Ford decide parar fabricação de carros na Índia

Montadora acumula prejuízo de US$ 2 bilhões e não vê caminho para lucratividade no país

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Aditi Shah Aditya Kalra
Nova Déli | Reuters

A Ford Motor Co. vai parar de fabricar carros na Índia e levar um prejuízo de cerca de US$ 2 bilhões (R$ 10,6 bilhões) porque não vê um caminho para a lucratividade no país, tornando-se a mais recente montadora a deixar o mercado de grande crescimento dominado por rivais asiáticos.

A montadora dos Estados Unidos entrou na Índia há 25 anos, mas ainda tem menos de 2% do mercado de veículos de passageiros, depois de lutar durante anos para conquistar os consumidores indianos e obter lucro.

"Apesar dos esforços, não conseguimos encontrar um caminho sustentável para a lucratividade em longo prazo", disse o chefe da Ford na Índia, Anurag Mehrotra, no comunicado.

Reflexo de visitante tirando foto do novo Ford Aspire durante seu lançamento em Nova Déli - Anushree Fadnavis - 4.out.2018/Reuters

A decisão da Ford de cortar suas perdas na Índia, após deixar o Brasil no início deste ano, ressalta as pressões sobre as montadoras globais para investirem mais em veículos elétricos e automatizados, assim como em tecnologia de veículos conectados.

As montadoras globais já lutaram para manter presença em todos os principais mercados e estavam dispostas a perder dinheiro para isso.

Agora, empresas como Ford, General Motors, Renault e Stellantis estão se afastando de empreendimentos que dão prejuízo e redirecionando o capital para a eletrificação e o investimento na tecnologia de que precisam para sobreviver.

A decisão da Ford também foi um revés para a campanha "Make in India" do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. Ela se segue a outros fabricantes de veículos americanos, como General Motors e Harley Davidson, que deixaram a Índia nos últimos anos.

Mehrotra disse que a decisão da Ford também foi reforçada pela "persistente capacidade excedente da indústria e falta do crescimento esperado no mercado de automóveis da Índia".

Esperava-se que o país se tornasse o terceiro maior mercado de automóveis do mundo em 2020, depois da China e dos Estados Unidos, com vendas de cerca de 5 milhões de veículos por ano. Em vez disso, as vendas estagnaram em cerca de 3 milhões, ainda atrás da Europa e do Japão.

O mercado de automóveis da Índia é dominado por veículos de baixo custo, principalmente carros pequenos feitos pela Suzuki, do Japão. Sua marca Maruti Suzuki representa sete dos dez mais vendidos, com a Hyundai da Coreia do Sul fabricando os outros três.

A Ford tem aumentado o investimento em veículos elétricos (VEs) e software avançado. Em maio, ela disse que aumentaria os gastos com VEs em um terço, para US$ 30 bilhões (R$ 158,5 bilhões), até 2030.

Com tanta coisa nas mãos do presidente-executivo da Ford, Jim Farley, desde que assumiu o cargo no ano passado, e com recursos financeiros limitados, a Índia era uma prioridade menor, disse anteriormente uma fonte à Reuters.

Como parte do plano, a Ford Índia encerrará as operações em sua fábrica em Sanand, no estado ocidental de Gujarat, no quarto trimestre deste ano, e a fabricação de veículos e motores em sua fábrica no sul do país em Chennai em 2022.

A Ford tem capacidade para produzir cerca de 440 mil carros na Índia por ano nas duas fábricas, mas está usando apenas cerca de 25% dela, de acordo com a empresa de inteligência de dados Global Data.

A montadora dos Estados Unidos continuará a vender alguns de seus modelos na Índia por meio de importação e também fornecerá suporte aos revendedores para atender aos atuais clientes, disse. Estima-se que cerca de 4.000 funcionários serão afetados por essa medida.

A decisão de interromper a produção veio depois que a Ford e a indiana Mahindra & Mahindra não conseguiram finalizar uma parceria de joint venture que teria permitido à Ford continuar fabricando carros por um custo menor do que hoje, mas cessar suas operações independentes.

A Ford disse que considerou várias outras opções para a Índia, incluindo parcerias, compartilhamento de plataforma, fabricação por contrato e a possibilidade de vender suas fábricas, plano que ainda está em análise.

A Ford continuará operando a fábrica em Sanand, que exporta motores para as picapes Ranger em todo o mundo. Ela também continuará a contar com fornecedores baseados na Índia para peças de seus produtos globais.

A Federação das Associações de Concessionárias de Automóveis da Índia disse em um comunicado que ficou chocada com a decisão da Ford, dizendo que a decisão da empresa norte-americana de apenas compensar as concessionárias que oferecem serviços para veículos de clientes "não é suficiente".

Existem 400 pontos de venda da Ford na Índia, onde os revendedores investiram 20 bilhões de rúpias (US$ 272 milhões, ou R$ 1,4 bilhão), disse a associação em um comunicado, acrescentando que a montadora ainda havia nomeado novos revendedores cinco meses atrás.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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