Descrição de chapéu indústria

Brinquedo importado fica mais caro na pandemia e dá espaço à produção nacional

Com dólar alto, indústria brasileira avança sobre parcela de produtos chineses

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

As dificuldades para importar matérias-primas, que vêm afetando negativamente diversos setores da economia brasileira, acabou sendo um propulsor para a indústria nacional de brinquedos. Diante de prazos longos e fretes nas alturas, as fábricas locais conseguiram avançar sobre os importados e já respondem por quase três quartos do que chega ao comércio.

A queda nas importações neste ano, segundo a Abrinq (Associação dos Fabricantes de Brinquedos), chega a 49% na comparação com o período pré-pandemia.

Em fevereiro de 2020, quando a transmissão do coronavírus já causava mortes e problemas logísticos na Ásia, os brinquedos importados respondiam por 48% do mercado no Brasil. Hoje, essa parcela é de 27%. Os outros 73% são atendidos por fábricas nacionais.

Linha de montagem da Elka Plásticos em São Paulo - Eduardo Knapp-23.set.21/Folhapress

Synésio Batista, presidente da Abrinq, diz que o resultado veio de uma combinação de estratégias, mas também das dificuldades dos compradores em ter garantia de prazo e entrega, mesmo com os fretes marítimos em patamares elevados.

Os reajustes, em relação aos meses que antecederam o início da pandemia, passam de 200%. As rotas também estão mais longas, fazendo com que o intervalo entre a compra e a entrega aumente.

“Nossos 400 fabricantes brasileiros estavam preparados para atender esse mercado. Tínhamos capacidade ociosa", diz Synésio.

"Em 2020, apresentamos cerca de 1.375 produtos novos e serão 1.500, em 2021. Tivemos quase três brinquedos novos por dia. Não faltou brinquedo e não faltou conceito”.

A indústria nacional de brinquedos já cresceu, em 2021, 21%, segundo a Abrinq, e a participação de mercado avançou 12%. De cerca de 100 mil bonecas produzidas por dia, em 2019, as fábricas produzem hoje cerca de 200 mil.

“Este ano começou meio lusco-fusco. Em abril e maio havia certo desespero na indústria, com a pandemia que não acabava, os números [de casos e mortes] que não melhoravam.”

A partir de julho, porém, segundo o dirigente da entidade que representa as fábricas, os lojistas perceberam que havia chance de os produtos importados não chegarem a tempo de abastecer as lojas para o Dia das Crianças, celebrada em 12 de outubro, data importante para o segmento, e que responde por cerca de 40% das vendas anuais.

“Vendemos muito bem da fábrica para a loja. Se o mesmo comportamento se confirmar do varejo para o consumidor, teremos um crescimento de 14% e a indústria nacional terá um ótimo ano”, afirma Synésio.

Com a produção maior, foi possível diluir o impacto do custo maior de matéria-prima, como foi o caso da resina plástica, que chegou a ficar 170% mais cara.

Para o Dias da Crianças, não há mais tempo para novas compras, mesmo com as fábricas a todo vapor. Por mais uma semana os lojistas ainda poderão fechar os pedidos para o Natal.

​Os preços, segundo a previsão dos dirigentes, ainda estarão nos patamares do ano passado, graças a ganhos de produtividade e escala com o aumento das vendas.

Na rede varejista Armarinhos Fernando, a estratégia para manter preços competitivos passou pela antecipação de encomendas, volume de compras –são 16 lojas na Grande São Paulo e no interior paulista– e portifólio vasto.

"Vamos chegar, tanto para o Dia da Criança quanto para o Natal, com preços muito competitivos e opções de R$ 1,99 a R$ 900", diz Ondamar Ferreira, gerente da rede. O estoque para as duas datas já está formado, tanto de brinquedos quanto de decorações natalinas.

As compras de importados são feitas por meio de outros fornecedores. Com isso, a rede não precisa lidar diretamente com negociações de prazos e negociações envolvendo custos de fretes.

“Sabemos que estava havendo dificuldade muito grande com importação, por isso fizemos todas as compras com antecedência”, afirma. “Nunca deixamos para a última hora, justamente para termos condições de brigar por preço.”

Ondamar aposta que o hit entre os brinquedos deste ano serão os pop-it, dispositivos de bolhas de silicone que estão sendo comercializados em diversos formatos, como árvores e corações e até em capas para celular.

De janeiro a agosto deste ano, os preços de brinquedos avançaram 2,75%, segundo a inflação oficial calculada pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). No mesmo período, o índice geral subiu 5,67%.

“Para o lojista, algumas linhas estão chegando com correções, mas isso será quase imperceptível para o consumidor. A concorrência nos pontos de venda é também muito grande”, diz o presidente da presidente da Abrinq, Synésio Batista.

Segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) do Ministério da Economia, de janeiro a agosto deste ano foram importadas 68,2 mil toneladas de carrinhos de bebê, brinquedos, jogos e artigos esportivos, uma alta de 25,1% ante o mesmo período do ano passado. Foram US$ 348,48 milhões (cerca de R$ 1,8 bilhão), 36,4% mais que em 2020, no mesmo período.

A maior parte veio da China, que detém 79,5% das negociações, mas há compras também de países como Vietnã, Índia, Paquistão, Indonésia e Estados Unidos.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.