Boom de pets na pandemia desafia retorno ao escritório

Exigência de licença para cuidar de animais é um passo grande demais para qualquer pata

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Pilita Clark
Financial Times

Um terço dos trabalhadores do Reino Unido consideraria tocar de emprego em vez de dividir o espaço de trabalho com um colega não vacinado, segundo uma pesquisa de opinião pública que saiu esta semana.

Mas e se você não gosta de bichos, é alérgico a eles ou rejeita o conceito de dividir seu espaço com criaturas que não são brilhantes na conversação, têm mau hálito e não são famosas pela disciplina sanitária?

Não admira que uma empresa britânica de serviços para animais de estimação tenha lançado o Petiquette, um serviço cujo objetivo é ajudar os empregadores a adotar regras que facilitem a presença de cachorros sem irritar demais as pessoas que prefeririam não tê-los por perto.

Francamente, não estou convencida de que uma empresa precise de assessoria sobre "estabelecer horários para alimentação e brincadeiras que não interrompam os outros". Mas a ideia é sensata, em termos gerais.

No entanto, enquanto lia as bobagens de relações públicas da Petiquette, percebi uma coisa: a Pets at Home, empresa que desenvolveu o serviço, também oferece aos seus empregados uma "licença-cãoternidade". Os empregados ganham um dia de folga quando adotam um novo animal de estimação, para ajudar a criatura a se acomodar.

Benefícios como esse não são novidade. A BrewDog, uma fabricante escocesa de cerveja artesanal, desde o começo de 2017 permite que seu pessoal tire uma semana de licença 100% remunerada se o empregado adotar um animal ou um cão de resgate.

Isso não impediu que dezenas de empregados da BrewDog assinassem uma carta aberta este ano na qual acusam a empresa de ter "uma cultura podre" e "atitudes tóxicas".

Empresas demais, especialmente nos Estados Unidos, não oferecem licença maternidade ou licença paternidade pagas.

Mas a ideia de licença cãoternidade decolou durante a pandemia, à medida que a posse de animais de estimação disparava.

Algumas semanas atrás, Roger Wade, presidente-executivo da Boxpark, uma empresa britânica de restaurantes "pop-up" e venda de alimentos, postou uma pesquisa numa rede social perguntando o que seus leitores achavam de um trabalhador que tinha lhe pedido licença cãoternidade para cuidar de um cachorro adotado.

Meu dedo hesitou sobre o teclado quando chegou a hora de votar. Quanto mais homens tiverem licença-paternidade, melhor. O enrosco surgido nos Estados Unidos este mês quando Pete Buttigieg, secretário federal do Transporte, tirou uma licença para cuidar de seus gêmeos recém-nascidos foi tão desagradável quanto previsível.

Também compreendo por que qualquer pessoa que tenha um cachorro novo queira uma licença, e por que pode fazer sentido que uma empresa ofereça grandes benefícios e, crucialmente, licenças-maternidade e paternidade generosas para seus empregados.

Mas um número excessivo de companhias não o faz, especialmente nos Estados Unidos, o único país rico que não garante licenças remuneradas para as pessoas que acabam de ter filhos. No final do ano passado, só 21% dos trabalhadores americanos tinham acesso a licenças remuneradas quando se tornam pais.

Foi pensando em estatísticas como essa que fiz como 61% dos respondentes da pesquisa e votei contra a concessão de uma "licença-cãoternidade" ao empregado de Wade. Em um mundo mais justo, concedê-la poderia ser razoável, mas por enquanto é um passo grande demais para qualquer pata.

Financial Times, tradução de Paulo Migliacci

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