Estou morrendo afogado, e Bolsonaro aparece e renova confiança, diz Guedes

Ministro faz discurso com recado à ala política ao dizer que muitos querem desviar presidente do caminho das reformas

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Brasília

Após a crise deflagrada entre a ala política e a equipe econômica nas discussões sobre gastos do governo, o ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou nesta segunda-feira (25) que sempre recebe a confiança do presidente Jair Bolsonaro quando está "morrendo afogado".

Em evento no Palácio do Planalto, o ministro também sugeriu um recado a membros da ala política ao afirmar que muitos querem desviar Bolsonaro do caminho das reformas.

Na última semana, Guedes foi derrotado em disputa com a ala política e cedeu ao autorizar uma manobra para driblar regras fiscais com o objetivo de bancar o Auxílio Brasil. A decisão levou a uma debandada de secretários da Economia e levantou suspeitas sobre eventual permanência de Guedes na pasta.

A declaração do ministro nesta segunda-feira revela que a crise entre as alas ainda não terminou, apesar de o ministério ter embarcado na solução de modificar o teto de gastos para agradar ao presidente e à ala política

Após o episódio da semana passada, Bolsonaro fez acenos de apoio a Guedes. No domingo, ele levou o titular da Economia para uma feira de pássaros em Brasília. A interlocutores, o presidente vinha se queixando de falta de sensibilidade social da equipe econômica.

"Eu queria agradecer pela confiança do presidente. É sempre assim, eu estou morrendo afogado, ele aparece, renova a confiança e nós continuamos nessa aliança de liberais e conservadores por um futuro melhor do nosso país", disse.

Dois homens idosos de terno
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em coletiva de imprensa no ministério, na última sexta (22) - Evaristo Sa/AFP

Também participavam da cerimônia os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil) e Flávia Arruda (Secretaria de Governo), membros da ala política.

Depois do evento, o ministro da Secretaria-Geral, Luiz Eduardo Ramos, também fez um gesto ao colega de Esplanada e publicou uma foto no Twitter ao lado de Guedes, a quem chamou de "amigo".

Na última semana, o ministro da Economia afirmou que a ala política do governo fez "pescaria" em busca de nomes para seu cargo e citou o ex-secretário do Tesouro Mansueto Almeida como um dos sondados.

Na ocasião, o ministro não citou nominalmente ninguém. Contudo, sabe-se que integram a ala política Nogueira, Flávia e João Roma (Cidadania) —todos parlamentares e defensores da solução para o Auxílio Brasil turbinado.

No evento desta segunda, novamente sem mencionar nomes, Guedes afirmou que muitos tentam tirar Bolsonaro do caminho das reformas.

"As pessoas perdem a bússola, perdem o rumo, […] se esquecem que temos um presidente popular e que apoia as reformas, embora muita gente em volta queira, às vezes, desviá-lo do caminho das reformas", disse.

O ministro voltou a falar que o governo pretende fazer um gasto adicional de pouco mais de R$ 30 bilhões em 2022 com a proposta que muda a forma de cálculo do teto de gastos —regra que limita o crescimento das despesas federais. A medida foi pensada para bancar o programa social substituto do Bolsa Família.

"Seja com pedido de extra-teto, seja com revisão do teto, não podemos disfarçar a verdade. A verdade é que vai ter um gasto um pouco maior, estamos falando de trinta e poucos bilhões", admitiu.

Guedes ainda afirmou que a arrecadação do governo federal segue batendo recordes. Segundo ele, as receitas, que estavam R$ 200 bilhões acima do previsto para este ano, agora já ultrapassam os R$ 300 bilhões.

Os dados da arrecadação de impostos de setembro serão oficializados pela Receita Federal nesta terça-feira (26).

​O titular da Economia também comentou declaração feita por Bolsonaro nesta segunda de que entrou no radar do governo ideia para privatização da Petrobras. Segundo ele, bastou o presidente fazer esse comentário para o valor de mercado da estatal subir mais de 6% nesta segunda.

"São 30, 40 anos de monopólio. E se daqui a 10, 20 anos o mundo migrar para energia elétrica, hidrogênio, energia nuclear, e o fóssil for abandonado? A Petrobras vai valer zero em 30 anos? E deixamos o petróleo lá embaixo com placa de monopólio estatal. O objetivo é tirar esse petróleo e transforma em educação e investimento", disse.

Na declaração desta segunda, em entrevista a uma rádio de Mato Grosso do Sul, Bolsonaro fez ressalvas à possibilidade de fazer o governo deixar o controle da estatal.

"Quando se fala em privatizar a Petrobras, isso entrou no nosso radar. Mas privatizar qualquer empresa não é como alguns pensam, pegar a empresa, colocar na prateleira e amanhã quem dá mais leva embora. É uma complicação enorme, ainda mais quando se fala em combustível", disse.

"Se você tirar do monopólio do estado e botar no monopólio de uma pessoa apenas, particular, fica a mesma coisa —ou talvez até pior", declarou.

Em entrevista à CNN Brasil, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), disse que o governo estuda enviar projeto de lei pela privatização da estatal, mas que o envio para o Congresso neste ano não é certo.

Em meados de outubro, em meio a críticas pela alta no preço do combustível, Bolsonaro afirmara ter "vontade" de privatizar a Petrobras.

As declarações de Guedes foram feitas durante lançamento do Programa Nacional de Crescimento Verde, no Palácio do Planalto. A cerimônia ocorreu a uma semana da COP-26, Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas.

Os anúncios são uma prévia do que o governo quer mostrar às lideranças internacionais em Glasgow. Segundo o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, o Brasil tem R$ 400 bilhões de investimentos verdes —mas apenas cerca de R$ 12 bilhões são recentes, via NDB (New Development Bank, banco dos BRICS).

"Temos um desafio de apresentar o Programa de Crescimento Verde na COP do clima. A solução para o desafio para o acordo do clima é inovação. A transição para essa nova economia verde", disse Leite.

O programa apresenta diretrizes amplas e não entra em detalhes e metas. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o programa "contará com recursos nacionais e internacionais, públicos ou privados, reembolsáveis e não reembolsáveis, fundos de impacto e investimentos de risco na aceleração de projetos e iniciativas sustentáveis".

Dois homens de terno, um olha para baixo e o outro olha para o outro homem
Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, em cerimônia sobre o Programa do Crescimento Verde, no Palácio do Planalto, em Brasília - Adriano Machado/Reuters

Dentre os decretos assinados por Bolsonaro, há a criação do plano de crescimento verde que tem sete objetivos, dentre eles reduzir as emissões de gases do efeito estufa, como transição para economia de baixo carbono.

O decreto também prevê estimular a geração de "empregos verdes" e a preservação de florestas e proteção da biodiversidade.

Esta é a primeira vez que o governo Bolsonaro busca apresentar um plano estruturado para a comunidade internacional sobre meio ambiente.

O presidente tem sido cobrado, em especial por países europeus e pelos Estados Unidos de Joe Biden, a apresentar uma política ambiental com resultados.

Bolsonaro investiu, nos últimos dois anos, em operações militares para combater o desmatamento na Amazônia. O resultado, no primeiro ano, em 2020, foi tímido.

Nos últimos três meses, foi registrado no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), uma redução dos focos de queimadas, mas os patamares continuam altos.

Outra mudança anunciada nesta segunda-feira transforma o Comitê Interministerial sobre a Mudança do Clima em Comitê Interministerial sobre a Mudança do Clima e Crescimento Verde.

O governo incluiu também o ministro de Trabalho e Previdência e da Secretaria de Governo como membros. Estabelece ainda que possam participar do colegiado representantes dos estados, municípios e do DF.

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