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O bufê dos serviços por assinatura pode ter chegado ao fim

Empresas de streaming e entregas estão começando a testar alternativas aos planos de acesso ilimitado

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Shira Ovide

Repórter do New York Times, é especializada na cobertura de tecnologia

The New York Times

Um serviço de bufê com porções ilimitadas pode ser ótimo. (Bem, ao menos antes da Covid-19.) Pague um preço único e desfrute de quantidades ilimitadas de carne assada, pizza, feijão, sobremesas de chocolate, e mais. É a gula em sua versão de mais fácil acesso.

Muitas das assinaturas de serviços digitais trabalham da mesma maneira. Netflix, Spotify e Amazon Prime tipicamente cobram um preço único pelo acesso a uma coleção de guloseimas.

Mas existem sinais de que as assinaturas de acesso ilimitado estão começando a apresentar algumas nuanças. Certas empresas, como a Disney e a cadeia de supermercados de produtos orgânicos Whole Foods, controlada pela Amazon, cobram mais por assinaturas que oferecem vantagens adicionais. Outras, como Spotify e YouTube, estão testando assinaturas que custam menos mas impõem limitações. As duas estratégias podem ser prova de que o bufê digital de serviço ilimitado está mudando para sempre.

Não sei se as estratégias quanto a assinaturas vão dar certo, ou como as pessoas responderão à disponibilidade de mais escolha. Talvez você prefira pagar menos no bufê porque não come sobremesas, ou pagar um pouco mais e ter acesso a filé mignon. Ou essas alternativas todas podem arruinar a simplicidade que é um dos atrativos dos bufês.

Ilustração com fundo laranja e bolo desenhado em roxo
Aysa Demidova/NYT

De qualquer forma, teremos de nos acostumar a ver mais experiências. Esta semana, o site The Verge noticiou que tanto o Spotify quanto o YouTube estão testando assinaturas de preço mais baixo, mas com algumas limitações.

O YouTube, que cobra US$ 12 (R$ 61,75) ao mês nos Estados Unidos por seus serviços de vídeo e música sem comerciais, está testando uma oferta em alguns países europeus por menos de metade desse valor. Mas ela exclui alguns dos recursos usualmente oferecidos aos assinantes, como a possibilidade de baixar vídeos para assistir mais tarde, em momentos em que a pessoa não tenha conexão com a internet.

O Spotify também está testando uma oferta limitada por preço que começa em US$ 0,99 (R$ 5,09) por mês, ante sua assinatura mensal típica nos Estados Unidos, de US$ 10 (R$ 51,46).

A Disney está indo no sentido oposto, e cobra mais caro dos assinantes do serviço de streaming Disney+ que desejem ver filmes recém-lançados em casa. A Bloomberg News noticiou esta semana que a Whole Foods está testando uma taxa de entrega de US$ 9,95 (R$ 51,20) em algumas cidades dos Estados Unidos.

Até o momento, tanto a Whole Foods quanto o serviço de compra de mantimentos Amazon Fresh em geral não cobravam taxas adicionais por entregas aos membros do programa Amazon Prime. (O Amazon Fresh aparentemente não cobrará taxa de entrega separada. Eu não entendo o motivo, tampouco.)

Muitos dos serviços de assinatura digitais de acesso ilimitado já apresentam algumas nuanças, com preços mais altos para os domicílios com grande número de aparelhos, e assinaturas mais baratas, mas com algumas limitações, em alguns países em que a renda é mais baixa.

No geral, porém, essas empresas oferecem uma proposição bem simples: pague um preço único e tenha acesso a tudo que desejar. E existem riscos potenciais quando as empresas abandonam o direito de acesso ilimitado. Quem já paga pelo Amazon Prime ou Disney+ pode se sentir prejudicado se for solicitado a pagar ainda mais. Alternativas de assinatura de preço mais baixo podem atrair clientes que já são assinantes de serviços mais caros.

Um dos superpoderes da Netflix que não é muito levado em consideração é que ela existe em uma só versão (geralmente), sem cobrança adicional por esportes ou filmes recém-lançados, ou preços diferentes para assistir a programas com e sem comerciais. A simplicidade de uma assinatura única muitas vezes elimina a necessidade de avaliar diversas opções antes de decidir assinar.

Mas a vantagem de acrescentar mais permutações de assinaturas é que elas podem oferecer algo que as pessoas desejem. Não pago por uma assinatura do Spotify, mas poderia me sentir tentado a fazê-lo se o preço oferecido fosse um pouco mais baixo, mesmo que eu não tivesse todas as vantagens propiciadas aos membros que pagam preço cheio. Eu também consigo imaginar que um fã de música eletrônica poderia apreciar uma assinatura mais barata do serviço que lhe desse acesso apenas ao tipo de música que ele provavelmente ouvirá.

A sensação pode ser a de que as assinaturas online existem há muito tempo, mas elas são um traço relativamente novo e ainda em evolução da vida online. Continuo não convencido de que assinaturas para tudo sejam o melhor caminho, quer para nossas carteiras ou para as companhias e pessoas que tentam ganhar a vida online.

Mas faz sentido que as ofertas de assinatura comecem a se fragmentar, porque nem todo mundo quer a mesma coisa. Talvez venhamos a ter mais daquilo que exatamente desejamos, mas ainda assim sintamos falta da gula facilitada.

Tradução de Paulo Migliacci

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