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PIB deve melhorar no segundo semestre e desacelerar em 2022

O verdadeiro limitador para uma expansão fiscal que estimule o crescimento é o nível da dívida pública

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Mario Mesquita

Economista-chefe do Itaú Unibanco

O PIB do segundo trimestre teve leve queda após alta significativa no primeiro trimestre. A volatilidade do setor agropecuário e as restrições de oferta no setor industrial foram os principais responsáveis pelo PIB mais fraco. Além disso, os setores de serviços muito dependentes de interação social (educação, saúde pública e privada, bares, restaurantes, hotéis, salões de beleza etc.) ainda estavam em níveis deprimidos no segundo trimestre, afetados pela difícil conjuntura sanitária.

Na abertura do lado da oferta do PIB trimestral do IBGE, estes setores são representados pelas linhas “administração, saúde e educação públicas e seguridade social” e “outras atividades de serviços”. Em conjunto, o peso destes setores é de quase 30% no PIB, e os níveis de atividade estão 4,5% e 7,2% abaixo do pré-crise, respectivamente.

A mobilidade está se normalizando em todas as regiões do país, em meio ao avanço da vacinação e desaceleração da pandemia. De acordo com nossos indicadores diários (IDAT), o consumo de serviços vem subindo e estava próximo dos níveis pré-crise ao final de agosto, o que é consistente com uma recuperação mais clara destes setores dependentes de interação social no início do segundo semestre. A sustentabilidade desta recuperação continua dependendo da evolução da pandemia.

Ou seja, o crescimento do PIB deve melhorar no segundo semestre deste ano, especialmente devido à esperada normalização dos setores de serviços que dependem de interação social.

O crescimento de 2021 como um todo –projetado acima de 5%– é alto para o padrão brasileiro recente. Diversos fatores contribuíram: (1) reversão do choque da pandemia, com reabertura do setor de serviços; (2) os efeitos defasados da política monetária expansionista, dado que as taxas de juros só ficarão acima do nível neutro ao final do ano; (3) crescimento global expressivo com alta de preços de commodities, que contribuem positivamente para a exportação e a formação bruta de capital fixo no Brasil.

O ano de 2022 deverá ser mais desafiador, pois estes fatores responsáveis pelo alto crescimento deste ano se esgotarão. O efeito positivo da reabertura dos setores de serviços deve ocorrer em 2021, as taxas de juros estão em alta, e o setor industrial global já está começando a desacelerar. Além disso, a política fiscal não deve prover muito estímulo à demanda agregada em 2022, mesmo com o esperado aumento do programa Bolsa Família, assumindo que o gasto público volte a respeitar o teto ano que vem.

Caso esta hipótese de volta ao teto de gastos não se confirme, as preocupações com relação ao endividamento público aumentarão, os poupadores irão demandar juros mais elevados para financiar a dívida pública, e a política monetária provavelmente precisará ser mais restritiva para atividade econômica. Ou seja, o verdadeiro limitador para uma expansão fiscal que estimule o crescimento é o nível e dinâmica de dívida pública, e não o teto de gastos.​

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