Uma década após primeira tentativa de produção nacional, chinesa Great Wall compra fábrica da Mercedes

Montadora encerrou 2020 como líder de vendas de veículos utilitários na China e busca internacionalização

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São Paulo

O plano teve início há 10 anos, mas só agora a montadora chinesa Great Wall terá sua linha de produção no Brasil.

A fabricante confirmou nesta quarta-feira (18) a compra da fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis (interior de São Paulo). De lá sairão picapes, utilitários esportivos e modelos elétricos, mas alguns automóveis devem chegar antes ao mercado, como importados.

Em um comunicado, a Great Wall diz que a entrega da unidade fabril deve ser concluída ainda em 2021. A capacidade de produção anual chegará a 100 mil unidades e serão criados cerca de 2.000 empregos na região.

Logo da Daimler no encontro de acionistas da companhia em Berlim - Hannibal Hanschke - 5.abr.2018/Reuters

Em 2011 a Great Wall anunciou planos para abrir 12 fábricas mundo afora até 2015, e uma seria instalada no Brasil. O mercado nacional estava aquecido, batendo recordes em cima de recordes tanto de vendas como de produção.

Contudo a maré virou: as regras do mercado mudaram com o programa Inovar-Auto (2012), houve restrições aos importados e as vendas despencaram a partir de 2014. Os planos para o país foram engavetados, mas agora retornam de forma definitiva.

Já a Mercedes apostou em mais uma fábrica no Brasil para aproveitar os incentivos concedidos pelo Inovar-Auto, mas não obteve êxito. A produção em Iracemápolis teve início em março de 2016, mas o fim foi anunciado em dezembro de 2020. Foram investidos R$ 600 milhões na unidade.

A Great Wall estreia em um outro momento. O mercado segue em retomada —há filas de espera e problemas de produção por falta de peças— e os carros chineses de menor custo têm potencial para atingir bons volumes de vendas.

A montadora optou por cuidar de todo o negócio, sem se associar a um parceiro nacional. É uma estratégia diferente da pensada há 10 anos, quando chegaram a conversar com empresas locais —entre elas o grupo Caoa.

Dinheiro não falta. A Great Wall encerrou 2020 como líder de vendas de veículos utilitários no mercado chinês. No total, a montadora comercializou 1,1 milhão de unidades em seu mercado local, além de estar presente em mais de 100 países.

Um dos lançamentos mais recentes da empresa é a picape média Poer, que deve ser um dos primeiros modelos a chegar ao Brasil.

A história da marca é recente. A fundação ocorreu nos anos 1980, mas a produção de automóveis só teve início em 1993. Eram basicamente cópias de carros japoneses, em especial da linha Toyota Hilux.
A marca evoluiu rapidamente e, nos anos 2000, deu início ao plano de internacionalização.

Em 2006, o SUV Haval obteve quatro estrelas (de cinco possíveis) em um crash test feito pelo EuroNCAP, segundo a fabricante. Contudo as notas díspares obtidas ao longo dos anos mostram a dificuldade dos chineses em se adequar aos padrões de segurança atuais em todas as suas fábricas espalhadas pelo mundo.

Enquanto modelos vendidos em mercados com regras mais rígidas obtêm notas altas, a picape média Great Wall Steed 5 comercializada na África do Sul recebeu nota zero em um teste de colisão realizado em 2020. O modelo custa aproximadamente R$ 70 mil.

Em 2018 a montadora fez uma parceria com a BMW para desenvolver e produzir carros elétricos na China. A construção da fábrica teve início no ano passado, com início das operações previsto para 2022. Serão produzidas versões movidas a eletricidade de modelos da marca Mini. Foram investidos cerca de US$ 700 milhões nessa operação.

A divisão de carros eletrificados da Great Wall se chama ORA. Neste ano, a empresa apresentou uma cópia elétrica do Volkswagen Fusca, chamado Punk Cat. Uma nova versão foi exibida no começo de agosto e batizada de Ballet Cat.

Alguns carros da montadora chinesa chegaram ao Brasil por meio de um importador de Brasília. O utilitário esportivo Hover desembarcou em 2009, mas não se tem notícia de quantas unidades desembarcaram no país.

Em sua primeira tentativa de se instalar oficialmente no Brasil, a Great Wall ocupou um estande no Salão do Automóvel de São Paulo 2012. Entre os veículos exibidos estava a mesma picape vendida na África do Sul, mas batizada como Wingle 5.

A marca deve optar por modelos mais seguros em sua nova linha de produtos no Brasil, como as gerações atuais dos utilitários Haval.

Executivos da montadora chinesa tentam passar entusiasmo no comunicado divulgado nesta quarta.

“O Brasil é o maior e mais populoso país da América Latina. Sua força econômica ocupa o primeiro lugar na América do Sul, suas vendas de automóveis ocupam o sétimo lugar no mundo e o mercado consumidor de automóveis tem grande potencial”, disse Liu Xiangshang, Vice-presidente da Great Wall Motor.

“Dentro deste plano [de internacionalização], nos dedicamos a estudar as preferências dos consumidores locais e o desenvolvimento e mudanças do mercado automobilístico.”

O Brasil será um novo polo de exportação da marca para a América do Sul. Hoje a Great Wall tem uma linha de produção limitada no Uruguai.

A nova fábrica chinesa tem 1,2 milhão de metros quadrados, mas não inclui o campo de provas construído pela Mercedes em parceria com a Bosch.

A montadora alemã se concentra agora na produção de caminhões, algo que faz desde a década de 1950 em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo). Há também a unidade de Juiz de Fora (MG), que produz cabines para os veículos pesados.

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