Empresa aérea Alitalia morre após 75 anos turbulentos; nasce a ITA

Governo italiano investirá 1,35 bilhão de euros em nova companhia

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Francesca Landini
Milão (Itália) | Reuters

A Alitalia, antigo símbolo do estilo e do glamour italianos derrubado pela má gestão econômica, operou seu último voo nesta quinta-feira (14), antes de se transformar em sua sucessora de menor porte, a Italia Transporto Aereo (ITA).

Preferência tradicional de papas e da elite política da Itália, a Alitalia foi dirigida por administradores nomeados pelo Estado desde 2017, para evitar sua liquidação.

Um voo noturno da capital da Sardenha, Cagliari, pousou em Roma por volta das 18:30 (horário de Brasília), marcando a despedida da companhia aérea fundada em 1946, depois de uma atordoante sucessão de reestruturações e mudanças de propriedade.

Avião da Alitalia em viagem do Papa Francisco - Remo Casilli - 4.set.2019/Reuters

A companhia fechou apenas um ano no azul neste século, e o governo italiano a socorreu diversas vezes, gastando mais de 8 bilhões de euros (R$ 51 bilhões) apenas nos últimos três anos.

Segundo a CNN Internacional, um dos motivos para o fim da companhia aérea é a popularização dos trens de alta velocidade na Itália.

O veículo mostra que, de acordo com a ferroviária estatal italiana Ferrovie dello Stato, o número de passageiros que pegam trem para realizar viagens de Roma para Milão, principal rota de negócios do país, quadruplicou em uma década. Hoje, mais de dois terços das pessoas que viajam entre as duas cidades utilizam o modal ferroviário.

Com foco em voos domésticos, a Alitalia estaria mais suscetível a competição com modalidades de transporte mais baratas disponíveis para trajetos locais.

Como ocorreu com frequência durante sua vida, os ritos finais da Alitalia foram cercados por disputa política, com o partido de oposição de extrema-direita Irmãos da Itália culpando o governo do primeiro-ministro Mario Draghi por sua falência.

"Hoje estamos perdendo mais uma joia, uma companhia que forjou a história de nossa nação e... nos deixou orgulhosos de ser italianos", disse a líder do partido, Giorgia Meloni.

Depois de tentar vender a Alitalia para investidores privados, em 2020 Roma se rendeu às consequências desastrosas da pandemia para o setor aeroviário e decidiu criar a ITA de suas cinzas.

A nova transportadora, em que o governo investirá 1,35 bilhão de euros (R$ 8,6 bilhões) em três anos, começará com 52 jatos e 2.800 funcionários, ante cerca de 110 aeronaves e uma força de trabalho de 10 mil na Alitalia.

Painel de voos no aeroporto de Fiumicino, em Roma, mostra o número AZ1586, do último voo da Alitalia - Remo Casilli - 14.out.2021/Reuters

Sob um acordo negociado com a Comissão Europeia, deve haver uma clara descontinuidade entre a Alitalia e sua sucessora, e a nova companhia deverá ser rentável até o final de seu plano de negócios 2021-2025.

No entanto, o legado da Alitalia de altos custos, má administração e forte influência política e sindical pode ser difícil de se livrar.

A nova transportadora está em negociações para comprar a marca Alitalia e deverá manter as cores tradicionais: verde, branco e vermelho.

A empresa chegou a um acordo com a antiga transportadora nacional para o uso temporário da marca nas aeronaves, uniformes de funcionários e demais identificações visuais. O acordo, que é pago, tem caráter provisório, enquanto a marca Alitalia segue à venda num processo de leilão público.

O uso, ainda que provisório, da marca, permitirá à ITA iniciar operações sem precisar gastar dinheiro com mudanças em aeronaves e outras peças.

O lançamento de uma companhia aérea mais ágil deixa um ponto de interrogação sobre o futuro dos mais de 7.000 trabalhadores da Alitalia que serão incluídos em um esquema de demissão temporária pago pelo governo até pelo menos setembro de 2022.

(Com Aeroin)

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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