Salão do automóvel de Munique abre as portas com foco na proteção climática

Montadoras fazem aposta cara em elétricos enquanto ainda sofrem com escassez de equipamentos

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Munique | AFP e Reuters

Mal superados os efeitos da crise de saúde provocada pelo coronavírus, e em meio à escassez de equipamentos eletrônicos, o setor automotivo se reúne no salão alemão da mobilidade IAA diante de novos desafios, enquanto a variante delta ameaça a recuperação econômica.

O evento de Munique, que abre as portas para o público nesta terça-feira (7), substitui o tradicional Salão Internacional de Frankfurt focado também em mobilidade, em vez de apenas automóveis. Será uma oportunidade para os fabricantes reencontrarem o consumidor após as restrições impostas pela Covid-19.

O salão será mais elétrico do que nunca, já que a Comissão Europeia está pressionando pelo fim dos motores de combustão até 2035. Vários fabricantes tomaram uma rota elétrica radical, mas cara.

A Volkswagen, segunda maior fabricante do mundo e maior grupo representado no salão –na ausência da Toyota– não expõe nenhum carro movido a combustão.

O carro elétrico VW ID.Life da montadora alemã Volkswagen durante o Salão Internacional do Automóvel (IAA) em Munique, Alemanha - Christof Stache/AFP

A Renault apresenta seu modelo elétrico Mégane, um esportivo compacto e conectado, que deve impulsionar o grupo francês no mercado europeu, segundo seu CEO, Luca De Meo. "Queremos mostrar com este carro que dirigir um carro elétrico também pode ser divertido", declarou.

Por sua vez, a Mercedes promete 660 km de autonomia para seu grande sedã EQE, destinado a rivalizar com o Tesla.

BMW anuncia, olhando para o futuro, um carro elétrico batizado de "Circle" e 100% reciclável, feito inteiramente com materiais reaproveitados ou recursos renováveis.

Em plena transição para os chamados motores de "emissão zero", o IAA não será mais apenas sobre carros, mas se descreve como um "salão da mobilidade" e tem como foco a proteção climática.

Por isso, serão realizadas conferências e testes de direção de todos os tipos de veículos, desde scooters até limusines (elétricas), e mais de 70 marcas de bicicletas também serão apresentadas para tentar atrair novos públicos.

O novo Mégane E-Tech da Renault no International Motor Show (IAA) em Munique, Alemanha - Tobias Schwarz/AFP

Apesar de tudo, vários grupos de ativistas do clima, incluindo o Greenpeace, prometeram ações de protesto durante o evento. Esta feira é o típico "greenwashing" (propaganda ambiental enganosa), condenou um representante da associação ambiental BUND, Jens Hilgenberg.

Por outro lado, o grande desafio da eletrificação é agravado pela falta de componentes eletrônicos.

O ano começou de forma positiva para os industriais do setor, que recuperaram os lucros após um complicado ano de 2020 devido à Covid-19, que causou fechamentos de fábricas e perdas financeiras históricas.

Os 16 maiores grupos do mundo alcançaram um total de 71,5 bilhões de euros (US $ 85 bilhões) de lucro operacional no primeiro semestre de 2021, segundo análise do gabinete EY.

Mas o horizonte parece mais complicado agora: a escassez de componentes eletrônicos –consequência da recuperação da economia e da alta demanda por aparelhos eletrônicos– cria desordem nas cadeias produtivas e sobrecarrega o mercado.

Isso levou ao fechamento ou suspensão de fábricas ou linhas de produção de grandes fabricantes.

Como resultado, os preços de venda de veículos novos subiram 13,9% em agosto nos Estados Unidos, um aumento recorde, de acordo com analistas do JPMorgan.

"As montadoras poderiam vender mais veículos se não houvesse a crise dos semicondutores", estimou o analista alemão Ferdinand Dudenhöffer.

O impacto nos lucros poderia ser sentido no início de 2022, já que as vendas ainda estão longe dos níveis anteriores à crise.

A BMW espera que as cadeias de suprimentos continuem apertadas nos próximos seis a 12 meses, disse o presidente-executivo da companhia, Oliver Zipse. Ele –que, como outros executivos do setor, está lutando contra a queda na produção devido à falta de semicondutores– afirmou que não via problemas no longo prazo, acrescentando que a indústria automotiva era um cliente atraente para os fabricantes de chips.

Também no salão, a Daimler disse que não acredita que seus objetivos de longo prazo para veículos elétricos serão afetados por uma escassez de semicondutores.

"Também somos afetados pela crise do chip. Estamos estendendo os contratos de leasing para que possamos manter a mobilidade dos clientes", disse a conselheira Britta Seeger.

"Esperamos um certo nível de volatilidade pelo menos até o final do ano".

A Qualcomm, sediada nos EUA e maior fornecedora mundial de semicondutores para telefones celulares, anunciou que fornecerá um chip para o painel digital de um novo veículo elétrico da Renault. A empresa já havia anunciado no início deste ano acordo com a General Motors.

O Mégane E-TECH Electric deve estar à venda no próximo ano.

Por sua vez, o presidente-executivo da Volkswagen, Herbert Diess, disse que a maior montadora da Europa ainda tem muito trabalho para se tornar uma fabricante de software automotivo, um objetivo fundamental de sua estratégia para transformar a empresa.

A VW reuniu todos os seus esforços de software em uma unidade, a Cariad, na esperança de poder desafiar a Tesla e a Alphabet em um campo em que tradicionalmente não atua.

"Precisamos de mais cultura de software, não queremos criar outra entidade automotiva", disse Diess no salão.

O evento de Munique, bianual, é um dos principais encontros internacionais do setor que tenta ressurgir após uma decepcionante edição de 2019 em Frankfurt, a histórica cidade-sede, que colocou em dúvida sua própria existência.

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