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Alta da Selic e incertezas ampliam vantagem da renda fixa; veja o que rende mais

Títulos públicos ou privados oferecem relação entre risco e retorno mais atraente do que ações na Bolsa

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São Paulo

Conforme esperado pela maior parte do mercado, o BC (Banco Central) elevou nesta quarta-feira (22) a taxa básica de juros, a Selic, em um ponto percentual, para 6,25% ao ano. A expectativa é que o ciclo continue pelo menos até 8,25% no fim do ano, chegando a 8,5% em 2022, pelas projeções no relatório Focus compilado pela autoridade monetária.

Com as incertezas econômicas e políticas do Brasil esperadas para o horizonte de seis a doze meses à frente, gestores e analistas de investimentos têm recomendado aos investidores que deem mais atenção neste momento para as alternativas com níveis de remuneração considerados já bastante atrativos na renda fixa, seja via títulos públicos ou emissões privadas.

Pedestres diante da sede do Banco Central, em Brasília (DF)
Pedestres diante da sede do Banco Central, em Brasília (DF) - Adriano Machado - 29.out.2019/Reuters

No caso da Bolsa, a expectativa é pouco otimista, embora o investidor possa encontrar rentabilidade ao apostar em papéis de empresas sólidas e de setores estratégicos para a economia, que são menos expostas à volatilidade.

Patrícia Palomo, sócia e diretora de investimentos da gestora de patrimônio Sonata, tem indicado aos clientes que façam uma migração de parte do risco da carteira em ações e fundos multimercados para alternativas vistas como mais atrativas hoje na renda fixa.

“Em um período de maior incerteza, precisamos preparar as carteiras para qualquer cenário”, afirma a especialista, que faz menção a riscos relacionados à discussão fiscal e política no país, que ela avalia que seguirão presentes nos próximos meses.

Neste ambiente macroeconômico incerto, a Bolsa, embora já pareça estar em nível convidativo de entrada, pode ficar ainda mais barata, avalia Leon Abdalla, analista de investimentos da Rio Bravo.

“O cenário previsto para 2022 tende a ser mais complicado para as ações”, corrobora Renato Iversson, da gestora de patrimônio Taler, acrescentando que o ambiente global traz também seus riscos, com uma possível redução dos estímulos nos Estados Unidos e a desaceleração da China.

Para o investidor de perfil mais moderado, a recomendação do gestor da Taler é concentrar a carteira em renda fixa neste momento.

É consenso entre os especialistas que, ante tanta incerteza no radar, já tem sido possível encontrar no mercado de renda fixa opções de investimento de baixo risco, com bons retornos e menor volatilidade.

Títulos públicos negociados por meio do Tesouro Direto, em especial aqueles que oferecem um retorno acima da inflação, hoje na casa de 4,5% para prazos ao redor de cinco anos, são vistos com bons olhos.

“São taxas muito atrativas e o momento para a renda fixa é muito bom no Brasil, ainda mais se consideramos que muitos países oferecem retorno real negativo”, diz Abdalla, acrescentando que a taxa de retorno do título no momento da aquisição só será garantida ao final do prazo de vencimento do ativo.

Neste meio tempo, podem haver oscilações, ainda que se trate de um ativo de renda fixa, enfatiza.

Para o investidor de perfil mais conservador, o analista destaca boas oportunidades nos papéis soberanos pós-fixados que acompanham a variação da Selic, e que devem entregar um retorno crescente com o aperto da política monetária. É possível comprar esses papéis, conhecidos como Tesouro Selic, por meio da plataforma Tesouro Direto.

“Uma rentabilidade acima de 8% no ano que vem, frente ao que está sendo projetado pelo mercado para a taxa Selic, é muito interessante, principalmente para quem não quer ficar tão exposto ao risco político em um ano de eleições, quando as cosias chacoalham mais”, afirma Iversson.

Já na renda fixa privada, debêntures incentivadas, bem como operações de crédito estruturadas via certificados imobiliários (CRI) e do agronegócio (CRA), que oferecem a isenção a pessoa física, são citadas entre as principais opções disponíveis no mercado.

“Em muitos dos casos, são empresas de primeira linha, líderes nos seus mercados, que estão aproveitando o momento de maior demanda por ativos de renda fixa para emitir dívidas”, afirma Patrícia, da Sonata.

Ela diz enxergar com bons olhos emissões privadas que têm vindo a mercado com remuneração de até 5% de juro real (acima da inflação) ao ano, em ativos isentos de IR a pessoa física. “São excelentes alternativas para a construção de patrimônio.”

Abdalla, da Rio Bravo, destaca a infraestrutura, dentro do setor de emissões privadas de renda fixa, como um bolsão de oportunidades que deveria fazer parte do radar de oportunidades dos investidores.

“Tem poucos méritos para dar para esse governo, mas acho que um deles é na área de infraestrutura, que teve um ano muito bem sucedido, com leilões de aeroportos, rodovias, ferrovias, com a expectativa do 5G até o fim do ano”, diz o analista de investimentos.

O aquecimento no setor, afirma Abdalla, se reflete no apetite das empresas por captar dívidas junto ao mercado, como por meio das debêntures incentivadas. Ele diz que são emissões em que o investidor consegue encontrar um diferencial de retorno em relação aos títulos públicos indexados à inflação ao redor de dois pontos percentuais, para emissões de rating grau de investimento e prazos entre cinco e dez anos, em média.

Apesar da visão mais favorável para a renda fixa, a gestora da Sonata afirma também que a recomendação não é que o investidor tire todo dinheiro que tem em ações.

Segundo Patrícia, algumas das empresas com ações na Bolsa, particularmente aquelas líderes em seus segmentos de atuação, conseguiram contornar as dificuldades impostas pela pandemia melhor que os pares, e devem seguir entregando resultados robustos nos balanços trimestrais divulgados ao mercado.

“Vimos diversas companhias surpreendendo os analistas de mercado com resultados mais positivos do que o esperado”, diz a especialista. Ela acrescenta que alguns setores serão mais resilientes do que outros em relação às incertezas no cenário local e global esperadas para os próximos meses.

Frente aos sinais de desaquecimento da China, a diretora de investimentos entende que faz sentido o investidor reduzir a exposição a empresas exportadoras de commodities, e dar um foco maior para negócios de viés doméstico com capacidade de repassar a alta da inflação aos consumidores.

Ela aponta que as grandes redes de supermercados e empresas de saneamento têm uma menor sensibilidade ao ritmo da atividade econômica, bem como transmissoras de energia elétrica.

Patrícia afirma ainda que o setor financeiro, como bancos e seguradoras, que se beneficia da alta dos juros em curso pelo BC, e que ela avalia que foi deixado de lado de certa forma pelo mercado nos últimos meses, também pode compor bem o espaço do portfólio destinado para a renda variável.

Para o investidor que optar por ter uma exposição mais importante a ativos de maior risco, a diretora da Sonata diz que é sempre bom ter algum dinheiro em dólar ou ouro, conhecidos pela proteção que oferecem nos momentos de aumento no estresse de mercado.

“Além disso, ter parte da carteira investida nos mercados globais, em economias e setores que não guardam qualquer tipo de relação com o que se passa no Brasil, é fundamental dentro da busca por um portfólio diversificado que visa a melhor relação entre risco e retorno”, afirma Patrícia.

Iversson, da Taler, diz que o investidor consegue encontrar boas oportunidades na Bolsa nos níveis atuais, mas que é preciso ter um horizonte de investimento de pelo menos dois a três anos.

No curto prazo, prevê o gestor da Taler, as ações de modo geral estarão sob intensa volatilidade no ambiente de incerteza previsto por conta das eleições e do cenário externo. “Se a disputa em 2022 for acirrada, é mais difícil vermos a Bolsa andando bem”, afirma Iversson.

Dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) mostram que, em agosto, os fundos de ações interromperam a sequência de saldo positivo mensal iniciada em fevereiro deste ano, com a saída líquida de R$ 176,1 milhões no mês passado. Os fundos de renda fixa, por outro lado, tiveram captação líquida de R$ 41 bilhões no período.

Dentro da renda fixa, se destacaram aqueles mais conservadores, representados pela subcategoria “duração baixa soberano”, com captação de R$ 25 bilhões. São fundos que aplicam boa parte dos recursos em ativos atrelados ao DI (Depósito Interbancário) ou Selic diário. "Esses resultados refletem a combinação do ciclo de elevação da taxa de juros com a maior aversão ao risco de parte significativa dos investidores", diz a Anbima.

Só debêntures incentivadas superam inflação

Projeções do buscador de investimentos Yubb considerando uma Selic de 6,25% apontam que entre os investimentos de renda fixa, apenas as debêntures incentivadas terão rendimento real, ou seja, acima da inflação.

A taxa de inflação estimada para 2021 foi de 8,35%, baseada no relatório Focus de 20 de setembro de 2021.

Até mesmo investimentos que, assim como as debêntures incentivadas, são isentos do Imposto de Renda não irão alcançar o rendimento real, como as LCAs e LCIs.

Para o cálculo, o levantamento considera a média de rentabilidade dos ativos e alíquota de 20% de Imposto de Renda, referente a prazos de vencimento entre 181 e 360 dias.

Os piores investimentos, segundo o Yubb, são os CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) dos grandes bancos, que terão rendimento real negativo de 4,07%.

(Colaborou Clayton Castelani)


Como ficam os investimentos

Investimento Rendimento
Bruto Líquido Real
Poupança nova* 4,38% 4,38% -3,67%
Poupança antiga* 6,17% 6,17% -2,01%
Tesouro Selic 6,15% 4,92% -3,17%
CDB banco médio 8,00% 6,40% -1,80%
CDB banco grande 4,92% 3,94% -4,07%
LC 8,61% 6,89% -1,35%
LCA* 6,03% 6,03% -2,14%
LCI* 6,27% 6,27% -1,92%
RDB 8,36% 6,69% -1,53%
Debênture incentivada* 9,29% 9,29% 0,86%

*Isentos de Imposto de Renda

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