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Riscos fiscais levaram Copom a acelerar alta de juros, diz ata da reunião

Na última quarta o Banco Central aumentou a Selic em 1 ponto percentual, para 5,25% ao ano, maior alta em 18 anos

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Brasília

Para justificar a aceleração do ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic), que teve a maior elevação em 18 anos na última quarta-feira (4), o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central afirmou que o risco fiscal, quando há possibilidade de desajuste nas contas públicas, foi preponderante na decisão.

"O Comitê ponderou que os riscos fiscais continuam implicando um viés de alta nas projeções. Essa assimetria no balanço de riscos afeta o grau apropriado de estímulo monetário, justificando assim uma trajetória para a política monetária mais contracionista do que a utilizada no cenário básico", diz a ata da reunião, publicada nesta terça-feira (10).

Na ocasião, o BC elevou a Selic em 1 ponto percentual, a 5,25% ao ano, e indicou que fará nova alta na mesma magnitude na próxima reunião, em setembro, para 6,25%.

Nos últimos dias, dúvidas em relação ao custeio do novo programa social do governo, o Auxílio Brasil, e sobre o pagamento de precatórios (dívidas do governo na Justiça) foram mal-recebidas pelo mercado e deterioraram ainda mais o cenário.

Além disso, o Copom afirmou que os juros devem ficar acima do neutro (aquele que não estimula nem contrai a economia).

O BC adiantou que fará elevações de juros em todas as próximas reuniões, sem interrupções, até que a Selic fique acima do patamar considerado neutro.

"Levando em conta o cenário básico e o balanço de riscos, o Comitê observou que, caso não haja mudança nos condicionantes de inflação, são necessárias elevações de juros subsequentes, sem interrupção, até patamar acima do neutro para que se obtenha projeções em torno das metas de inflação no horizonte relevante", afirmou.

"Sendo assim, tornou-se apropriado um ciclo de elevação da taxa de juros para patamar consistente com política monetária contracionista", disse o texto.

O Copom, contudo, reafirmou que reavaliará a decisão caso ocorram mudanças no cenário.

O BC explicou na ata que as projeções dentro do cenário básico estariam alinhadas às metas para 2022 e 2023.

"De acordo com o cenário básico, que utiliza a trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus, o câmbio seguindo a paridade do poder de compra e os preços de commodities em dólares estáveis em termos reais, as projeções de inflação estão alinhadas às metas para 2022 e 2023", pontuou o texto.

Para 2021, há consenso no mercado e no BC de que a inflação deverá estourar a meta fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), de 3,75% com 1,5 ponto percentual de tolerância para cima e para baixo.
Para 2022 e 2023 as metas são de 3,5% e 3,25%, respectivamente.

Quando a inflação não fica dentro do intervalo determinado pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para o ano, o presidente do BC precisa escrever uma carta aberta ao presidente do conselho, que é o ministro da Economia, Paulo Guedes, para explicar os motivos.

Segundo o boletim Focus, no qual o BC divulga as projeções do mercado, houve novo aumento nas expectativas de inflação. Os economistas consultados esperam alta de 6,88% em 2021 e 3,84% em 2022, ante 6,79% e 3,81% na semana anterior.

"O Copom concluiu que um ajuste mais tempestivo da política monetária é a estratégia mais apropriada, neste momento, para assegurar a convergência da inflação para as metas de 2022 e 2023", apontou a ata.
Sobre a atividade econômica, o Copom argumentou que os últimos dados são positivos.

"Para o Comitê, o segundo semestre do ano deve mostrar uma retomada robusta da atividade, na medida em que os efeitos da vacinação sejam sentidos de forma mais abrangente", disse a ata.

Segundo o BC, as projeções do mercado para o PIB (Produto Interno Bruto) –extraídas da pesquisa Focus– estão mais otimistas que a da autarquia por conta de dificuldades na dessazonalização dos dados anteriores na hora de fazer as simulações.

"O Comitê notou que a mediana das projeções de crescimento, segundo a pesquisa Focus, está sensivelmente mais otimista do que as do seu cenário básico e ponderou se as dificuldades relacionadas à dessazonalização das séries devido ao choque da pandemia explicariam essa divergência", trouxe o documento.

A dessazonalização retira peculiaridades de certo período para facilitar a comparação, mas a pandemia alterou muito a dinâmica no setor produtivo da economia.

Além disso, o Copom disse acreditar que a ociosidade como um todo evolua rapidamente para retornar ao nível do fim de 2019, mas "considera que a pandemia ainda segue produzindo efeitos heterogêneos sobre os setores econômicos e, em particular, sobre o mercado de trabalho, com consequências para a dinâmica recente e prospectiva da inflação".

A ociosidade da economia indica o nível de produção em relação à capacidade do setor real. Se a ociosidade é elevada, a economia ainda pode produzir mais com a estrutura atual. Quando ela diminui, indica que a produção está próxima da potência máxima.

O mercado de trabalho é um indicador importante para medir a ociosidade da atividade.

No setor externo, os membros do Copom discutiram sobre os riscos da inflação em países desenvolvidos para os emergentes.

"O Comitê avaliou que os estímulos fiscais e monetários estão promovendo crescimento robusto e que, daqui para frente, a dinâmica da inflação nas economias centrais e emergentes deve depender crescentemente dos canais de demanda", afirmou.

"Nesse contexto, novas discussões sobre o risco de um aumento duradouro da inflação nos Estados Unidos e a consequente reprecificação nos mercados financeiros podem tornar o ambiente para as economias emergentes desafiador", completou.

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