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Completaremos uma década sem crescimento real da economia

Entraremos em 2022 com cenário econômico desalinhado pelos fortes aumentos no preço da energia

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Fabio Astrauskas

Presidente da Siegen Consultoria e economista

O IBGE divulgou os resultados das contas nacionais do segundo trimestre de 2021 e eles vieram alinhados com a expectativa do mercado, que era estabilidade com relação ao trimestre anterior. É bem verdade que ficou um gostinho amargo por conta da pequena queda de 0,1%, compensado pela constatação de que o setor de serviços finalmente mostrou crescimento em todas as perspectivas de comparação. No entanto, a estimativa não é animadora quanto ao resultado agregado do biênio 2021-2022 e ao do próximo ano isoladamente.

O resultado projetado do PIB para 2021 caminha para algo entre 5% e 6% e mesmo as adversidades que se apresentam, como inflação e crise hídrica, não parecem ser capazes de frear até o fim de ano a volta ao consumo represado pelas medidas de restrição sanitária que agora se afrouxaram.

Assim, podemos esperar a continuidade no crescimento do setor de serviços e alguma volatilidade nos setores da agropecuária e indústria. Provavelmente ainda teremos uma baixa contribuição do consumo do governo e uma boa participação da balança comercial para compor o PIB de 2021, ainda puxado pela alta das commodities.

Se, pelo lado positivo, temos a comemorar a volta do crescimento do PIB, por outro lado temos duas reflexões a fazer: qual será o resultado agregado do PIB no biênio 2020-2021? E qual será nossa expectativa para 2022?

Caso nossos mais sinceros desejos se confirmem, até o final deste ano teremos deixado para trás os efeitos mais danosos da pandemia. Portanto, valerá analisar os anos de 2020 e 2021 juntos.

Provavelmente, veremos que a economia brasileira terá crescido por volta de 1% até 2% na soma dos dois anos.

Ou seja, economicamente, iremos sair de um dos períodos mais sombrios da nossa história recente quase do mesmo tamanho que entramos. Parece bom se pensarmos na dimensão dos impactos negativos da Covid-19, mas quando somamos isso aos resultados de anos anteriores, veremos que estaremos completando praticamente uma década sem crescimento real da economia.

Mais ainda, se compararmos nossa performance com a dos demais países do G20, provavelmente nossa conclusão será de que ficaremos abaixo da média.

Quanto à segunda reflexão, ou seja, o que esperar para 2022, aí haverá pouco para se animar e muito para se preocupar. Entraremos 2022 com uma economia desalinhada na matriz de custos por conta dos fortes aumentos de preço de energia por causa da crise hídrica. Os aumentos irão se espalhar para outros preços, como transporte, serviços e insumos. Teremos um enorme desafio de conter o processo inflacionário que estará bem acima do teto da meta, exigindo do Banco Central repetidas e agressivas subidas de juros. Juros altos são inimigos de investimentos.

Teremos um ano eleitoral no qual tradicionalmente não se produzem reformas tributárias e nem se promove contenção de gastos do governo. A dívida pública ainda que levemente em queda permanecerá num nível preocupante.

No campo social e de emprego, teremos ainda que lidar com uma taxa de desocupação bem acima da média histórica. Sem emprego, não há economia que tenha um crescimento sustentável de longo prazo. Finalmente, e sem esgotar o horizonte de sinais de alerta, haverá em 2022 das mais polarizadas e acirradas disputas eleitorais e ideológicas, que sabemos que trazem insegurança e refletem negativamente na retomada do crescimento.

Portanto, boa parte do que será o resultado econômico de 2022 está sendo plantado agora. E as sementes não parecem que vão germinar boa colheita. Mas ainda há espaço e tempo para corrigir os rumos.

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