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PIB confirma cenário desafiador para crescimento em 2022

O principal risco para o crescimento da economia está na confiança, ou na falta dela

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Rafaela Vitória

Economista-chefe do Inter

Após a surpresa positiva do primeiro trimestre, o resultado do PIB brasileiro entre abril e junho trouxe uma reversão. A variação negativa de 0,1% no trimestre ficou abaixo das expectativas do mercado e confirma um cenário desafiador para o crescimento no segundo semestre e para 2022.

O dado consolidado mostra estabilidade, mas uma análise por setores que compõem o PIB continua mostrando uma dispersão muito significativa. O impacto da pandemia tem sido mais negativo e persistente em alguns segmentos, mas, por outro lado, também ofereceu oportunidades para outros.

A indústria da transformação, por exemplo, teve queda no trimestre devido à falta de insumos com cadeias produtivas globais que ainda sofrem para retomar plenamente a atividade após o choque da pandemia. Na outra ponta, vimos o setor de tecnologia da informação crescer 5,6% no trimestre, resultado do aumento da digitalização em vários setores da economia, como no varejo e nos serviços financeiros.

A recuperação econômica também tem sido comprometida pela crise hídrica que atinge o país. Depois do forte crescimento em 2020, a agropecuária foi o destaque negativo no último trimestre, com queda de 2,8%, resultado da menor produção de itens como milho, café e algodão.

Além dos resultados bastante diversos entre os setores, pelo lado da demanda, também vimos diferenças que refletem o atual cenário desafiador no Brasil. Enquanto as exportações tiveram crescimento de 9% no trimestre, mostrando uma demanda global robusta, principalmente pela mineração, o consumo interno decepcionou e ficou estagnado, mesmo com a volta do auxílio emergencial, a maior disponibilidade de crédito e o crescimento da mobilidade que observamos ao longo do trimestre. A esperada retomada mais eufórica do consumo pós-pandemia pode não se concretizar. A inflação mais alta e o emprego que demora para recuperar têm refletido em menor disposição das famílias em retomar o consumo para os padrões pré-pandemia.

Uma consequência que pode ser positiva para o futuro crescimento do PIB é a elevação da taxa de poupança, que chegou a 21% do PIB, recorde da série histórica desde 2000. A maior disponibilidade de liquidez na economia pode contribuir para o crescimento do investimento, que deixa de depender de poupança externa. O consumo mais contido, por outro lado, deveria entrar na avaliação do cenário do Banco Central, que indica mais aperto monetário à frente para conter a inflação. Nesse caso, a dose do aperto poderia ser menor, considerando que a fraca demanda interna não representa um risco adicional para futura trajetória da inflação.

O que esse resultado nos diz sobre o atual estado da economia? Alguns setores ligados a serviços ainda têm perspectiva de recuperação, com o avanço da vacinação e a redução das restrições em diversas atividades que ficaram para trás. A demanda externa deve continuar firme mesmo considerando uma moderação e redução dos estímulos monetários em alguns países. Mas, o principal risco para nosso crescimento hoje está na confiança, ou falta dela. Nas últimas semanas as discussões sobre os rumos da política fiscal no país e até disputas institucionais vêm gerando ruídos e resultam em um aumento da percepção de risco do mercado, que já causa aumento dos juros e pode levar a nova redução de investimentos pelas empresas e consumo das famílias. O resgate da confiança é fundamental para a retomada do crescimento sustentável da nossa economia.

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