Economia dos EUA desacelera com força no 3º trimestre

Inflação corrói renda de americanos, que consomem menos, e cadeia de suprimentos ainda é um problema

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Washington e Nova York | The New York Times

A economia dos Estados Unidos cresceu em seu ritmo mais lento em mais de um ano no terceiro trimestre, com o agravamento das infecções por Covid-19 sobrecarregando ainda mais as cadeias de abastecimento globais e causando escassez de bens como automóveis, o que quase sufocou os gastos do consumidor.

A variante Delta do coronavírus agravou a escassez de mão de obra em fábricas, minas e portos, prejudicando a cadeia de suprimentos, e afetou o funcionamento de lojas e restaurantes.

O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2% em taxa anualizada no último trimestre, informou o Departamento do Comércio em sua estimativa preliminar do PIB nesta quinta-feira (28). Economistas consultados pela Reuters esperavam um crescimento de 2,7%.

Esse ritmo foi o mais lento desde o segundo trimestre de 2020, quando a economia sofreu uma contração histórica na esteira de medidas restritivas para conter a primeira onda de casos de coronavírus.

A economia cresceu a uma taxa de 6,7% no segundo trimestre.

Feira de trabalho em Manhattan, Nova York - Andrew Kelly - 03.set.2021/Reuters

A forte inflação, alimentada pela escassez em toda a economia e pelo auxílio financeiro do governo ao longo da crise de saúde pública, afetou o crescimento. A redução do estímulo fiscal e o furacão Ida, que devastou a produção de energia "offshore" dos EUA no final de agosto, também pesaram sobre a economia.

O investimento empresarial diminuiu.

Os gastos do consumidor, que respondem por mais de dois terços da atividade econômica dos EUA, subiram 1,6%, após um ritmo de crescimento robusto de 12% nos meses de abril a junho. Embora os automóveis sejam responsáveis por boa parte da estagnação, a variante Delta também reduziu os gastos em serviços como viagens aéreas e restaurantes.

Mas há sinais de que a atividade econômica acelerou com o fim do trimestre turbulento. A onda de infecções por Covid-19 do verão (do Hemisfério Norte) perdeu força, com uma queda significativa dos casos nas últimas semanas. As vacinações também aceleraram. A melhoria da situação da saúde pública nos EUA ajudou a elevar a confiança do consumidor neste mês.

Dados mais recentes sugerem que as pessoas voltaram a atividades presenciais à medida que os casos de vírus diminuíram, e a maioria dos economistas espera um crescimento significativamente mais rápido nos últimos três meses do ano.

Menos norte-americanos estão entrando com novos pedidos de auxílio-desemprego. Essa tendência de avanço nas condições do mercado de trabalho foi confirmada por um relatório separado do Departamento do Trabalho nesta quinta-feira (28) que mostrou que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego caíram em 10 mil, para 281 mil em dado ajustado sazonalmente na semana passada, o patamar mais baixo desde meados de março de 2020.

Esta é terceira semana seguida em que os registros permaneceram abaixo da marca de 300 mil. Economistas consultados pela Reuters previam 290 mil novos pedidos para a última semana.

Mas outra grande restrição ao crescimento poderá demorar mais para diminuir. A pandemia atingiu as cadeias de abastecimento em todo o mundo, mesmo com o aumento da demanda por muitos produtos. Os atrasos resultantes tornaram difícil para lojas e fábricas dos EUA obterem os produtos e as peças de que precisam. Economistas inicialmente esperavam que as interrupções fossem de curta duração, mas muitos agora preveem que os problemas durarão até o próximo ano.

Muitas empresas também estão lutando para encontrar trabalhadores suficientes para fabricar, vender e entregar produtos —outra escassez de oferta que está impedindo o crescimento por mais tempo do que os economistas esperavam.

"A economia não tem um problema de demanda", disse Ben Herzon, diretor-executivo da empresa de previsões IHS Markit. "Tem um problema de abastecimento."

Em alguns casos, esses problemas estão causando atrasos nas entregas, opções reduzidas e prateleiras vazias. Em outros casos, eles estão resultando em inflação. Os preços ao consumidor subiram 1,3% no terceiro trimestre, ligeiramente mais devagar que no trimestre anterior, mas ainda bem acima da taxa pré-pandêmica. Os preços subiram 4,3% em relação ao ano anterior.

Nas estatísticas do governo, aumentos de preços mais rápidos resultam em um crescimento mais lento ajustado pela inflação: os consumidores estão gastando a mesma quantia, mas recebendo menos em troca.

A combinação de inflação mais rápida e crescimento mais lento está causando dores de cabeça para o Federal Reserve, que indicou que espera retirar o apoio à economia no próximo mês. É também um problema político para o presidente Joe Biden, enquanto ele tenta levar sua agenda econômica de longo prazo ao Congresso.

Ainda assim, a economia está em muito melhor forma do que os analistas esperaram na maior parte do ano passado. O PIB voltou ao seu nível pré-pandêmico no segundo trimestre, embora não tenha alcançado onde estaria se a pandemia não tivesse ocorrido. A ajuda do governo, junto com a redução de gastos durante a pandemia, deixou os americanos com muito dinheiro, o que deverá sustentar os gastos pelo resto do ano.

"As interrupções na cadeia de suprimentos junto com a variante delta conspiraram para conter o crescimento", disse Constance L. Hunter, economista-chefe da firma de contabilidade KPMG. "É uma lombada, não uma desaceleração."

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