9% a.a..

Mesmo com taxas maiores, especialistas esperam maior demanda para financiamento imobiliário ao longo dos próximos meses
Mesmo com taxas maiores, especialistas esperam maior demanda para financiamento imobiliário ao longo dos próximos meses - Eduardo Knapp - 13.mar.2021/Folhapress

Mais recentemente foi a vez do Itaú anunciar que, a partir desta quinta (5), o financiamento imobiliário tradicional passará a ser a partir de 7,3% a.a. + TR para novas contratações. A taxa anterior era de 6,9% a.a. + TR.

Os movimentos vêm na esteira do aumento que o Banco Central tem feito na Selic desde março, quando aumentou a taxa básica de 2% para 2,75% ao ano.

Nesta quarta (4), o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC aumentou a Selic em 1 ponto percentual, para 5,25% ao ano. De acordo com o último relatório Focus, do Banco Central, a estimativa do mercado é que a taxa básica encerre este ano em 7% a.a. –a estimativa era de 6,5% a.a. há quatro semanas. Para a inflação, a projeção é de 6,79% até o final de 2021, contra 6,07% um mês atrás.

“Vemos um movimento mais de curto prazo voltado para um pequeno reajuste nas taxas, até para compor um pouco o que temos visto na curva futura de juros. Mas é natural que haja essa acomodação [dos juros]”, afirmou Romero Gomes de Albuquerque, diretor de crédito imobiliário do Bradesco.

A curva futura de juros atualmente está em cerca de 9,17% a.a. para cinco anos.

Ainda segundo o executivo, a expectativa é que ao longo dos próximos dois anos ainda haja um aumento das taxas de juros do crédito imobiliário.

“Por enquanto a média deve se acomodar entre 7% e 7,5% ao ano no final deste ano e, para 2022, com as projeções da Selic, essas taxas devem passar para alguma coisa entre 8% e 8,5% ao ano, ou talvez até 9% ao ano, como um teto. Acho pouco provável termos taxas de dois dígitos nos próximos cinco anos”, disse Albuquerque.

Historicamente, a média das taxas de crédito imobiliário no setor bancário ficam em cerca de 3 p.p. (pontos percentuais) acima da Selic.

Segundo o especialista de crédito e professor da Saint Paul Escola de Negócios Maurício Godoi, o movimento de alta nas taxas de juros também tende a alcançar as linhas pós-fixadas –atreladas à poupança e à inflação.

Normalmente, as taxas de juros dessas linhas são compostas por uma taxa fixa + variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ou taxa fixa + variação da poupança.

“Devemos ter um aumento rápido e progressivo das taxas de juros que também deve ser visto nessas linhas pós-fixadas. Inicialmente devemos ver as taxas fixas chegando a um patamar entre 4% e 4,5% ao ano e, depois, para algo em torno de 5% ou 5,5% ao ano. Mas o IPCA ainda está alto e é preciso atenção do consumidor para isso”, afirmou Godoi.

Dentre os pontos de cautela que o consumidor precisa ter na hora de pegar um crédito imobiliário, os executivos ainda afirmam que além dos preços, também é necessário atentar para os juros e os prazos oferecidos por cada modalidade.

Para Albuquerque, diante do cenário de juros em alta ao longo dos próximos anos, o melhor momento para tomar um financiamento imobiliário é agora.

“Quem conseguir pegar esse crédito agora com certeza vai capturar as taxas de juros mais comprimidas. Além disso, um grande ponto de alerta é a taxa pós-fixada, que varia com a Selic e que, dependendo, pode chegar a um juro de 10% ao ano. A taxa não é imediatista, mas a tendência é de alta”, disse o diretor do Bradesco.

A recomendação é que as linhas de financiamento com taxas atreladas à poupança ou à inflação sejam escolhidas apenas por aqueles que pretendem quitar o empréstimo no curto ou médio prazo para, dessa forma, não se expor tanto ao risco de alta das taxas de juros.

“Depende da cabeça do cliente. Existe quem prefira tomar o risco porque pensa em vender um segundo imóvel e precisaria de dois anos para amortizar e liquidar o contrato, por exemplo. Mas para os clientes mais conservadores, é preciso sempre fazer a conta dos juros futuros e entender se vale a pena”, afirmou Albuquerque.

Para Godoi, outro aspecto importante é a capacidade de pagamento do consumidor. “Estamos em um momento em que a renda do brasileiro está ficando espremida diante de uma recuperação ainda lenta e de uma inflação alta. Sem cuidado, isso pode trazer um aumento de inadimplência para o segmento”, disse o especialista.

Os últimos dados divulgados pela Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) apontam que a inadimplência do setor encerrou junho em 1,8% –um aumento de 0,2 p.p. em relação ao observado no final de 2020.

Para a presidente da associação, Cristiane Portella, porém, o aumento não preocupa.

“Tem um pouco de sujeirinha nesse número porque tivemos algumas renegociações ao longo do primeiro semestre que foram super importantes de acontecer, mas é um número que nós acompanhamos até o momento e que não se configura como um fator de preocupação", afirmou a executiva em entrevista a jornalistas na semana passada.

A estimativa da Abecip é que os financiamentos imobiliários totais alcancem R$ 251 bilhões neste ano – número que, caso se concretize, responderá por um avanço de 41,8% em comparação ao ano passado.


FINANCIAMENTO IMOBILIÁRIO

Com taxas prefixadas
Não tem correção ao longo do tempo e, por isso, traz menos riscos para o tomador –e mais risco para o banco. As prestações quase não oscilam ao longo dos anos. Os juros da modalidade começam em cerca de 8% ao ano, mas tendem a subir.

Com taxa fixa + TR (taxa referencial)
Mais tradicional, responde pela maioria das concessões feitas no mercado. Como a variação é baseada na TR, hoje zerada, pode ser vantajosa. Porém, caso a TR se altere, as parcelas do crédito podem subir. Os juros já começaram a subir. Começam em cerca de 7% ao ano.

Atrelado ao IPCA (inflação oficial do país)
Apesar de possuir taxas fixas baixas, a partir de cerca de 4% ao ano, e de ser opção viável enquanto a inflação está controlada, é uma linha pós-fixada. Ou seja, há tendência maior de oscilação dos juros pagos nas prestações e, portanto, mais risco ao mutuário. Os juros da linha também tendem a subir.

Atrelado à poupança
É menos arriscado em relação às linhas com base no IPCA, mas mais arriscado do que os financiamentos mais tradicionais. É formado por uma taxa fixa + rendimento da poupança, os juros começam em cerca de 3,5% ao ano e também estão suscetíveis a variações conforme o avanço da Selic.

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